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Rita Cruz


 

Ela era minha amiga (!?)


Ela era minha amiga
deste então e sempre.
Com sua inteligência finíssima
e uma alma que convinha

Um dia,
em meio aos desejos obscuros dos seres humanos,
ela renegou nossas juras de amizade
e disse ADEUS.

Levou consigo meu tesouro
que um minuto depois de ser meu
já estava em suas mãos.

Foi tudo muito rápido
e parece que estou ouvindo sua risada até agora

Amiga da sabedoria.
Amiga da onça.

Negou nossas juras de amizade
e disse Adeus...
... e a Deus pertence a vingança!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Rita Cruz


 

Foi assim


Era uma hora calma,
daquelas em que o coração
nos dá uma trégua .

Meus olhos te encontraram
e eu fiquei embriagada
com a única imagem que
nunca saiu da minha televisão

E nenhuma palavra foi dita
e nenhuma palavra foi necessária.
Era o silêncio do começo e fim da minha vida.

Depois daquele dia
nunca mais eu me pertenci
e todas as minhas horas foram para você.

Todos os amores experimentados
tiveram o seu gosto,
e em todas as vezes que eu chorei,
minhas lágrimas te procuraram.

Era por você.
Sempre e nunca!

O primeiro e último pensamento do dia
misturados com o tudo da minha vida.

E nas horas de solidão
era sempre o seu nome que eu chamava,
mesmo quando as quatro letras
se transformavam em cinco, seis
ou em um alfabeto inteiro de espera,
enganos e desenganos.

Mas o meu caminho
nunca mais foi o seu.
E nunca mais olhamos na mesma direção.

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), The Grief of the Pasha

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Riviere Briton, 1840-1920, UK, Una e o leão

 

 

 

 

 

Rita Cruz


 

Sou mulher


Eu sou mulher,
sou sim!
Ora amarga,
ora doce,
mas sempre na medida exata
da minha feminilidade.

Sou mulher,
sou sim! (e não me peça pra não ser)
Ora mato,
ora morro,
mas sempre na medida exata
da minha eternidade.

Ah, sim,
sou mulher (até gostaria de não ser)
Ora bicho,
ora gente,
mas sempre na medida exata
da minha existência.

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Slave market

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Jamesson Buarque

 

 

 

 

 

 

 

 

Thomas Cole (1801-1848), The Voyage of Life: Youth

 

 

 

 

 

Rita Cruz


 

Inexistente


Eu te conheço,
ignóbil e vil
E se eu pudesse
jamais te dirigiria uma linha sequer
dos meus versos.

Eu sei quem és,
insano e demente
E se eu conseguisse
Jamais te dirigiria um minuto sequer
do meu pensamento.

Mas de grande,
esse coração já se acostumou
a pulsar espasmos de saudade
e a escrever nessas linhas tortas
a história da minha vida.

Não espero te alcançar
nem com as mãos,
nem com as palavras.
(és pequeno d-emai-s)

Mas deito e durmo,
entorpecida com os sons que reproduzem
esse anti-herói que é você.

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Cleópatra ante César

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Goya, Antonia Zarate, detalhe

 

 

 

 

 

Rita Cruz


 

Insensatez


Insensato ato
que acato em te procurar.
Esquinas, tubaínas
mesa de bar.

Insensato contato
que reato em te encontrar.
Palavras duras
penar.

Coração disparado,
braços fechados,
sonhos acabados!

Destrato, maltrato,
Ingrato!

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), The Pipelighter

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Fernando Alves Sales

 

 

 

 

 

 

 

 

Goya, Maja Desnuda

 

 

 

 

 

Rita Cruz


 

Amores vãos


Não conheci nenhum dos meus amores
nem eles a mim.
Tão pouco dei a eles
algo que tivesse valor.

No entanto, deixaram em mim
Tesouros que não se podem contar.
Tal qual desconhecidos que se vão,
batiam na porta,
deixavam seus pertences,
e nunca mais chamavam meu nome,
Nem eu os deles.

Nunca deixei que tocassem minha alma.
Mas fiz questão de ao menos uma vez
tocar com minhas mãos perdidas
as almas que acompanhavam
aqueles corpos sedentos.

Não compartilhei nenhum dos meus sonhos,
nem soube entender os sonhos dos amores que tive.
E por isso mesmo nossas convicções
nunca se abraçaram.
E eu os perdi sem nunca tê-los tido,
e eles a mim.

E na sombra triste e gelada
dos outonos cíclicos
que chegam mais uma vez e sempre
vejo acontecer o encontro
de mim comigo mesma
dos sonhos com os meus
das horas com as minhas
e descanso a certeza
de que nasci para ser só.

 

 

 

Bernini_Bacchanal_A_Faun_Teased_by_Children

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Gilberto Mendonça Teles

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Bathsheba

 

 

 

 

 

Rita Cruz


 

Derrota


Não posso te derrotar
nem com o braço,
nem com a língua.

És grande, és forte
Imbatível.

Devorou o todo de mim
E me pôs prisioneira.

Não posso sequer te atingir
nem com a faca
nem com a unha

És largo, és profundo
Imensurável

O tudo do mundo,
do meu mundo que
ainda não se acostumou
com o seu tamanho dentro do meu coração.

 

 

 

Bernini, Apollo and Dafne, detail

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Rodrigo Magalhães, 12.2.2005

 

 

 

 

 

 

 

 

Entardecer, foto de Marcus Prado

 

 

 

 

 

Rita Cruz


 

Palavras-zero


Nenhuma linha.
é o número exato da minha inspiração.
Silencio de alma cansada
E aderência ao mais novo programa da minha vida:
Palavras-zero.

 

 

 

Titian, Noli me tangere

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07/11/2005