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Rita Cruz

poetike@gmail.com

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:

Série de Sambas (inspirada em Vinícius de Moraes) 

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Correspondências: 


Alguma notícia da autora:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ticiano, Salomé

 

Bernini_The_Rape_of_Proserpina_detail

 

 

 

 

 

 

 

 

Rubens, Julgamento de Paris

 

 

 

 

 

Rita Cruz



Autobiografia


“Quando eu nasci, nenhum anjo torto, muito menos desses que vivem em meio à sombra, me disse: Rita, vai ser gauche vida! Quando eu nasci, nenhum anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou: Rita vai carregar bandeira (cargo – dizem - muito pesado para mulher, esta espécie ainda envergonhada).

Fui eu quem disse aos céus: que esta vida seja única – intensa e verdadeira – e que o meu destino seja feito de palavras. Todas elas.”

Mulher, estudante de letras, nascida em São Paulo.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Theodore Chasseriau, França, 1853, The Tepidarium

 

 

 

 

 

Rita Cruz



A hora calma do amor


A hora calma do amor
é um movimento involuntário
em direção a você.

É quando eu sei
que dois segundos depois de te encontrar,
me perderei.

E eu já perdi meu coração (e tudo o que existe nele)
que se recusa a bater por qualquer outra coisa
que não tenha seu reflexo, a sua forma.

Ah, mas eu conheço essa hora!
É o doido fuso horário do mundo
tocando os sinos de todas catedrais ao mesmo tempo
só para anunciar sua chegada.

A hora calma do amor
é um milésimo de segundo depois do furacão
(que é você) passar pela minha janela.

Ah, essa hora... Como eu a conheço!
e espero todos os dias, pontualmente,
pela impontualidade do amor.
 

 

 

 

Crepúsculo, William Bouguereau (French, 1825-1905)

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José Aloise Bahia

 

 

 

 

 

 

 

 

Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

 

 

 

 

 

Rita Cruz



A mão e o destino


A mão que corta meu destino
não acena mais.

Depois de muitos invernos
escondida nessas luvas de saudade,
expirou.

Nem adeus, nem até mais.
Acabou-se num córtex
largo e profundo,
tentando entender sua missão
mas esta, escapou-lhe.

E mais uma vez
meu coração bateu naquela mão.

Sem dor. Sem lamento.
Apenas inter-FERINDO.
 

 

 

 

Leonardo da Vinci,  Study of hands

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Wanderlino Arruda

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Rita Cruz



Reticências


A voz embargada
e o coração cheio de reticências.
O olhar perdido nas últimas horas
e o desejo de ficar um pouco mais.

A escolha das palavras...
a melhor hora para dizer
e uma dor doída
no peito de quem precisa partir.

O destino cumprindo seu papel:
É um que vai e o outro que fica.

Não se sabe de dor maior

É o coração que voa
e alcança todas as capitais desse mundo,
sem sair do lugar.
 

 

 

 

Ticiano, Magdalena

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Willis Santiago Guerra

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Rita Cruz



Aula de literatura portuguesa


Aula de literatura portuguesa
e o meu coração além-mar.
Camões e suas cartas
e eu querendo apenas te dizer que ainda é cedo.

Ah, Imandada da Índia,
quanta notícia tu tens!
E eu aqui sem saber da vida dele
querendo apenas ser
a primeira e última hora de seu dia.

Mas que besteira...
Presta a atenção na aula!
E vê se aprende a dominar
os desejos do seu coração
 

 

 

 

Franz Xavier Winterhalter, retrato de Roza Potocka

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Wladimir Saldanha

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904) - Phryne before the Areopagus

 

 

 

 

 

Rita Cruz



Notícias


Deu no jornal:
o mundo está em crise
e a crise do meu coração que não passa
desde a Mesopotâmia...

Uma semana com crise. A outra também.
E você no epicentro dos meus problemas!

O que recomendam os economistas para esse caso?

Adquirir-te?

Hum, não sei...
Você me parece ser um investimento de alto nível
E além do mais,
o tudo que eu tenho é pouco e pequeno
e sem valor, perto de você.

Sua cotação já bateu “mil noites sem dormir”
e o seu preço me custa o tudo de mim

Ah, se essa crise passasse
Eu poderia comprar algumas ações
e poderia vender algumas ações
da minha bolsa de valores
corrompidos pela traça

Deu no jornal:
o mundo está em crise
e é só o meu coração,
desde a mesopotâmia,
acreditando que vai passar
 

 

 

 

Albrecht Dürer, Head of an apostle looking upward

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Alexandre Fortel

 

 

 

 

 

 

 

 

Winterhalter Franz Xavier, Alemanha, Florinda

 

 

 

 

 

Rita Cruz



A vez do mar


É a vez do mar,
eu sei.
Já recolhi minhas redes
cansadas do vai-e-vem
que começa e termina
dentro desse pobre pescador.

É a hora do barco voltar para a margem,
para margem estreita do meu coração
e esperar que o rio do esquecimento
passe também por aqui,
embaixo da minha janela.
Levando as traças violentas
que corroem esses molinetes
que já não pescam mais.

É a vez do mar,
eu sei.
O cansaço e as marcas do sol
que desenharam o meu rosto
anunciam a volta pra casa
que fica em algum lugar
perto desses mil-rios que deságuam
onde ninguém pode se banhar.
 

 

 

 

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16.10.2006