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Victor Mikhailovich Vasnetsov, The Knight at the Crossroads

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Uma pequena lição de cavalaria


 

Fragmento de um questionário:

Francisco, personagem de um poema longo, Psi, a Penúltima LETRA, sai de dentro do poema e vem conversar com o autor, um certo SF, que também é Francisco.

 

 

 

 

99. Francisco: Domar cavalos, o senhor tem certeza, é assim mesmo, tão importante? Há uma impropriedade nesta resposta de há pouco (nº. 89), aqui está: Só os eqüinos correm assim, quando soltos. [clique para conferir] Ora, se o cavalo estiver preso, como poderá correr? Logo, a expressão "quando soltos" é descuidada.

SF: Veja: O bicho correndo de lado, olhando para trás, ora de um lado, ora do outro. É bonito. Era de lua, no descampado, cheia. No trote ligeiro, a cara de banda, rasgando o vento, o jegue garanhão. Só os eqüinos correm assim, quando soltos. A expressão "quando soltos", em se tratando dos eqüinos, há de ser entendida como em estado de Natureza, porque há duas modalidades em que não estão soltos mas continuarão correndo do mesmo jeito, ou até mais. Sem balançar a cabeça para os lados, nem retesar nas curvas. Na primeira, o cavalo está preso ao rodete, que é aquele moirão central, com uma corda de bom tamanho, o domador ali, controlando, incentivando, freando, aprumando. O cavalo correndo, trotando, chouteando os 360 graus do transferidor inteiro, sem parar. Evidente que ele não está solto, porque preso a um cabresto de cabo longo.

 

100. Francisco: Cabresto de cabo longo?

SF: Isto mesmo, preso, uma operação de rara sensibilidade! O cabresto está amarrado, é certo, uma volta livre em torno do moirão. Mas, entre o torno-moirão e a cara do cavalo há um um pulso-mão. Aliás, uma mão de pulso, que é de leve, extremamente leve, mas, ao mesmo tempo, excessivamente forte. Forte e gentil, anote aí, por favor. Gentil e forte! Entenda, se for possível, uma coisa quente e fria, no mesmo tacho, ao mesmo lance. A mão do domador. Leve, levíssima sobre o relho, um relho que pode bater mas não bate; um cabresto apenas.

 

101. Francisco: O senhor exagera! De onde essa mística? Não seria um cabresto comum?

SF: Apenas um cabresto comum, é certo. Melhor que seja uma corda de cabelos, artesanal; o domador, ele mesmo fazendo-a. Enquanto colhe e recolhe pêlos, crinas, rabos e cabelos mil, ele, secreto, já amansa, em mão e gesto, todos os potros do mundo. Pastam inteiros os cavalos selvagens naquele pêlo-couro, que não é couro, nem é pêlo; é coro, é canto, um cantochão; afago, voz e maciez. O cavalo correrá, e muito, mas não olhará para trás nem murchará as orelhas... Desde quê... a pedra, o sal, a estátua.    

 

102. Francisco: Desde que o quê? Olhar para trás? Orelhas? Haveria uma a outra hipótese em que o cavalo estaria a correr, porém preso?

SF: Muito simples! É quando ele, exemplo único em toda Natureza, se funde com o Homem num único animal. Claro que ele não está solto, posto que sobre si há um outro bicho, o Homem... mas os dois são um só, o centauro!

 

103. Francisco: Isto é apenas uma velha lenda indígena, os povos do México, que não conheciam o cavalo e, quando pela primeira vez o viram, imaginaram seria um só animal. Assombraram-se e perderam a guerra para os espanhóis.

SF: É um mito antigo, muito real porém. E, por isto mesmo, válido. O mito do centauro, quem o entendeu inteiro foi o poeta Franz Kafka. Já o filósofo Thomas Hobbes perdeu uma bela oportunidade de exemplificar o pacto social em cima do cavalo.

 

104. Francisco: Devagar, senhor! Não misture as coisas, por favor. Kafka, poeta?! Contista e romancista!? Paciência! Poeta, não! Nunca foi! Hobbes, a comandar uma cavalgada no pacto social?!

SF: Poeta, sim! Cuidemos de Kafka, em primeiro. Quando a poesia é verdadeira, poucos percebem-na. Tomemos este poema que ele apresenta como um conto, que também é conto, mas, e sobretudo, poesia. Alta Poesia:

 

O desejo de tornar-se um pele-vermelha

Se ao menos fôssemos um índio, ao mesmo tempo vigilante e montado a cavalo, inclinando-nos contra o vento, continuando palpitantes a agitar-nos sobre o solo trepidante até abandonarmos as esporas pois delas não precisávamos; largando as rédeas, porquanto não eram necessárias; e mal percebêssemos que a terra à frente já estava despojada de vegetação, o pescoço e a cabeça do cavalo já teriam desaparecido...

[Franz Kafka, A Colônia Penal, Nova Época Editora, tradução de Syomara Cajado]

 

105. Francisco: Algo a ver com centauros?!

SF: O senhor acha pouco?! Um índio, de ar-livre; o cavalo ali, pulsante. O índio em cima — montado e vigilante — que, de tão integral, melhor hifenizá-lo: montado-e-vigilante, índio. Fremem ambos, cavalo e índio. Chispam, inexplicáveis, contra o vento. Inclinam-se contra o horizonte. O chão estremece. Contudo, o chão está ali, bem quietinho. [Quem estremece, lá na planície terrível — um dia poderá estremecer de verdade —, é a Falha de Santo André, línguas de fogo de dentro da Terra. Há estupendas e terríveis profecias, o Big One!] Quem, pois, estremece quando passa um índio trajado de cavalo? Quem estiver a vê-lo, é claro! O estremecimento é de quem olha. Nem precisa "ouvir" nada, que dá para sentir perfeitamente na caixa do peito. E, por favor, nunca permaneça próximo por demais de uma parelha de índio e cavalo, ambos em disparada! Ainda que numa distância segura das patas dos animais, que o de cima também se transforma em patas!

 

106. Francisco: O tremor?

SF: Isto mesmo! Há o tremor para quem está em cima, para quem está embaixo, cavalo e cavaleiro, agora em peça única. Ambos sabem que o planeta inteiro treme. Pulsam. Indague dos outros cavalos, que, ao frêmito da dupla, retesam as crinas. Indague das feras do dia. Atestarão que sim. Pois agora tudo tremido, cavalo e cavaleiro, tal como ar que também treme no pingo do meio dia neste calorão daqui, sertão do Ceará. Aqueles matinhos do chão vão-se sumindo à velocidade dos olhos de quem olha de cima, cavalo e cavaleiro, se é que olham, que a velocidade é tanta...! Nem dá tempo a nada! Riscos... só riscos, pedras, paus, matos, buracos, saliências, umbigos. A terra... Subsumem-se coisas dantes, ao veloz! Oblíquos. Rédeas? Quem falou em rédeas?! Esporas? Para quê?! E, num cresceeeendo... endo... moendo... endo...! Pronto. Sumiu.

 

107. Francisco: Um animal, uma coisa mágica?

SF: É mágico, sim! Havia, por debaixo do pele-vermelha, um animal inteiro, o antigo cavalo, agora um cavalo em «ex», algo retirado daquele cavalo primitivo que estava ali sob o índio, ambos até há pouco tão calmos. A cabeça e seu pescoço, do cavalo, súbito, são apenas cabeça e pescoço do pele-vermelha. Se esticar a têmpera para mais um pouco, daquela nova massa, cavalo e cavaleiro, só um clarão ao infinito, varando o vermelho da planície estonteada. Um frio na cara, as pernas tremendo... Se romperem vivos do outro lado. Ambos! O animal há de ser contido, senão o risco de morte. O cavaleiro. Também!

