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Jorge Medauar

Uruçara, SP, 15.04.1918 - São Paulo, SP, 03.06.2003

Poussin, Venus Presenting  Arms to Aeneas

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia do autor:

 

 

Culpa

 

Michelangelo, Pietá

 

 

 

 

 

Poussin, The Nurture of Bacchus

 

 

 

 

 

Jorge Medauar


 

 

14.06.2003

 

O poeta e contista Jorge (Emílio) Medauar nasceu a 15 de abril de 1918, em Água Preta do Mocambo, sede do então distrito de Ilhéus, hoje cidade e município de Uruçuca. Descende de pais sírio-libaneses, que chegaram ao sul da Bahia em busca de melhores condições de vida, atraídos pelo cultivo do cacau.
  
Ainda menino, e depois de passagens por Ilhéus e Canavieiras, Medauar mudou-se com a família para São Paulo, primeiro São Simão, depois a capital, onde completou o curso secundário. Datam dessa época suas primeiras leituras e a inclinação para as letras. Exerceu empregos humildes e jamais perdeu ao longo da vida o elo de comunhão com a gente simples, sobretudo de sua terra, que transpôs para os seus contos.
  
Pensando em cursar Direito ou Medicina, transferiu-se para o Rio de Janeiro, mas não chegou a iniciar estudos superiores. O jornalismo e a literatura seduziram-no, dando-lhe, como profissional e autodidata, um conhecimento e erudição invejáveis. Sua atividade jornalística e como publicitário levou-o a conhecer escritores famosos, dos quais foi amigo, como Manuel Bandeira, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Adonias Filho, Álvaro Moreyra, Astrojildo Pereira, Dinah Silveira de Queiroz. Colaborou na revista Literatura, como secretário de redação, e fez parte do grupo de intelectuais de esquerda.
  
A estréia literária de Jorge Medauar deu-se em 1945, pela Editora José Olympio, com o volume de poemas Chuva sobre a Tua Semente. É por isso incluído na chamada “geração de 45” e, durante anos, destacou-se como poeta, tendo travado um duelo em versos com Manuel Bandeira.
  
Publicou ainda os poemas de Morada de Paz (1949), Prelúdios, Noturnos e Temas de Amor (1954) e Às Estrelas e aos Bichos (1956). Seu êxito maior viria, no entanto, a partir de 1958, com o livro de contos Água Preta, a que se seguiram A Procissão e os Porcos (1960) e O Incêndio (1963), formando uma trilogia recebida com alto apreço pela crítica. Pontificou como um dos maiores contistas da época até o final da década de 70. Escreveu ainda Histórias de Menino (1961) e O Visgo da Terra (1996), este, um romance urdido com os seus contos sobre Água Preta e Ilhéus. Participa de várias antologias nacionais e internacionais e, ultimamente, dedicava-se à literatura infanto-juvenil.
  
Antes de morrer, no último dia 03, ficou internado por várias semanas na UTI do Hospital Oswaldo Cruz, São Paulo, vítima de um câncer no cérebro. Em abril último completou 85 anos. Jorge Medauar foi cremado em São Paulo. Deixa viúva a ilheense Odette, de quem teve dois filhos, Maria Mathilde e Jorge Medauar Júnior, todos residentes em São Paulo e que lhe deram netos. Pertenceu à Academia de Letras do Brasil, com sede em Brasília, e à Academia de Letras de Ilhéus (Da Redação).


 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Rinaldo e Armida

 

 

 

 

 

Jorge Medauar


 

 

a POESIA DE SOARES FEITOSA

 

 

Consagrado por nomes ilustres da nossa vida literária, não será minha opinião nenhum acréscimo nesse seu acervo crítico. De qualquer forma, sinto que preciso dizer-lhe que seu poema é, verdadeiramente, inusitado, não apenas por você enfrentar o tema de peito aberto como pela sua criatividade artística na composição de cada um dos poemas. 

