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                  Mario
                  Cezar 
   
            De mapas e alaridos
 
 meus olhos queriam cutucar
 os confins do mundo.
 não tinha cabimento continuar
 esfolando os pés no beco do urso.
 Nos ricos sobrados da rua central
 meu aboio era esfaqueado a olho
 nu.
 
 O sonho virava molambo na mão
 dos opressores.
 Queria partir. estraçalhar a
 indigestão das lágrimas. Receber
 o assopro de plantações distantes.
 Na pequena Icó não cabia o
 amanhecido perfume da cacimba,
 o vôo da rolinha fogopagô, a
 infância das hortelãs, o sereno
 da noite.
 
 No dia 15 de março do ano noventa
 sai de casa com uma mala de pregos
 retorcidos. Continha quatro calças
 remendadas, um livro de Dostoievski
 e uma banda rapadura preta pisada
 com farinha caruçuda.
 
 Duce e Dalva apareceram vestidas de
 carmim, vistoso na beira do coração.
 Quando o ônibus partiu, mastiguei
 um longo vento amargo diante das
 lágrimas de mãe que lentamente
 se esfacelaram no cimento sujo da
 rodoviária.
 
 
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