 

108. Francisco: Há ferramentas? Comandos?

SF: Comandos? Tudo no âmbito da pré-linguagem. Interjectivos. Palavras curtas, que nem palavras são, com a força porém de imprecação de longo alcance, às orelhas do animal, no ponto justo. Com os joelhos, aliás; com todo o corpo; aliás, com a vontade, só isto: vontade! Mas o cavalo também está danado para correr, louco por uma corrida! Estilhaçando os cascos. Um joy stick, apenas uma manopla imaginária, tão-só de dentro, como quem joga no olhar. É coisa do conhecimento secreto. Ela jogava-me nos olhos. E meus olhos se consumiam ao seu olhar. Domava-os aos seus olhos.

 

109. Francisco: Orelhas? Conhecimento secreto? O senhor falou antes que os eqüinos correm de lado?

SF: Secreto, sim, mas não há segredo algum. Apenas o intuitivo. A educação é pela pedra, disse o poeta, mas é pelo cavalo, digo eu, que passa o domínio do humano. Há um intenso jogo de orelhas. Quando murchas, saia de perto, é coice, é salto, é estranheza. As orelhas estão direcionadas à frente e em pé, em dupla ou alternadas. O domador tem que jogar o som lá na frente, no momento em que as orelhas apontam para frente, de modo que o som não venha de trás, como se fosse a fera a perseguir o animal. Claro que isto o senhor não vai ler em nenhum manual, nem mesmo perguntando aos melhores cavaleiros. Por sobre os cavalos também: há um momento de falar, há um momento de silêncios. Ritmos. A mão. Você, em cima do cavalo, é quem dá-lhe as ordem, mas ordens hão de vir de frente, e não de trás. Como seria possível ordens pela frente, se você, no lombo do animal, está atrás dos ouvidos da montaria? Aí é que está o passe de mágica: as palavras são lançadas à frente num ângulo de grau exato, de modo que o cavalo, à medida que corre, vá colhendo-as... e... quanto mais corre, mais ligeiro você joga palavras novas mais adiante. Até tombarem exaustos. Senão mortos.

 

110. Francisco: E a corrida de lado, o que é?

SF: Veja, há um único bicho valente-total em toda a Natureza: o cavalo montado ou o homem a cavalo, tanto faz, que são apenas um bicho único. No estado selvagem, o cavalo é um bicho reconhecidamente medroso. O cavalo é animal de presa, de fuga, o oposto do predador, a onça, o tigre, o leão, a malta de lobos. Milhares de vezes por dia, o cavalo, quando pasteja na campina, levanta a cabeça a vigiar contra os predadores. Pronto para disparar. Na baia, não. Ele confia. Da mesma forma, ele corre quando solto de sua parelha, o Homem: a cabeça se alterna à esquerda e à direita, por baixo das pernas e por cima do lombo, a olhar de lado e para trás. Veja como correm:

 

Os poldros soltos — retesando as curvas, —
Ao galope agitando as longas crinas,
Rasgam alegres — relinchando aos ventos —

[Castro Alves, O São Francisco, in A Cachoeira de Paulo Afonso]

 

111. Francisco: A valentia do cavalo, fale sobre ela.

SF: Do cavalo, não! Nem do homem. Veja o Blake, este mágico monumental, William Blake, o que tem ele a dizer sobre a coragem do cavalo-e-cavaleiro:

 

William Blake, UK, Death pale horse

 

112. Francisco: Um quadro assombroso! Diga mais sobre a valentia do cavalo.

SF: Por favor, volto a repetir, do cavalo, não! Você já viu uma tourada a cavalo? Num certo texto, a justaposição da mão do artífice à pedra, que até parece estaria eu a falar de Michelangelo:

 

[...] trazia ele no gesto o gesto;
à eloqüência de sua mão de pedra
a pedra se entregava — 
[Os Cantares de Pulso, in Salomão]

 

113. Francisco: — ?

SF: Assim esta dupla: homem e cavalo; cavalo e homem. Ninguém pode dizer que o cavalo do quadro de Blake esteja com medo. Nem o cavaleiro! Ele está de braços abertos. Rédeas? Para quê? Na tourada a cavalo, o cavalo enfrenta o touro no mais absoluto destemor. O cavalo, um bicho reconhecidamente medroso, mas, se de parelha com o Homem, transforma-se na "máquina". O Homem, tão miúdo, por sua vez, ganha um porte de monumento! Veja agora em Benjamin West. É certo: cavalo-e-cavaleiro não tem medo de nada. As feras selvagens fogem do fogo. O cão, dos estampidos; o homem, ele mesmo, tem medo de qualquer coisa, até de fantasmas, vide os guardas do príncipe Hamlet. Nem se diga que cavalo e cavaleiro, de Blake e West, quadros do mesmo nome [Death on a pale horse], seriam do 4º Selo [apocalipse 6, 7-8]. Medo de que haveriam eles de ter?! Não! Medo nenhum, veja!

Benjamin West, USA, Death pale horse

114. Francisco: Na modernidade, o que teria de proveito?

SF: É um jogo mortal. O cavalo pode matar. Coice, queda, brutalidades. Também pode morrer. Um campo de violência, mas, domador verdadeiro jamais espancará o animal. Há uma linguagem secreta. A viagem quase impossível, a aquisição de um domínio: Não espancarás! Moisés espancou.

 

115. Francisco: Moisés?

SF: Equitação, melhor que fosse curricular. A patente maior: domador de cavalos! Sim, Moisés! O forte é perceber que pode e deve espancar, mas não espanca; que o remédio mais rápido e eficiente é espancar, mas não espanca; que sabe e pode torturar, mas não tortura. Não espancarás! A pedra. O deserto. Água. Sede! A vara. Pafo-pafo-pafo! Moisés a espancar! Bastava o toque, a pedra ter-lhe-ia aplacado a sede do mesmo jeito. Veja, toda a pregação daquele filósofo de grandes bigodes, ainda que ele diga que não, leva ao espancamento. Quando o presenciou real e autoritário, agarrou-se com o cavalo. Aos gritos, aos berros, ao pranto. Imaginemo-lo em Auschwitz-Bikernau!? Louco! Estava louco. Irremediavelmente louco. O caminho possível é o da misericórdia. O Homem é infinitamente maior que o cavalo. O cavalo é infinitamente maior que o Homem. Ambos em misericórdia. Não espancarás. Precisamos dizer isto, como um segredo, aos jovens.

 

116. Francisco: Francisco: Não nos basta a lei?!

SF: Não! Não e não!

 

117. Francisco: Por quê??

SF: Este, outro segredo, ainda maior, por favor: O que nos faz humanos, a misericórdia.

 

118. Francisco: Aos jovens?

SF: Porque neles..., a esperança.

 

119. Francisco: Com reticências?!

SF: Não são reticências. Pausas porém, como se as selás de um psalmo..., uma dicção pausada — muito pausada —, desta pequena lição de cavalaria. Assimilação.

 

 

 

 

 

Dos leitores

 

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Death on a pale horse*

William Blake, Death on a Pale Horse

William Blake,

UK, 1757-1827

Death on a pale horse*

Benjamin West, Death on a Pale Horse

Benjamin West,

USA, 1738-1820

* Death on a pale horse:

And when he had opened the fourth seal, I heard the voice of the fourth beast say, Come and see. And I looked, and behold a pale horse: and his name that sat on him was Death, and Hell followed with him. And power was given unto them over the fourth part of the earth, to kill with sword, and with hunger, and with death, and with the beasts of the earth. [King James, Revelation, 6, 7-8.]

