Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

Virgílio Maia 

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Livros em inteiro teor

 

Poesia


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia do autor:

 

Virgílio Maia

Virgílio Maia [2003],
foto de Antônio Carlos de Martins Mello

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Leonardo da Vinci,  Study of hands

 

Albrecht Dürer, Mãos

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), The Picador

 

 

 

 

 

Virgílio Maia


 

Alvenaria


Sobre pedras se eleva este soneto,
em trabalhosa faina alevantado,
as linhas definidas no traçado
da perfeição do prumo e nível reto.


Dentre tantos eleito, põe-se ereto
rima por rima, embora recatado;
ao martelar do metro faz-se alado,
opondo ao som a luz deste quarteto.


Sobre andaime de verso e de ciência
necessário a erguer prova tão dura,
deixa o pedreiro, alçado, o rés-do-chão.


E sobranceiro ao mundo, àquela altura,
Vai concluir, com brava paciência,
A obra em que balança o coração.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Entardecer, foto de Marcus Prado

 

 

 

 

 

Virgílio Maia


 

A senha
         de uma antiga balada cretense


Amada minha, trago estes limões
neste lenço de seda do Oriente.
Foi tudo o que obtive estando ausente
em tantos anos de navegações.


Trago-te a mim, te entrego os corações
que flechados e azuis tenho nos braços.
Quero agora guiar-me por teus passos
e no teu corpo haurir loucas lições.


Abre a porta, não vês que sou eu mesmo?
Sei que o tempo passou enquanto a esmo
doido amante dos mares perlustrei-os.


Sou eu, só eu. Abre esta porta, peço,
pois quem mais saberá deste endereço,
daquele sinalzinho entre os teus seios?
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Goya, Antonia Zarate, detalhe

 

 

 

 

Virgílio Maia


 

Sobre aquela litogravura de Edward Munch


Desmesuradamente anoitecia
sobre as léguas de fogo do poente.
O pôr-do-sol que ao cosmo consumia
assaltava também a minha mente.


Tomado então pela agorafobia,
vasta amplidão vazia de repente
me assombrava se inapelavelmente
se sobrepunha a noite à luz do dia.


Em mental torvelinho me imergi
pasmo de espaços e de espaços mudo,
tentando não ouvir o que ouvi:


telúrico bramir pelo infinito.
Rugir da terra avassalando tudo.
O Grito enorme, tão enorme Grito.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Thomas Cole (1801-1848), The Voyage of Life: Youth

 

 

 

 

Virgílio Maia


 

Fotos


Deste antigo retrato, com firmeza,
meu avô me interroga bem de perto,
com aquela usual branda aspereza
que criança, me punha em desconcerto.


Na lapela, uma flor, que ele por certo
deixou emurchecida sobre a mesa
e do alto colarinho o branco aperto
incomodava-o um pouco, com certeza.


Tendo ao lado meu pai, que é filho seu,
certamente renovam velhos planos
de terra e gado, açudes e destino.


No fervor de seus vinte e tantos anos,
miram-me, mais novos do que eu,
e assim mesmo, para eles sou menino.
 

 

 

 

 

 

18.11.2004