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Página do editor Soares Feitosa

Trisafio

Trisafio - Uma pega poética, em estilo clássico-medievo:

  • Antônio Carlos de Martins Mello - e@mail

  • Luís Martins Leitão - e@mail

  • Virgílio Maia - a/c e@mail

 

Textos:

  1. Às quatro da manhã de cada dia - VMaia

  2. A graúna - ACMMello

  3. Recebi teu soneto e nele vejo - VMaia

  4. Sursum corda - ACMMello

  5. Incontinência - Luís Martins Leitão

  6. Luisadas - VMaia

  7. É sua vez - VMaia

  8. Freudiana - Luís Martins Leitão

  9. Aos dois Nunes - ACMMello

  10. Ressurja, Virgílio! - ACMMello

  11. Sursum culus! - ACMMello

  12. Epitáfio para Virgílio Maia - ACMMello

  13. Dois "cabra rüim" - ACMMello

  14. Vozes virgilianas - ACMMello

  15. Numa caixa de Haig esculpo agora - VMaia

  16. Alguém veio por trás, ouço o barulho - ACMMello

  17. Corre, Luís, pra ver a novidade - ACMMello

  18. Silêncio - para Luís e Virgilio - ACMMello

  19. Carlos Augusto Viana manda soneto de consolo

  20. Vigília leitora

Página inicial de Antônio Carlos de Martins Mello

Página inicial de Virgílio Maia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Página do editor Soares Feitosa

 

1. Às quatro da manhã de cada dia - Virgílio Maia.

Às quatro da manhã de cada dia,

quando o horizonte a luz ainda nega,

religiosamente principia

um canto agudo de graúna cega.

 

Vem da casa vizinha. Ela assobia

as notas musicais, e, só, carrega

as dores do cantar. E por porfia

de sonora aquarela faz entrega.

 

Abala-me a cegueira em que se agita

esse retinto pássaro que me acorda

enquanto tudo mais em calma dorme

 

Na gaiola ele canta, pula e grita,

mas não sabe que põe e que transborda

no meu humano peito um medo enorme.

 

_________________

 

 

 

 

 

2. A   G R A Ú N A  -  Antônio Carlos de Martins Mello

 

 

    A Virgílio Maia -   18.03.93.

 

 

Dizes ouvir, às quatro, o desespero

de uma graúna sem visão que pia

e pula e grita e canta e assobia,

na vizinha prisão de seu viveiro.

 

Eu também ouço, e é por todo o dia,

o cantochão do tetragrama inteiro:

canta tão triste que, por vezes, quero

saber de nós quem mais já se angustia.

 

Debrucei-me inda ontem, curioso,

prá medir o meu mal, que já nem ouso

confessar a ninguém, e ele me disse:

 

- Canto o mesmo refrão da mocidade,

só que chego torcido de saudade

aos ouvidos malsãos de tua velhice.

 

_____________

 

 

 

 

  

 

3. Recebi teu soneto e nele vejo - Virgílio Maia,  23.03.93.

 

 

A ANTÔNIO CARLOS

 

 

 

Recebi teu soneto e nele vejo,

viva e vibrante, a verve de um Poeta.

Sonetos como esse é que eu almejo

qualquer dia escrever em linha reta.

 

Só poderei cumprir este desejo

se guiado por musa tão dileta

amiga e amante que não tenha pejo

de na minha por sua mão de esteta.

 

A graúna vai bem, muito obrigado,

e saúda teu velho tetragrama,

augurando que a clave não lhe caia,

 

pois que parece em demasia usado

E assim, meu Doutor, se segue a trama

dos versos teus e meus, VIRGÍLIO MAIA.

______________

 

 

4. SURSUM CORDA - Antônio Carlos de Martins Mello, 14.04.93

 

 

Largo o ritmo frenético em que trabalho

e passo a examinar, a teu conselho,

se já me vai falhando o que te é falho

nos prazeres fortuitos de homem velho.

 

Só beleza reflete-se no espelho

se para o barbear dele me valho,

quando alinho as melenas de fedelho,

um ou outro fiapo é que é grisalho.

 

A função principal é um estribilho

de que notas raríssimas recolho

ao passo que só as tens agora em sonho.