* Death on a pale horse:

Et cum aperuisset sigillum quartum, audivi vocem quarti animalis dicentis: “Veni”. Et vidi: et ecce equus pallidus**; et, qui sedebat desuper, nomen illi Mors, et Infernus sequebatur eum; et data est illis potestas super quartam partem terrae interficere gladio et fame et morte et a bestiis terrae. [Vulgata, Apocalypsis Ioannis, 6, 7-8.]

* Death on a pale horse:

Quando abriu o quarto selo, ouvi a voz do quarto Ser vivo que dizia: «Vem!» Vi aparecer um cavalo esverdeado. Seu montador chamava-se "a Morte" e o Hades o acompanhava. Foi-lhe dado poder sobre a quarta parte da terra, para que exterminasse pela espada, pela fome, pela peste e pelas feras da terra. [Bíblia de Jerusalém, Ap 6, 7-8.]

** Pallidus: a maioria das traduções lusófonas dá "esverdeado".Flor do algodoeiro Mas não existem cavalos esverdeados! Repare em Blake e em West: os cavalos respectivos são o que chamamos aqui no sertão: «ruços», nem brancos, nem pretos; e sim pardos, pardacentos, melados. Dizemos por cá: «pálido como a flor do algodão». De fato, sobremodo o cavalo central do quadro de West, muito mais para o amarelo-pálido do que para o esverdeado. Também o de Blake, de forma alguma esverdeado. Pena a flor de algodão que colhi na internet não esteja muito nítida em seu amarelo-pálido. Quem conseguir algo melhor, favor mandar. Email abaixo:

 

 

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Jornal de Poesia, editor Soares Feitosa

 

 

 

Abílio Terra Júnior


 

Sent: Monday, October 03, 2005 5:46 PM
Subject: Uma pequena lição de cavalaria.

 

Poeta Soares,

você nos traz uma fantástica viagem pelos significados daAbílio Terra Junior cavalaria. Cavalaria, aqui entendida no seu sentido metafísico, de homem e cavalo como uma entidade única, que se torna um outro ser, capaz de bravuras e coragens de que separados, seriam incapazes.

O pele-vermelha/cavalo, então, é o símbolo maior desta entidade, pois que traz instinto, experiência e sabedoria em uma pureza absoluta, de que só mesmo os seres em contato íntimo e permanente com a natureza são capazes de exemplificar.

E a força que salta do quadro de Blake: cavalo e cavaleiro se atiram em um impulso único para a batalha mortal, enquanto o anjo prepara a mortalha e um ser da natureza os ampara, como o instinto de sobrevivência e luta, a bravura, com seu cavalo negro que solta fogo pelas ventas. 

Já no quadro de West, os cavaleiros negros montados em seus cavalos ruços esmagam  os mortais em uma dança empolgante, que envolve monstros, entes, humanos, em uma singular analogia  com os nossos tempos.

E tudo entrelaçado pela sua original e única prosa poética, que costura estes mitos, transes e significados como só você sabe fazer.

Um grande abraço, Poeta!

 

Abilio Terra Junior

 

 


Direto para a página de Abílio Terra Júnior

Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Afonso Luiz Cornetet


 

Sent: Wednesday, October 05, 2005 3:19 PM
Subject: Sobre centauromaquia e outros bichos

 

Sabe, SF, às vezes fico aqui me perguntando como pode alguém ser tão criativo. Uma beleza este texto. Tive até a petulância de parar oAfonso L S Cornetetmeu trabalho e dedicar-me a esta saborosa e nutritiva leitura.

Uma fonte de saber este texto, não tenha dúvida. Nele se aprende, cresce, evolui, etc, etc, etc... pérolas de lição extraídas e assimiladas:

 [...] há um único bicho valente total em toda a Natureza: o cavalo montado ou o homem a cavalo, tanto faz, que são apenas um bicho único. No estado selvagem, o cavalo é um bicho reconhecidamente medroso. [...] Mas, domador verdadeiro jamais espancará o animal. Há uma linguagem secreta."

 "A educação é pela pedra, disse o poeta, mas é pelo cavalo, digo eu, que passa o domínio do humano. Há um intenso jogo de orelhas. Quando murchas, saia de perto, é coice, é salto, é estranheza. As orelhas estão direcionadas à frente e em pé, em dupla ou alternadas. O domador tem que jogar o som lá na frente, no momento em que as orelhas apontam para frente, de modo que o som não venha de trás, como se fosse a fera a perseguir o animal. Claro que isto o senhor não vai ler em nenhum manual...

Brilhante SF, um primor.

Parabéns!

Até mais,

Afonso


Direto para a página de Afonso Luíz Cornetet

Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Alcina Maria Azevedo Silva


 

Sent: Wednesday, October 13, 2005 18:01
Subject: Centauromaquia


 

Querido Feitosa. Seus personagens e sua forma de dizer as coisas, são sempre cheias de símbolos. Uma arte difícil de escrever e um estilo diferente. Em uma pequena lição deAlcina Azavedo centauromaquia, fiquei deslumbrada pelos lindos quadros, principalmente pelo  quadro de Blake onde cavalo e cavaleiro sublinham a força e a coragem.

Feitosa, em seu lindo texto, vc coloca cavalo e cavaleiro como sendo uma única pessoa, e o tremor está tanto para um, como para outro. "O planeta inteiro treme", vc diz.

Eu entendi, que cavaleiro e cavalo juntos são capazes de grandes bravuras, mas sozinhos nada conseguirão.

E que nada adianta o cavaleiro dar chibatadas no cavalo, pois este não o obedecerá e mais irritado ficará. Assim também é o homem, ele só consegue progredir e ter sucesso, quando não é  pisoteado.

Não sei se entendi direito o que vc quis dizer, pois como já disse, a sua forma de escrever é difícil e simbólica, dando a cada leitor uma interpretação diferente.

Um abraço ao grande  à você poeta e escritor Francisco Feitosa. 

Parabéns,

Alcina Maria Silva Azevedo.
 


Direto para a página de Alcina Maria Azevedo Silva

Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Anderson Braga Horta


 

Sent: Monday, October 17, 2005 2:56 PM
Subject: Uma pequena lição de cavalaria

 

Meu caro Soares Feitosa,

você não é bom apenas de poesia, também sua prosa éAnderson Braga Horta ágil e forte.

Obrigado pelas remessas de um e outro gênero, sem esquecer o extraordinário cavalo-e-cavaleiro de Blake. Obrigado ainda pelo Caminho de Estrelas, que vejo no Jornal de Poesia.

Para você também um grande abraço.

Anderson


Direto para a página de Anderson Braga Horta

Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Aníbal Beça


 

From: Anibal Beça <anibal.beca@vivax.com.br>
Sent: Thursday, October 06, 2005 03:58 AM
Subject: Uma pequena lição de cavalaria

 

EM CIMA DOS CASCOS

Aníbal Beça

Feitosa, lacei vosso cavalo chegado no tropel, crinas esvoaçantes, do vento Cariri, para um conciliábulo, em que o nosso Vento Geral, doce constatação, apeia e se curva em reverência ao mano arigó, danado em danação eqüina:

 

AVISO AOS CAVALEIROS DE FINA ESTIRPE

PRIMEIRA GRANDE LIÇÃO DE CAVALARIA:

"TODOS SOMOS CAVALOS-DE-SANTO,

INCORPORADOS, EM BUSCA DE DÓCEIS MONTAS,

OU REBELDES POTRANCAS, PARA A CAVALGADA

DAS PLANÍCIES BRANCAS".