Digo de você o mesmo que o xará Amado disse, e ainda o mesmo o que disse Hélio e Millôr. Olhe: seu verso é mesmo que aquela espada polida que lampeja como relâmpago. Vou mais longe para afirmar que você como vive em estado permanente de poesia desabrida, arrombada pela sua visão diferente, vendo o que os olhos nem sempre vêem — ainda assim os olhos de nós outros, pobres viventes cegos nesta escuridão de mundo. Não sei se Gerardo chegou a pastar nos seus campos semeados de poesia.  

Iria-se saciar com suas descobertas, seu sotaque traquinas, mas sempre no caminho do iluminado, das estrelas, da lua e do sol. Cego Aderaldo no seu canto vê melhor do que nós. É um cego de ver. Sol dos olhos.

Mas voltando a você, é como se uma praia se abrisse em nossa frente, cheia de búzios, conchas, hipocampos, salsugem, areia fina, arengueira, daquelas que cantam aos nossos pés... Foi muito bom receber seu livro, melhor ainda passear com você nessa serenata de tanto luar poético. E as suas ilustrações nos dizem que somos da mesma família. Meu mestre Soares Feitosa, fabricante de poemas, criador de pássaros que contam, que anunciam a vida. Jorge de Lima, Jorge Luís Borges caminham lado a lado de você, e eu vou atrás assobiando a minha admiração por você que sabem onde mora a beleza do mundo. Estou voltando aos poemas, para lavar a alma de tanta borra suja. 


Brigado
. Medauar. 

 

 

Um esboço de Da Vinci

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Vicente Franz Cecim

 

 

 

 

 

Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

 

 

 

 

 

Jorge Medauar


 

Meu Neto


Ergo-te em meus cansados braços,
que tanto labutaram nesta vida.
e sinto que me aflora aos olhos baços
a gota de uma lágrima furtiva.

Bem sei que por misteriosos laços
minha vida na tua está contida.
E quando me descubro nos teus traços ,
quero que tudo em mim renasça e viva.

Mas sei que vou partir, quando amanheces.
É fatal que se cumpra a lei da vida.
Enquanto digo adeus, vives e cresces.

Assim, pouco me importa esta partida,
se em meu lugar tu ficas, permaneces
para que em teu sorriso eu sobreviva.
 

 

 

Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova. 1864.

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Millôr Fernandes

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), The Picador

 

 

 

 

 

Jorge Medauar


 

Último Duelo


Nesta noite, luto
com minhas sombras
e vou partindo, elo por elo,
todos os fios que me ligam à vida
no meu último duelo
 

 

 

Velazquez, A forja de Vulcano

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Ascendino Leite

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Consummatum est Jerusalem

 

 

 

 

 

Jorge Medauar


 

Mar


Sem jamais antever os teus desígnios
vaguei por angras e por arquipélagos.
Feri o casco deste barco dútil
Na enfumaçada rota de esperanças.

As auroras de cinza enferrujaram
correntes e metais de atracação.
E o único sal, soprado nas aragens
apodreceu bandeiras e velames.

Teus desígnios de vagas e salsugem
de abismos e rochedos agressivos
com o ardor das algas me queimaram os olhos.

Mas pude ver a concha que se abria
para a manhã nascer por sobre as ondas.
Posso agora perder-me nesta noite
 

 

 

Albrecht Dürer, Mãos

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Dalila Teles Veras

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Bathsheba

 

 

 

 

 

Jorge Medauar


 

As Águas

As águas que isto são os povos e
As nações e as línguas


Veja-se: são águas verdades e profundas
de um mar imenso e indevassável. Vejo-as
depois escurecendo sob a noite
e ouço-lhes o gemido nos rochedos.

Sobre o impassível líquido soturno
dorso do mar que ao longe se retorce
outras águas em vão, de chuva doce
como inútil consolo se despejam.

Dentro da noite inteiramente escura
as, águas se misturam, confabulam
para a revolta em líquida linguagem.

Ai de vós, ai de vós margens e diques,
arrecifes, limites e rochedos,
se as águas de manhã vos atacarem.
 

 

 

Ruth, by Francesco Hayez

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Rubens Ricupero

 

 

 

 

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