 

A musa te inspirou, velho Virgílio,

como guiaste a Dante, mas o espólio

varonil de verdade é o deste Antônio.

____________________

 

 

 

 

 

5. INCONTINÊNCIA - Luís Martins Leitão,  20.04.93.

 

Não pude mais conter-me. Era preciso

Alguém fazer de vez esclarecida

(De idade menos e bem mais de siso)

Esta peleja a verso encarecida.

 

Não se lhes nega gênio e sim juízo,

O verso tem cadência, a rima, vida.

Mas se traem no fundo e causam riso,

Que a peleja, em verdade, é... encanecida.

 

 

Um se apavora ao canto da graúna,

O outro é Narciso ante mendaz espelho,

E se há uma coisa que talvez os una

 

Nesses lampejos fátuos de velho

É que tão só na língua inda se enfuna

Todo o vigor que já não têm no relho.

 

____________

 

 

 

 

 

6 - L U I S A D A S - Virgílio Maia,  28.04.93.

 

 

Foi só você, que atende por Luís,

quem deu causa a todo este reboliço,

E se foi você mesmo quem bem quis,

preste muita atenção enquanto eu iço

 

 

brancas velas de Musa, o que já fiz.

Veja, Luís Martins, como eu atiço

metro e rimas e gravo, assim com giz

incandescente, sem qualquer enguiço,

 

dois perfeitos quartetos e prossigo

esclarecendo agora essa questão

a respeito dos ovos, do caralho.

 

Se de Antônio não sei  -  é seu amigo   -,

posso de mim lhe dar exatidão:

sou Maia e novo, não Martins e falho.

_______________

 

 

 

7. É SUA VEZ - Virgílio Maia, 28.4.93.

 

Num soneto sofrido e mal escrito

certo Luís Martins nos desaprova,

querendo nos levar meio no grito

e tua machidade pondo à prova.

 

Mas se vou lhe ensinar como se trova,

mostrando ser um só, e bem estrito,

o tão áspero caminho que reprova

a quem usa as palavras com atrito,

 

deixo ao Vate, que é primo e dele amigo,

responder-lhe à tal Chave do Parnaso,

que aquela carapuça em mim não calha.

 

Pegue, Antônio, o Luís ao modo antigo

e prove, se puder, se for o caso,

que tão vetusto relho inda não falha.

 

______________

 

 

 

 

8. F r e u d i a n a - Luís Martins Leitão,  01.05.93.

 

 

Desculpe-me, Virgílio, o desmantelo

Que o verso meu sofrido e mal rimado

Causou, e o fez, num tom inesperado,

Sair da linha e partir pro apelo.

 

E penso que não fiz por merecê-lo,

Pois só por ser Virgílio rotulado,

Não dá direito a ter patenteado

Só para si o uso do martelo,

 

Nem carecia tanto destempero

Nessa linguagem com que me replica,

Que eu, se lhe dava um cinco, agora é zero.

 

E quanto “àquilo” , vai aqui a dica,

Que pode minorar seu despero:

Socorra-se de Freud, Freud explica.

 

_____________

 

 

 

 

9. - AOS DOIS NUNES - Antônio Carlos de Martins Mello, 03.05.93.

 

(a Virgílio Nunes Maia e Luís Martins Leitão -  órfão do saudoso Oswaldo Nunes Leitão).

 

 

 

Subo à liça de novo com meu báculo,

que é borduna de nódulo soberbo,

contra tudo que é verso chulo, e acerbo,

com que tentam roubar-me o espetáculo.

 

Nem devia socar em tal cenáculo

o estro colossal em que me enervo,

mas vou-lhes infligir exemplar verbo

de quem é bom na língua, no vernáculo.

 

Guardando sempre ereta a compostura,

vou aplicar lição a certo Maia

e ao Leitão (ou Luís) farei o mesmo:

 

se querem conhecer-me a ditadura,

vou fazer um dançar rodando a saia,

 do outro faço um tacho de torresmo.

________________

 

 

 

 

 

10. RESSURJA, VIRGÍLIO! - Antônio Carlos de Martins Mello, 24.07.95,Fortaleza

 

 

Já não ouço em tercetos nem quartetos

do teu estro chibante as diatribes

nem os rasgos louçãos com que tu inibes

a mediocridade dos sonetos.