 

CAVALGAMOS OU SOMOS CAVALGADOS? 

EIS A QUESTÃO.

 

O caos chega a galope em duros cascos:

A palavra patável

do cavalo potável

rega a sede do verbo da campina.

 

O solitário verbo lambe a noite

dessa garganta escura

- a gruta emudecida -

à espera da fala em sua partilha

 

Essa crina lunar ao sol se alteia

no ímpeto do galope na memória

e o cavalo vassalo do seu halo

segue regendo em funda melodia

acordes de desejos

leve pluma na língua

amaciando instantes em seus momentos

 

Eis o fio da tarefa a se afinar:

A palavra potável

do cavalo patável

que sabe do galope e o calmo trote

 

(Mundo que não existe sem palavras

nem fala ao lado oposto aos seus olhares

coisa com coisa ausente de emoção.)

Que venha então os raios no tropel

fiat lux no meu verbo

a maravilha bela que se instaure

patável e potável.

 


Direto para a página de Aníbal Beça

Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Antero Barbosa


 

Sent: Sun, 06 Nov 2005 18:26:39 +0000 (GMT)

 

“Uma pequena/grande lição de cavalaria”

 

Há o cavalo na terra, no campo de terra. Construído deAntero Barbosa músculo e carne e pêlo e formas. Pastando a erva. Ou nos caminhos, ou na serra, galgando, vestido de apetrechos: o cabresto, a cela, a espora.

 Das lendas mitológicas, que engendraram Pégaso, cavalo com asas, filho de Poseidon e de Medusa, capturado por Belerofonte, já pouco resta: porque, quando o herói tentou montar o cavalo de novo, ele corcoveou, atirou Belerofonte longe e subiu para os céus. Portanto, de toda essa lendária teia tecida e desdobrada, hoje apenas podemos vislumbrar uma simples constelação.

O cavalo no campo da terra e o cavalo no campo do céu. Mas há um outro, formidável, no campo literário. De facto, quando Ramos Rosa, no livro a que chama “Ciclo do Cavalo”, dedica todos os poemas do volume a este animal, não é ao animal, do campo ou do céu, que liminarmente se refere. É um outro cavalo, limado, interiorizado, possuído e trabalhado pelo senso do homem, é a sua sombra e o seu fluido que se destilam na página depois de filtrado pela mente no decorrer de muitos séculos.

É também o que acontece em “Uma pequena lição de cavalaria”. Onde a palavra escrita se deixa cavalgar por essa imagem vital. Procurando mais que a desenvoltura a síntese. Do cavalo, de todos os cavalos, de suas exponenciais biografias.

E o faz, designadamente, de três formas. Diluindo o cavalo no homem e vice-versa, aplaudindo a fórmula do centauro. Onde um ser de dois sublima a força da metamorfose. Porque nesse ser novo se conjugam duas forças, a animal e a humana, e se renegam os defeitos. O animal perde receios e o homem torna-se veloz.

Apelando ao ponto intermédio da pintura. Com efeitos sobrenaturais. O cavalo, montado, assombra por mar e ares. Subsistindo em nosso olhar uma imagem de poder absoluto: ele é apenas a seda da pelagem, a audácia da fronte, o soerguer de patas e caudas, o domínio do tronco. Tudo o mais desaparece: não tem vísceras, nem órgãos, nem sangues ou suores, nem carece de comer mais forragem ou água beber.

Mas é sobretudo na transmutação para a escrita que o portento se produz. Porque essa é a dificuldade aqui superada. Com letras e signos e fonemas, pôr o cavalo de pé na página, colocá-lo íntegro e inteiro, fazê-lo respirar e viver. E possibilitando a quem lê fazer coincidir o reflexo de seus cavalos com os cavalos do texto. 

Antero Barbosa


Direto para a página de Antero Barbosa

Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Antônio Palmeira


 

From: palmeira
Sent: Wednesday, October 05, 2005 10:40 AM
Subject: Passeio a cavalo

 

Caro Soares Feitosa,

 

A genialidade humana, domando as feras, consegue integrar a si, à sua figura, qualquer ser que estiver ao alcance.

Assim é que o homem e sua montaria fundem-se no tal centauro; com um touro resulta o complexo minotauro (que o diga Borges), com um cão, conduzido na guia, numa figura de perfeita harmonia: caça, guarda ou mesmo só companhia...

Tal fera pode até ser um objeto originalmente inanimado como a antiga pena de ganso, hoje substituída pelo teclado do micro, que atuando juntos produzem coisas magníficas como o seu texto.

Soares, você sabe domar o bicho teclado...!

Abraços,

 

Palmeira

São Luís - MA


Direto para a página de Antônio Palmeira

Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Austregésilo de Freitas Jr


 

Ainda galopando sobre o belo terreno deste texto, já posso dizer - olhando de lado - que estou adorando! Grato pela marcação.

 

Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Bernadette Lyra


 

Sent: Fri, 11 Nov 2005 12:38:27 -0200

 

Caríssimo SF,

estou aqui, aqui, na beira do mar capixaba, onde li a lição de cavalaria. Vim em busca de refresco, saindo do sufoco de cimento e metal de São Paulo.

Olha, desde uma pequena frase de Vladimir Vladimirovich Nabokov sobre o senso dos cavalos, nada no assunto me tocou tanto. Aí incluída a ternura que sinto pelo Rocinante.

Pensei: oh, céus! quem é esse senhor Soares Feitosa escondido nos confins do mapa?

Será que ele existe mesmo, em carne, unha e osso?

Será uma miragem que o sol do Ceará faz nas areias movediças da net?

Será um desses profetas metido em sua gruta, da qual sai de vez em quando para alumiar os viventes com a candeia da poesia?

Confesso que penso em você como é uma daquelas criaturas que grava mensagens no ar e depois some pelo sertão, de que me falava minha vó paraibana.

Obrigada, pela lindeza forte do texto e pelo prazer de renovar o contato.

Afeto,

Bernadette Lyra

 


Direto para a página de Bernadette Lyra

Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Carlos Felipe Moisés


 

Sent: Sunday, October 02, 2005 9:10 PM
Subject: O poeta quando solto

 

Meu caro Feitosa:Carlos Felipe Moisés

Agora sim, agora fui no rumo certo da sua efusão eqüina, a desabalada carreira do poeta “quando solto” – uma beleza!

Bem haja a fase plena e feliz em que você se encontra. Aguardo o novo livro, que já deve estar quase pronto.

Grande abraço,

Carlos


Direto para a página de Carlos Felipe Moisés

Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Carlos Roberto Lacerda


 

Sent: Monday, October 07, 2005 1:29 AM
Subject: Estética

 

Caro Soares Feitosa,

Para uma definição poético-existencial-antropomórficaCarlos Roberto Lacerda sobre o cavalo (cuja beleza plástica não perde nem para o tigre), ver "Uma pequena lição de cavalaria", de Soares Feitosa.    

Com o poema é que se aprende mais sobre as artimanhas do sagrado e do demoníaco coexistentes no corcel. Só a poesia é capaz de eviscerar, digamos assim, o espírito da beleza. A isso, é que dou o nome de Estética.

Carlos Roberto Lacerda

 

Direto para a página de Carlos Roberto Lacerda

Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

César Vale


 

Caríssimo Poeta:

Espantei-me com o seu conhecimento sobre cavalos. Cheguei a pensar que a sua antiga missão no Ministério da Fazenda (Fiscal do Consumo), hoje, Auditor, fosse a de fiscalizar, pelo Brasil inteiro, os haras e os hipódromos e, nesse encargo teria aprendido toda a Ciência dos Cavalos, ao ponto de não encontrar concorrência e ser único no assunto, tal foi o meu encanto sobre a belíssima obra literária que li e que deixou-me de boca aberta até hoje.

