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Rodrigo Magalhães

Titian, Venus with Organist and Cupid

Poesia :


Ensaio, crítica, resenha & comentário:


Fortuna Crítica:

 

Rodrigo Magalhães

 

 

 

 

 

 

 

Da Vinci, La Scapigliata, detail

Rodrigo Magalhães


 

Comentário sobre Estudos & Catálogos - Mãos:

 

 

Rodrigo Magalhães

 

"Saiba que os poetas como os cegos podem ver na escuridão", era o verso que, na canção Choro Bandido, dava uma voz de sentença a quem cantava. E, do mesmo modo, eles, os poetas, continuam: tateando e achando na escuridão. O Coronel Feitosa sempre foi um cego de bom faro nos dedos. Pega o livro, abre-o pelo peso da mão e, numa viagem ligeira, eis o verso laureado. Assim, pelas mãos, ele mesmo diz, encontrou os ouros de Virgílio. E ele, de novo, confirma, pelas mãos, a poética do nosso canône.

Pelas mãos - habito agora apenas esta minha mão; sou apenas esta mão - o coronel Feitosa já vinha enxergando o mundo. PelasLeonardo da Vinci,  Study of hands mãos, ele já vinha lendo a casa, os veludos e as superfícies dos homens. E agora, pelas mãos, o enlace dos que se foram e dos que ainda não chegaram. A mão de Castro Alves sob o peso da mão dos novos condores. A mão de Shakespeare, a mão de Flaubert, a mão de Machado - todas, pesando sob e sobre. Espremidas, as mãos? Encostadas, num encaixe leve. Que eles, os antigos, só querem transmitir; que nós, gratos, não queremos esmagá-los. 

No mais, um texto para a queda do apartheid das escolas. Parnasianos, simbolistas, modernos, em um agrupamento pralém das razões excludentes, pralém dos sistemas de Lineu. O novo critério de divisão não divide, sobrepõe.

O critério do coronel nos colocou lado a lado. De mãos dadas.

Abraços,

Rodrigo Magalhães.

Da Vinci, La Scapigliata, detail

 

 

 

 

 

 

 

Rodrigo Marques
edcururu@uol.com.br


 

LITERATURA CEARENSE


Miudezas de beltrano

O Povo, Fortaleza, Ceará, Brasil

De onde vem esse desejo de juntar palavras de tão longe e transformá-las em poesia? Poemas de pura calmaria ou para sacudir a alma e dizer-se viva num mundo de pura confusão

Rodrigo Marques
Especial para O POVO


[15 de abril de 2005]

Beltrano se aposentou. Tantos anos no anonimato que resolveu sair da massa de Fulanos e Sicranos. Assinou seu legado com nome falso e deixou por aí. Falo do mais recente livro de Rodrigo Magalhães, O Legado de Beltrano, editado pela editora carioca 7 Letras, que tornou público o espólio do mais famoso desconhecido. Seu livro é o nono da ‘‘Coleção Guizos’’, coleção que já publicou um outro autor da terra, Diego Vinhas, com Primeiro as coisas morrem (7 letras:2004).

Magalhães achou o baú dos Beltranos numa caixa de palavras, como um pirata que encontra um tesouro enterrado por ele mesmo. E afinal de contas quem não é anônimo nessas ruas e cidades, ou, vistos de cima, nas estatísticas e nos satélites? Quem é Beltrano? Quem é Rodrigo e seu livro no meio de tantos livros? O título já encerra ironia, estranhamento e humor, notas que perpassarão o conjunto de poemas que vem divido em três partes: ‘‘Breve catálogo das miudezas de Beltrano’’ ; ‘‘Carta sobre o achamento das cousas de Fulana’’ e ‘‘Fragmentos do Monólogo ao Pai’’.

No primeiro bloco, Beltrano arrola o cotidiano como item principal do seu espólio magnífico. Rodrigo Magalhães abre sua travessia com uma notícia de jornal, a que ele chamou ‘‘Notícia do Poema’’, em seguida, na mesma página, troca as palavras, o suficiente também para trocar a trajetória do texto: ‘‘Poema da Notícia’’. O quiasma pontua a mudança da linearidade cartesiana para a visão múltipla e ritmada do poeta que, com pandeiro, bumbo e poesia, reescreve o cotidiano, tal qual fez Manuel Bandeira em seu ‘‘Poema tirado de uma notícia de jornal’’. E assim, reconstruindo poeticamente seu próprio espólio, o anônimo Beltrano vai modificando o mundo com seu olhar, como um louco que acha que é dono de tudo: das músicas, dos cinemas, dos jornais, dos nomes, de Jericoacoara, da placa de formandos, do teatro, das enciclopédias, de Nietzsche, dos túmulos, do sem-fim.