 

Se teus versos são brancos  -  ou se são pretos -

nem me importa, senão que são temíveis,

e agora liberais, indefectíveis,

pois seus vôos voam livres, irrequietos.

 

Mas não venhas pensando que por isso

vais bater sem sofrer as conseqüências

de parares no meio da porfia.

 

Dou-te porrada no alto do toutiço,

inda deixo em reserva as reticências,

para o caso de errar na pontaria.

 

 

 

 

 

11. SURSUM CULUS! - Antônio Carlos de Martins Mello,  31.08.95.

 

 

Nem Lisboa te vale, ó vate quieto,

pra que a face em sossego um dia ponhas,

nem na busca de versos com peçonha

pra forrar-te do medo que te meto.

 

Se voltaste do Reino, te prometo

cacetada pior e mais medonha

que as daquele poeta sem-vergonha

que fazia o melhor do que é soneto.

 

Vate quieto - te disse -, que nem pias

há meses escondido qual pernalta,

enquanto te cravejo o vil traseiro.

 

Enquanto o bico adunco em terra  enfias,

por trás à gargalhada a torpe malta

disputa o sobrecu cobrir primeiro.


 

 

 

 

 

                                     

12. EPITÁFIO PARA VIRGÍLIO MAIA - Antônio Carlos de Martins Mello - 19.10.96.

 

Por aí jaz alguém que foi poeta,

cantador, repentista e ardente bardo,

que trazia de versos  rico fardo

e tesouros riquíssimos de esteta.

 

Quando dava sua ríspida veneta,

recitando socráticos brocardos,

arrancava  mãezinhas do resguardo,

segurava as rodadas do planeta.

 

Hoje dorme, coitado, sob as cinzas,

sem voz, sem dom, sem brilho,  sem tribuna,

bem diverso do que era de primeiro.

 

Mal segura nas mãos, hoje ranzinzas,

o que deixei dos restos da graúna

quando queimei de versos seu viveiro.


 

 

 

 

 

13 - Dois "cabra rüim" -

ANTÔNIO CARLOS DE MARTINS MELLO, 27.11.96.

 

 

A Luis Martins e Virgílio Maia

 

 

Debalde corre o mundo o meu relaxo,

de cuja exatidão nunca me queixo,

de cuja onipotência nem me vexo,

pois ribomba no mundo de alto a baixo.

 

Espero em vão que venha um esculacho,

atacando algum verso ou algum trecho,

um passo, uma abertura ou algum fecho,

mas por mais que procure nada acho.

 

Onde estás, vão Luís, que invocas Freud?

Onde andas, Virgílio da graúna?

 Quem enfrenta meu lábaro medonho?

 

Ambos curvam-se ao báculo trombóide

com que faço o que quero  na tribuna  

e empurro e puxo  e torço e tiro e ponho.


  

 

 

 

 

 

    

 

 

14. VOZES  VIRGILIANAS - Antônio Carlos de Martins Mello, 29.11.97

 

A Virgílio Maia

 

Leio o pão que amassaste e arroto adrenalina,

canto de galo e  espero inutilmente  o troco,

grito pregões altivo em tudo quanto é esquina,

mas Dom Virgílio á ausente, Dom Virgílio é mouco.

 

Quando me vê chegando,  sai com a   fala fina,

enquanto brado e estrondo meu refrão bem rouco,

cai aqui e acolá, tropeça em tal sufoco

que  se esquece o medir, o versejar e a rima.

 

Ô Virgílio onde estás que nem sequer respondes,

em que  astro,  em que mundo ou estrela tu te escondes

 que não ouço o rosnar de tua voz  roufenha?

 

Venha o teu estro  enfim que foi um dia altivo

e que cantou tragédias de animal cativo

soltar as asas no ar,  caso ainda asas tenha.


 

 

 

 

 

15 CAIXA DE HAIG- Virgílio Maia - 25.01.03      Porto das Dunas  

 

 

 

Numa caixa de Haig esculpo agora

De vento e claridade estes versos

Em louvação à mais bela cidade

Fortaleza, onde o sol demora.