Tive dificuldade na leitura no celular, pois o texto fugia-me dos olhos, fazendo-me retornar ao início e recomeçar a leitura. (Imprimi, lado a lado e mandei pelo correio. O poeta, de Crateús, CE, muito mais me merece)

Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Circe Vidigal


 

De: cvidig@terra.com.br
Enviada em: domingo, 16 de outubro de 2005 21:07
Para: soaresfeitosa@secrel.com.br
Assunto: Peregrinação

 

Chiquim querido

 

Muito gostosa de se ler a sua  peregrinação. Gosto muito de cavalos. Cavalos e cães, para mim são os animais mais amigos e mais nobres. Não gosto de gato.

Quando eu era menina e morava em Uruguaiana, RioCirce Vidigal Grande do Sul - fronteira com Passo de Los Libres, Argentina - e meu pai era major do Exército, foi que aprendi a montar. Montaria de quartel deve ser diferente de montaria livre do sertão, não? O cavalo do quartel obedece a ordens verbais, manuais e dos pés. Alguém o educa para obedecer. Assim, aprendi a pegar nas rédeas direitinho - sem segurar no Santo Antônio - e a dar umas cutucadinhas para ele andar. Adorava andar a cavalo com meu pai e meus irmãos, nos fins de semana, passeando pelos campos que arrodeavam a cidade. Motivo de gozação para a família, até eu me casar , era contar o caso do cavalo que disparou comigo. Íamos passeando, os quatro - que o menorzinho ainda era bebê e o pai era meio maluco mas não tanto - o pai, eu e meus dois irmãos mais novos. Conversávamos sobre a escola, sobre as pessoas da cidade, coisas engraçadas mas sem importância. Não sei se fiz algum movimento impróprio - não lembro! Não sei se o cavalo se assustou com algo que viu , quem pode saber? A verdade é que, sem ter nem pra quê o bicho saiu em disparada como se estivesse correndo um páreo no jóquei clube. Deixei todo mundo para trás e nem olhei. Agarrava-me firmemente àquelas rédeas e só pensava que não podia cair. Será que o cavalo iria se cansar?

Meus irmãos, muito assustados, meu pai, calmo - assim me contaram depois - pois sabia o meu destino. Eu não ficaria perdida naqueles pampas mas iria estacionar nas baias do quartel. E foi lá que me acharam, entre orgulhosa e aliviada: não caíra da montaria e fora encontrada. Contam também que antes deu desaparecer da vista deles, só viam as minhas trancinhas louras, pra cima, pra baixo, no ritmo dos cascos do cavalinho. Eu deveria ter uns seis anos de idade. Dá-me uma certa tristeza relembrar, agora na velhice, essa infância, esse pai tão amoroso, esses irmãos que se foram. Um, o mais amigo, foi-se de corpo e alma; os outros dois, apenas de alma: os corpos ainda estão por aqui, mas suas almas se desgrudaram da minha. E já estou chorando, Chiquim, vou parando por aqui.

Mas me diga uma coisa. Verdade, verdadeira, você tem patente de domador? Assim como na novela eles domam aqueles bois se empinando, você domou cavalos?

Me conte, Chiquim, deve ter sido o máximo.

Aguardo o resto da história.

Circe


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Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cissa de Oliveira


 

Sent: Monday, October 13, 2005 13:57 PM
Subject: Uma pequena lição de Cavalaria

 

Soares Feitosa,

 

O teu texto, entrevista, discurso, enfim, essa desculpa que vais inventando para o crescimento do leitor, além de rico em informações (aprendi muito!) e significados, meCissa de Oliveira surpreendeu especialmente pela sensibilidade.

PSI, A PENÚLTIMA se transformou numa pedra que, exposta à luminosidade da tua imaginação se constitui num presente aos leitores. Estou certa de que o "Francisco" continuará a sair do poema através de ti enquanto quiseres e também aqui, dentro da gente.

Beijinhos e parabéns!

Cissa de Oliveira

 


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Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Diego de Carvalho


 

Sent: Tuesday, October 04, 2005 2:08 PM
Diego de Carvalho
Subject: Re: Poeta, veja!

Belo texto.

Interessante como conseguiste domar o excesso de símbolos. O texto está perfeitamente construído. Como diria um amigo: Tens a pena!


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Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Edna Menezes


 

Sent: Wednesday, October 15, 2005 16:52
Subject: Centauros

 

Caro Feitosa,

por algum defeito do meu pc não consigo enviar oEdna Menezes comentário direto na sua página, portanto aqui vai.

"Um cavalo é infinitamente maior que um homem", apenas esse fragmento. O cavalo é maior, pois se livre, corre, "voa", flecha viva rumo à liberdade; se preso, domado, cabresteado, apascenta-se, aceita, espera com moscas a rodear-lhe as crinas que um dia se agitaram ao vento. O homem...

Ah! O homem; se livre não sabe correr nem voar, não sabe o que fazer com a "tal" liberdade; se preso inquieta-se, angustia-se e lacrimeja sangue pelo vôo que jamais terá e assim, sente-se como o ser de Kafka: "Se ao menos fôssemos um índio, ao mesmo tempo vigilante e montado a cavalo, inclinando-nos contra o vento, continuando palpitantes a agitar-nos sobre o solo trepidante até abandonarmos as esporas pois delas não precisávamos; largando as rédeas, porquanto não eram necessárias; e mal percebêssemos que a terra à frente já estava despojada de vegetação, o pescoço e a cabeça do cavalo já teriam desaparecido..." [Franz Kafka, A Colônia Penal, Nova Época Editora, tradução de Syomara Cajado] Que grande contradição !!

 

Edna Menezes
 


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Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Edson Bueno de Camargo


 

Sent: Monday, October 11, 2005 13:57 PM
Subject: Sobre cavalos e homens

 

Caro Soares,

Os árabes  do deserto costumam dizer que Alah, o ÚnicoEdson Bueno de Camargo Deus, quis que os homens tivessem um vislumbre da sua perfeição, e criou o cavalo. Olhe que não sou ginete coisa nenhuma, sou citadino até debaixo das chuvas torrenciais que caem em minha pequena cidade (parece que as vezes a chuva quer afogar a refinaria de petróleo, suas chaminés que cospem fogo e nuvens de fumaça preta). Mas o animal é espantoso pela sua capacidade de enganar o homem que continua a acreditar se o ser humano deste planeta.

Tento imaginar o encanto de Kafka em sua Viena velha e bolorenta, a imaginar peles vermelhas nas pradarias americanas.

 

Edson Bueno de Camargo

Mauá - SP


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Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fátima Irene Pinto


 

Sent: Monday, October 17, 2005 22:40
Subject: Uma pequena lição de cavalaria

 

Olá Amigo

Feliz de lê-lo novamente.Fátima Irene Pinto

Acho que já disse isto a você. Você tem um jeito único de poetar. Suas poesias não se parecem com as de ninguém, nem do passado, nem do presente.

Adoro o seu poetar. Adoro mesmo!

Bjs da


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Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Gildemar Pontes


 

From: "Gildemar Pontes" <gilpoeta@yahoo.it>
Sent: Thursday, October 06, 2005 9:17 AM
Subject: Comentário

 

Feitosa, poeta dos rebuliços e das gravuras assombrosas que saltam do nada, no meio da cara, refazendo no olho o olharCarlos Gildermar Pontes ingênuo. O Francisco é um rapaz bom, viajador, conhecedor de mato e de palavras, reconhece as estradas e a geografia maior, entende a memória e a história que ficou. Entrevistou o poeta e adivinhou o contador de histórias grandes, romanceiras, pra ouvir da tardinha à lua alta, vigiada pela coruja e pelos olhos dos meninos no mato, esperando o bicho que vem a galope.

