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            Natércia Campos 
   
            O forte timbre de Virgílio Maia
 
 
  12/09/2004
 
 
 Timbre é um livro 
            nobre, insígnia da poderosa força de um poeta a marcar-nos com seu 
            ferro e sinal. Afirma Virgílio Maia 
            que latente no homem existe a velha vontade de deixar escrito. O 
            poeta além de deixar escrito faz jorrar dentro de nossa alma a 
            torrente da oralidade. Ecoam vindo do mundo mítico de seus poemas 
            vozes de antanho, aboios dos encourados do sertão-velho, bralhar de 
            animais de montada, alaridos de invasores tiranos, balbucios de umas 
            primeiras gestas barbatãs, o estilhaçar das fagulhas das labaredas e 
            sóis, balidos tristonhos, o caminhar sereno e fragoroso de todas as 
            águas, os chocalhos de Alcáçovas, os gemidos dos carros-de-bois, 
            embalo de redes e ninhos, assobios agudos, epigramas, endechas e 
            elegias... cantadas pela voz dos sinos, flauta dos ventos 
            domingueiros nas palhas dos canaviais. Embalamo-nos pois, 
            nesses poemas do acalanto de vozes e sons vindos do tempo velho em 
            que o sertão foi mar. Timbre traz-nos um 
            mundo já impreciso, esbatido, silencioso, quase fábula. Ele nos 
            chega clássico pela nobreza de suas palavras, imagens de seus 
            pastoreios, tropéis, suas casas protegidas por paliçadas-muralhas e 
            baldrames de madeira-de-lei, seus bichos de pena e casco, seus 
            oleiros e seus cantadores e taumaturgos a palmilharem ínvias 
            veredas, carrascal e caminhos em cruz. Sua sonoridade 
            traz-nos um zumbido que o tempo faz soar. Livro que nos 
            ilumina os sentidos pela força do poeta-trovador Virgílio Maia, a 
            nos fazer percorrer os antigos caminhos dos sertões-de-dentro que a 
            tantos avassala a alma.
 
                
      
       
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