Em ‘‘Carta sobre o achamento das cousas de Fulana’’, segunda parte do livro, surgirá um novo personagem não menos (des)conhecido: Fulana, amante-passageira de Beltrano, a mesma do poema ’’O mito’’, de Carlos Drummond de Andrade. Fulana é mulher, mito e nada mais. Pousa para Beltrano escrever a segunda parte de suas memórias, transa com Beltrano e não pede troco.

Neste ponto da obra, Rodrigo amplia sua intensidade lírica, o que às vezes lhe faz perder o ponto da poesia ao tratar de um assunto tão delicado aos poetas, como nestes versos de ‘‘Relatividade’’ (Agora,/ sem relógio na cama,/ o tempo é, simultaneamente, o lábio noutro lábio/ úmido, o dedo no escuro, úmido,/ e a primeira gota de um tempo úmido na vidraça). Porém, este desprendimento consegue deixá-lo bem à vontade para arriscar e brincar com a intertextualidade (Vinícius de Morais, Carlos Drummond, João Cabral, Manuel Bandeira, poetas bíblicos, Nietzsche e outros); com a intercontextualidade (o cinema, a música e o teatro, contextos diferentes do literário, convivendo harmoniosamente) e com a alusão (Chico Buarque surge inteiro no poema ‘‘Esquizofrenia’’); recursos transtextuais que só enriquecem o livro de Magalhães.

Interessante observar o experimento do poema ‘‘Feromônio’’, que tem duas versões: a versão original, só de palavras; e uma outra, poema-roteiro, pronta para ser filmada em película cinematográfica. A criatividade desse processo amplia ainda mais o diálogo semiótico apontado acima, além de o poeta refletir sobre a própria produção (metalinguagem e intratextualidade).

Fora desses recursos, o poeta sabe manejar os resíduos mais distantes de nossa poesia, como o paralelismo de ‘‘Dos nossos semelhantes e suas respectivas geografias’’, técnica provençal, trovadoresca - que repete a mesma idéia a cada estrofe com pequenas alterações; sem falar das inúmeras didascálias que informam o livro (títulos de poema e os próprios rótulos que dividem o legado).

Por fim, a última seção, ‘‘Fragmentos do monólogo ao Pai’’. Aqui, Beltrano quase revela o verdadeiro nome: Adão, Humanidade ou Legião? O anônimo escreve uma carta aberta, justificando as epígrafes que vinha deixando no caminho, como João, Maria e suas migalhinhas.

Beltrano parece se despedir do século XX, deixando para trás um cheiro de pólvora e passado... Beltrano e seu licenciado viajaram. E o leitor achará o caminho de casa?

Errata: o último poema do livro não é os fragmentos do monólogo, mas sim a ‘‘Errata’’, poema-correção, que interfere na subida dos peixes ao bulir com os significantes das palavras ‘‘pirapora’’ e ‘‘piracema’’. Vale a pena conferir e ler.

[Rodrigo Marques é poeta e mestrando em Literatura brasileira]

SERVIÇO
Legado de Beltrano, livro de poesia de Rodrigo Magalhães. Editora 7 Letras. 72 pg. R$ 15. Pedidos pela internet: www.7letras.com.br

Página inicial de Rodrigo Marques

 

 

 

 

 

 

 

Rodrigo Magalhães


 

Comentário sobre Da caixa postal aos corrós de açude...:


 

De: Rodrigo Magalhães [rgmagalhaes@hotmail.com]
Enviada em: sexta-feira, 30 de abril de 2004 20:33
Para: soaresfeitosa@uol.com.br
Assunto: O Ascendino Leite

Poussin, The Empire of Flora

E o Ascendino teve tempo pelo menos para se conter nos olhos? Colocaram o dedo na emoção dele, fizeram a celebração. Eu me debrucei sobre cada palavra, mas algumas, justas, levaram-me para um narrativa que, mesmo não vivida, guardarei como coisa minha:
 

E, para fazer aparelho igual, rádio, a gente botava besouros mangangás dentro de uma caixa de fósforos, uma imprudência, no bolso, os bichos roncando bonito, grosso e macio. Dizíamos que eram notícias da guerra, do rádio da casa paroquial, em ondas-curtas, em espiquíngles, que ninguém entendia, nem o padre. Mas para quê?! Era bonito!
 

Abraço grande,
 

Rodrigo.
 

 

 

 

 

 

 

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