O poeta conhece dos cavalos e suas plumagens e impaciências. Vez por outra lembra meu avô, agarrado naquele roupão de cáqui, teimando o céu com os olhos azuis. A gente menino só fazia confirmar os bichos e criar outros mais medonhos que os dele, desenhados nas nuvens. Eu tinha medo de cavalo, o bicho era grande e difícil de subir. Já o jumento para nós era um tolo, acabrunhado, parado ali esperando uma cipoada pra girar o mundo. Nesse eu "amuntava em riba" da cangalha que saia com o mucumbu doendo. Ia buscar água no olho perto do rio de pouca vista.

A nossa diferença, Feitosa, é que tu nasceste perto do mato e sabe dos feitiços do mato; quanto a mim, nasci na beira do mar e ia pro mato, de vez em quando, visitar meu avô e suas histórias mateiras. Qualquer dia eu conto histórias de mar, que é bicho medonho, de engolir gente e falar pelo vento  coisas bonitas e misteriosas. 

Abraço, macho véi!

Gildemar Pontes

 


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Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Gustavo Dourado


 

Sent: Monday, October 03, 2005 1:27 AM
Subject: Sobre a cavalaria de Francisco

 
 

Sobre a cavalaria de Francisco:

Cavalgam pelos pastos os cavalos de Francisco.Gustavo Dourado

Cavalhomens do infinito sertão de mil travessias.

Tropeiam céleres os cavalos de Rosa na busca das éguas do Cariri...Jagunços...Cangaceiros e sereias no Raso da Catarina coriscam pelas pradarias de Jeremoaobo:

Saudades da Serra do Teixeira e dos tombadores da Chapada Diamantina até os desfiladeiros da Borborema...

Francisco e seus cavalos pastoreiam ovelhas-palavras...

Jumentos-pastores emulam-se nas cabeceiras do Rio de São Francisco: Rosa e Francisco galopam, esquipam, perfilam-se viandantes no sertão das setestrelas.

Gustavo Dourado


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Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ivo Barroso


 

Caro Poeta,

eu já tinha lido (por seu envio) a centauromaquia, que me deixou engasgado com sua erudição a propósito de eqüinos e que tais! Lembrei-me do melhor Guimarães Rosa, quando ele descreve os tipos de chifres de bois (em Sagarana, se não meIvo Barroso, 2003 engano), mas sua sapiência vem de mais longe, sinto o sertão euclideano em sua prosa. Meus parabéns!

E também me diverti bastante com as biografias do Conselho editorial do Jornal de Poesia, a começar com o merecido sono (sonho?) de seu fundador.

Caro poeta, um dia alguém saberá dizer dos seus méritos nessa missão gratuita de divulgar a poesia brasileira de todos os quadrantes.

Um grande abraço do


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Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

José do Vale


 

Sent: Saturday, October 31, 2005 8:04 AM

 

SF:

 

Da oferenda ao consumo um intervalo do tempo se foi, puxado como um balde de cacimbão, das jornadas intermináveis dos grandes centros urbanos. Afinal nãoJosé do Vale Pinheiro Feitosa peregrinei apenas na notícia do e-mail que enviaste, busquei a raposa fustigada pela vigilância epidemiológica, assim como a mesma fustigada da Catuana à cidade pela sede do saber. Um saber clássico, das ordens católicas, em que se fundem a narrativa tribal de Israel, o vasto mundo grego e a instituição romana. No entanto, corre nele uma vertente ibérica, hípica, ou seja, árabe.

De qualquer modo nos dois momentos: primeiro o peregrino do saber é um ser dos sertões, dos ermos, dos mandacarus e da luta solitária como rito de passagem aos 15 anos. No segundo momento é reflexão intelectual, o domador de cavalos. O soberano híbrido, centauro, o matuto a pé, agora fundido sobre o corpo das patas que rompem horizontes e chega à frente do sol. Iluminado o pensamento complexo, oposto da jornada noturna quando nem lanterna a pilha havia. 

Quer dizer, SF, um ser sui generis, um pé no mundo rural e um outro na cidade. É o penúltimo espécime ainda a compreender o quão diferentes foram estes dois mundos: o arcaico e a pós-modernidade. Depois, só existirão, com a força da realidade e da verdade, os seres urbanos, únicos e não híbrido como SF que ainda corre para vencer o sol.

Abraços.

José do Vale
 


Direto para a página de José do Vale

Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Luís Manoel Paes Siqueira


 

Sent: Sunday, October 02, 2005 11:48 PM
Subject: Teu cavalo

 

Feitosa.

Belo ensaio poético. Maravilha de descrição.Luís Manoel Paes Siqueira

Cavalos sempre me fascinaram. Principalmente os olhos tristes. Já percebestes como são tristes os olhares dos eqüinos? Além do mais são animais muito sensíveis. Lindo o desenho do Blake. Não conhecia. Eu conheço mais os seus poemas.

Um abraço.

Luis Manoel.


Direto para a página de Luís Manoel Paes Siqueira

Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Luiz Paulo Santana


 

Sent: Sunday, October 02, 2005 11:48 PM
Subject: Uma pequena lição de cavalaria

 

SF:

Foi uma bela, mítica, histórica cavalgada. Inflamou osLuiz Paulo Santana campos, moveu os ares em grandes ventanias, despertou poetas, fez suspirar o leviatã — que não se atreve porque o caos é aparente — na hora mesma em que pele vermelha e cavalo frementes, hifenizados no "montado-e-vigilante" chispam, causando tremores no olho de quem olha e sem piscar lê até o fim.

E tem cavalo e homem antes da "transfusão": o cavalo no cabresto em círculo, o cavalo na baia confiado, o cavalo e suas orelhas sinais e códigos. E tem cavalo solto, selvagem: "...a cabeça se alterna à esquerda e à direita, por baixo das pernas e por cima do lombo, a olhar de lado e para trás."

E tem o segredo das palavras que se joga adiante, de modo que o cavalo, digo, o leitor, digo ainda, o centauro em que nos transformamos as recolha à galopada.

É cavalgada de palavras que passam ligeiras no espaço de todos os tempos, modos e conjugações. Acabo de ler, acabo de ver e é assim. Ainda há poeira no ar.

 

Abração,

LPSantana

BH/MG 


Direto para a página de Luiz Paulo Santana

Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Maria da Paz Ribeiro Dantas


 

Soares,

fiquei suspensa com a leitura de seu texto (terei montadoMaria da Paz Ribeiro Dantas o cavalo de Blake ?...). Você é um mágico. E eu só teria a lhe dizer que o tempo todo me vinha à mente o verso do poema de Joaquim Cardozo A constante vitória:

Na grande curva além, o que é mais do que um sonho ?

(Releia-o no Contemporâneo do futuro)

Grande abraço

Maria da Paz


Direto para a página de Maria da Paz Ribeiro Dantas

Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Marisa Cajado


 

Sent: Saturday, October 29, 2005 8:04 PM

 

Franciscos e Cavalos

 

São Franciscos e cavalos

Nos vales, do São Francisco

Cavalgaduras , estalos

Entre poeiras e ciscos.

Poeiras, nos olhos ralos,

Profundos e misteriosos,

Que trazem nos seus embalos,

Ensinamentos grandiosos.

 

Grande abraço amigo

Muita paz.