 

E só há alguém, que num sorriso chora,

Demonstrando sinais de insanidade,

É bem melhor chorar, mas de saudade,

À fumaça de um “puro””  a que se exora

 

É claridade e vento, é louvação

Que voa da caneca ao lep top

Nas palavras que o tempo não carregue.

 

É vento, é claridade, é coração,

É pedra no caminho que se tope,

Neste porre escocês de uísque  Haig.


 

 

 

 

16 Q U E M   C H E G O U ? - ACMM, Porto das Dunas, 25.01.03.

 

         Ao redivivo Virgílio Maia

   

Alguém veio por trás, ouço o barulho,

Não sei inda quem é, não reconheço,

Deixa olhar o mistério deste embrulho

Viro, e já, esse troço pelo avesso.

 

E tem métrica, ritmo, rima... é um verso!

Tem perfume de velho, fede a entulhol.

 Às profundas do inferno subo e desço

Eis que expressa algo assim com tanto orgulho.

 

Rasgo o véu, vejo o bicho manifesto

Um soneto, meu Deus, aos ollhos brota

Da natureza exsurge como um aborto

 

Pelas trilhas do mundo desembesto...

-         Valha-me, que me voltou essa marmota!

Reviveu quem há muito estava morto!

 


 

 

 

17 - Corre, Luís, pra ver a novidade - ACMM,Porto das Dunas, 25.01.03

 

A Luis Martins 

Corre, Luís, pra ver a novidade:

Quem morrera voltou todo pachola!

Lê o verso pra mim, dá-me esta esmola,

A recompensa Deus de te dar há-de.

 

Enfim, que Nunes é, meu bom cumpade,

Inda é parente teu – teu sangue rola:

Alguém tirou do saco sua viola

Em que a guardara desde a antigüidade.

 

 

Venham, pois, vocês dois levar pancada

Como lhes ocorreu dez anos antes,

 A completar-se agora, mês de março.

 

Renovo o desafio, sua cambada:

-    Vou bater vocês dois em dois instantes,

Vão notar rapidinho como é fácil!


 

 

 

 

17 - SILÊNCIO - Antônio Carlos de Martins Mello

 

         Para Virgílio Maia e Luís Martins.

 

         Fortaleza,   29.01.03.

 

 

 

 

Nem Luís nem Virgílio manifestam

Réplica ou o mais que for ao desacato

Que lhes mandei sem modos nem recato

Parece que ‘tra vez não me contestam.

Caladinhos da silva ambos me restam

Qual não lhes fosse em nada pertinente

A esculhambação que toda a gente

Escutou, leu, gozou e lhe deu fama

Quem leva cacetada e não reclama

É sinal que gostou do meu repente.


De Carlos Augusto Viana para Antônio Carlos Martins

 

SONETO DE CONSOLO A UM AMIGO

 

Não lamentes, ó não, Antônio Carlos

Esse silêncio acerca de teus versos:

Não é de todo fácil amarrá-los

Em metro e temas por demais diversos.

 

Fabricaste gaiolas, tantos pássaros

Por certo delas fogem, por adversos;

E buscam noutros ares, outros álamos

Em que possam cantar, mesmo submersos.

 

Se tudo começou com a graúna,

O Seu não canto não foi assim à-toa:

Sob a pele das pétalas, só voa

 

O que dentro de si nuvens reúna.

Teu canto é rio maior, por isso soa

Em sépalas, em píxides, em plumas.


VIGÍLIA LEITORA

Fortaleza,  madrugada   02/03.02.03.  Para Luís Martins Leitão e Virgílio Maia

Toda hora reabro meu correio

A ver se tem mensagem pra leitura

Colho umas que outra em tal procura

Mas dos dois nem bulhufas pelo meio.

 

Que não me tenham lido até receio,

Talvez seja preguiça mera e  pura,

Quem sabe, eles não lêem como eu leio,

Quem sabe, se afeiçoam à dita...dura,

 

Não fazem mais a guerra que eu guerreio,

Porque seu instrumento já não fura,

Talvez tenham trocado já de lado

 

Que a idade da velhice já lhes veio

E quem de tal doença não tem cura,

De fato é bem melhor ficar calado.