Adorei sua página

Marisa Cajado

 


Direto para a página de Marisa Cajado

Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mary Silveira


 

Sent: Monday, October 16, 2005 23:40
Subject: Uma cavalgada de palavras



 

Meu poeta preferido...

sua forma de dizer as coisas,seu estilo diferente me deixa deslumbrada. A parte final é surpreendente: "O caminho possível é o da misericórdia". Cavalo e cavaleiro fica me parecendo uma única pessoa. E, de repente,volto a galopar na minha infância, desde criança percebi que os eqüinos correm de lado. Há o momento do silêncio, há o momento de falar; moramos sob o mesmo teto, eu e teu amigo Raimundo Silveira, SURPRESA?

Fico aguardando mais...

Beijos.

Mary
 

Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Miguel Carneiro


 

Sent: Monday, October 03, 2005 5:38 AM
Subject: Re:Compadre Cancão!
 


 

Miguel Carneiro

TESTEMUNHO

 

         Para Meu Compadre Chico Feitosa

 

Celacanto, Lasbafero

Duas Goteiras No Mesmo Lugar

Dois Cegos Na Mesma Porta

Três Romeiros Sem Rezar

Um Cristão Sem A Menor Fé

Um Ladrão Sem Poder Roubar

 

Vou Me Embora Dessa Terra

Vou Fugir Para O Ceará

Vou Procurar Novos Amigos

Lá Eu Vou Poder Sonhar

 

Lá Vou Criar Meus Versos Soltos

Desempedidos Em Meio Ao Luar

Celacanto, Lasbafero

Tanto Burro Nessa Província

Se Exibindo Sem Cessar

Eu Engolindo Sapos

Que Não Param De Coaxar

Tendo A Chancela De Tantas Bestas

Que Não Cessam De Louvar

No Jogo De Confetes

De Acadêmicos  E Marginais

Em Prol Da Poesia Rasteira

Em Meio Ao Festival De Besteiras

Que Assola Todas As Feiras

Nessa velha capital

 

Vou Me Embora Dessa Terra

Vou Fugir Pro Ceará

Lá Vou Procurar Novos Amigos

Lá Eu Vou Poder Sonhar

 

Lá Vou Procurar Soares Feitosa

Para Me Ensinar A Versejar

Celacanto, Labasfero

Psi, A Penúltima

É Obra De Lapidação

Talhada Nas Grandezas

Desse Vate Do Coração

Celacanto, Labasfero

Aí A Poesia É Religião

É Gesta, Epopéia,

É Verso Incomum

Pérola De Ourivesaria

Jóia Rara De Prataria

Que Se Eterniza Na poesia

Do Cancioneiro Popular.

 


Direto para a página de Miguel Carneiro

Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nicolau Saião


 

Sent: Monday, October 17, 2005 11:41 AM
Subject: Uma cavalgada de palavras

 

Caríssimo Francisco (Soares Feitosa)

 

 Para já, o abraço firme que se endossa aos amigos, aosNicolau Saião, 2003 da cavalgada perene no tempo que nos foi dado viver.

 É isso, o tempo. Que como minha mãe costumava dizer, "é um cavalo". Que salta e revoluteia, que corre infrene como um ginete na Andaluzia, um corcel nos campos rasos do Nebraska, um garrano nos pastos de Alter do Chão deste meu Alentejo.

 Os cavalos... Quando vi eu pela primeira vez um cavalo? Não guardo de isso memória exacta, mas teria sido na vila de Monforte onde nasci, provavelmente uma montada da Guarda Republicana quando da visita de algum oficial ao posto que o meu pai comandava, ou então de algum lavrador das imediações com estábulo porventura dentro da vila. No entanto, pensando bem, creio que o primeiro cavalo que vi (ou seria égua, para o caso tanto faz...) estava atrelado a um charabã  - que só mais tarde soube ser o parisiense "char-à-bancs" das/dos elegantes dos Champs-Elisées de outrora. Conduzido por uma senhora, por um cavalheiro? Parece-me que o passeante seria, se a lembrança me não falha, um médico que usava esse meio de transporte quer para visitar seus pacientes quer para efectuar suas voltas e voltinhas nos momentos de lazer.

Já se percebe que nessa altura era eu bem pequeno.

Mais tarde, vi cavalos nos prados e campinas de muitos lugares: nos plainos de Espanha, nos vergéis da "Grand Prairie" francesa, nas ruas de Lisboa e de Portalegre quando era dia de festa nacional, transportando agentes militarizados, nas quintas do Ontário ao longo da estrada que vai de Toronto a Otawa, na "rota índia" americana. Tive mesmo ensejo de cavalgar algumas vezes em campos abertos - essa emoção absoluta de descendente de antigos cavaleiros aldeões - e, quando calha, na herdade de um amigo dado às cavalgadas e falcoarias (o conde José António Valdez, que é o fidalgo de antiga nobreza lusitana mais plebeu e saudavelmente terra-a-terra que existe - faço a minha perninha como razoável "calção" como tradicionalmente se usa apelidar.

E que dizer dos cavalos vistos na arte: na pintura, na escultura, no cinema, nos livros de quadradinhos da minha infância e adolescência de leitor encartado? As cavalgadas, no papel, de índios e de cóbois, desde os apaches de Jerónimo aos oglalas de Sitting-Bull e de Nuvem Vermelha até ao, noutro registo, cavalgar em estilo "feio, forte e formal" do John Wayne? E o ar hierático de Gary Cooper ou do James Stewart ? (Que, aqui entre nós, sempre me pareceu ter um rosto um pouco cavalar...). 

 Todas estas coisas me foram suscitadas pelo texto do Poeta.

 Será necessário dizer que Feitosa, como bom ginete, ultrapassa as barreiras como um galhardo cavaleiro e nos faz cavalgar através do texto como um alazão de crinas ao vento?

Um abraço, meu Poeta - e que galope a preceito assim pela vida durante muito tempo e nos enleve soberanamente com o seu estro tão veloz como apropriado e fecundo.

Um abraço firme, à guisa de cavaleiro de antanho, do seu

NS


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Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nilto Maciel


 

Sent: Monday, October 03, 2005 2:38 PM
Subject: Re:

 

Este diálogo de Francisco com Soares Feitosa é pleno de ensinamentos. Nele se vêem filósofos, poetas, ficionistas e,Nilto Maciel para ilustrar, quadros famosos.

Muito gosto de ler essas coisas de cavalos e cavaleiros, de índios, de centauros, de lendas e mitos. Se fosse possível juntar ao escrito um conto muito interessante de nosso Juarez Barroso, intitulado "Joaquim bralhador", o leitor mais curioso poderia se perguntar: onde esse Soares Feitosa vai buscar tanto assunto?

Nilto Maciel.

 


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Paulo Gondim


 

Sent: Sunday, October 02, 2005 11:59 PM
Subject: Uma pequena (grande) lição de cavalaria

 

Meu caro poeta Soares.

 

Sempre a nos surpreender com sua grandiosa técnica daPaulo Gondimescrita. Escreves muito bem! Cavalo lembra viagem, liberdade, força, beleza, mansidão.

Seu texto nos faz refletir sobre a bela composição que você fez do homem com o cavalo: - Um só bicho !

Mas a parte final é deslumbrante, poética de extrema sensibilidade. "O caminho possível é o da misericórdia"!!!!

Não espancarás!

Tão belo quanto o sol, "no pingo do meio dia" - Sertão puro, Soares!!!

 

Paulo Gondim

São Paulo, SP


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Paulo de Toledo


 

Sent: Thursday, October 06, 2005 3:50 PM
Subject: cavalos poéticos

 

Soares, meu querido, tudo bem?

Desculpe a demora na resposta.Paulo de Toledo

Li seu texto. Como sempre, você leva a prosa na rédea curta, não a deixando desembestar pelos campos vastos do caos do sentido.

Em anexo, mando algumas coisas pra minha página no JP.

Um grande abraço,

Paulo de Toledo

 

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Ray Silveira


 

Sent: Monday, October 16, 2005 11:52
Subject: Uma pequena lição de cavalaria

 

“Literatura é a linguagem carregada de significados até o máximo grau possível” (E. Poud)

 

Poetamigo

Se Ezra Pound não andou conversando "arisia", acabasRaymundo Silveira de cometer um texto literário sem adjetivos à altura.

Mas, para que serve a literatura? Saramago responde com outra pergunta e uma conclusão: “Para que serve uma flor? Para nada”. Eu só acrescentaria: não servem também para coisa alguma: a música, as belas artes, a poesia, enfim, qualquer expressão cultural.

E já há adeptos fanáticos dessa doutrina. Ontem li um artigo cuja tese central reza que o ato de escrever (única forma de se alcançar alguma literatura) seria não apenas inútil, como também altamente nocivo.

Então, não seria o caso de reconsiderares este teu escrito? Não teria sido muito mais proveitoso se estivesses te empanturrando de dulcíssimas musses italianas de chocolate. Ou, quem sabe, de salsichões austríacos regados a excelente cerveja bávara?

Um abraço

Ray Silveira


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Ricardo Alfaya


 

From: ricard50
Sent: Monday, October 03, 2005 7:51 PM
Subject: Re: Poeta Alfaya!

 

Caro Soares,

Muito bonito, muito poético esse texto, mais uma vez em contraponto com imagens. 

Nunca havia pensado nesse simbolismo da uniãoRicardo Alfaya cavaleiro-cavalo, resultando num terceiro e poderoso animal. Mesmo a figura mitológica já a tendo visto tantas vezes antes, nunca me detive a meditar no possível significado.  Gostei muito. 

Gosto de textos que mexem com a minha cabeça, que criam atritos de significado, que redimensionam símbolos e imagens, como você faz. Valeu a pena conhecer.

Agradeço o convite para postar material. Assim que tiver alguma coisa nova, informarei.

Um grande abraço,

Ricardo Alfaya

 


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Roberto Pires


 

Sent: Monday, October 16, 2005 08:53
Subject: Uma pequena lição de cavalaria

 

Excelente! Consegui cavalgar nesta junção homem-Roberto Piresanimal animal-homem!

Sob as rédeas da caneta, Sf-francisco - Francisco-Sf  criou um terceiro animal! Homem-Cavalo-Escritor-Leitor!

Cavalguei com gosto montado no texto!

Parabéns, mestre!

RPires

 


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Rodolfo Lopes


 

From: "Rodolfo Lopes" <sensum@terra.com.br>
Sent: Sunday, October 02, 2005 8:57 PM
Subject: Uma pequena lição de cavalaria

 

Feitosa, boa noite!

Estive a viajar no tempo, lembrando dos idos de cavalgadas e integração cavalo-cavaleiro.

Seu texto descreve magistralmente essa magia da criação do animal mitológico advindos desta mesclagem.

Parabéns, parabéns, parabéns!

Rodolfo Lopes

 


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Rodrigo Magalhães


 

Sent: Monday, October 03, 2005 11:49 PM
Subject: Ao coronel
Rodrigo Magalhães, 2005

Coronel,

você mesmo quem escreveu:

Há um intenso jogo de orelhas. Quando murchas, saia de perto, é coice, é salto, é estranheza. As orelhas estão direcionadas à frente e em pé, em dupla ou alternadas. O domador tem que jogar o som lá na frente, no momento em que as orelhas apontam para frente, de modo que o som não venha de trás, como se fosse a fera a perseguir o animal. Claro que isto o senhor não vai ler em nenhum manual, nem mesmo perguntando aos melhores cavaleiros. Por sobre os cavalos também: há um momento de falar, há um momento de silêncios. Ritmos. A mão. Você, em cima do cavalo, é quem dá-lhe as ordem, mas ordens hão de vir de frente, e não de trás. Como seria possível ordens pela frente, se você, no lombo do animal, está atrás dos ouvidos da montaria? Aí é que está o passe de mágica: as palavras são lançadas à frente num ângulo de grau exato, de modo que o cavalo, à medida que corre, vá colhendo-as... e... quanto mais corre, mais ligeiro você joga palavras novas mais adiante. Até tombarem exaustos. Senão mortos.Baloubet Du Rouet, campeão, de Rodrigo Pessoa também campeão

 

Pois agora escrevo eu:

Não, não há em nenhum manual. Nem o Rodrigo Pessoa, nosso campeão olímpico, saberia dizer das orelhas levantadas. Só os cavalos, o dele incluso, Baloubet, poderiam confirmar.

 

Baloubet Du Rouet - Garanhão, alazão, francês. Nascido em 1989. Pai: Galoubet. Mãe: Mesange Du Rouet. Proprietário: Diogo Pereira Coutinho. Tri-Campeão da Copa do Mundo (1998, 1999 e 2000).


Direto para a página de Rodrigo Magalhães

Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Rodrigo Petronio


 

Sent: Thursday, November 10, 2005 2:53 AM
Subject: Re: Poeta Petronio, onde andas?

 

Francisco querido

 

Me diverti imenso, como dizem os portugueses, com sua hipomaquia! Essa união com Kafka e com a bela gravura do Blake, aliada a toda a doidera desse diálogo entre Francisco eRodrigo Petronio Soares foi uma coisa impagável! Também me diverti muito com as referências literárias:

Já o filósofo Thomas Hobbes perdeu uma bela oportunidade de exemplificar o pacto social em cima do cavalo.

Ou com essas divagações filosóficas, entremeadas à loucura geral da cavalgada:

Comandos? Tudo no âmbito da pré-linguagem.

Uma beleza homem! Parabéns. Logo em seguida entrei por acaso no domínio da equipe de realização do JP. Quando deparo com o senhor Francisco na rede! Dormindo! Dava até pra ouvir o ronco do trabalho! E confesso que fiquei muito emocionado com as fotos de sua família, querido. Avós, fotos de casamento, toda a estória, não conhecia essa página do JP. Gostei muito de conhecê-la. Parabéns pela cavalgadura humana, mestre. Sempre por aqui teu leitor e amigo.

Forte abraço

Rodrigo

 

Nota do editor:

O sono de Francisco? Basta clicar


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Sandra Baldessin


 

Sent: Tuesday, October 04, 2005 12:59 AM
Subject: Lição de Cavalaria

 

Poeta Francisco

 

Mitos, Kafka, Hobbes. E o poeta amarrando as pontasRegina Sandra Baldessin soltas da história, ressignificando a lenda e trazendo à memória lições que já deveríamos ter aprendido. Diante do seu texto, poeta, quase acredito que existe resgate para a nossa insuficiência.

 

O meu abraço afetuoso e encantado.

Sandra Baldessin.

 

Scribere - Consultoria em Comunicação Escrita
 


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Sérgio de Castro Pinto


 

Sent: Monday, October 16, 2005 23:40
Subject: Uma grande lição de cavalaria

Sérgio Castro Pinto

 

poeta:

não é uma pequena, mas uma grande lição de cavalaria.

e de poesia!

abraço amigo do

sérgio
 


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Solange Stopiglia


 

Sent: Monday, October 03, 2005 11:50 PM
Subject: Uma pequena lição de cavalaria

 

Olá, Soares Feitosa!

Encho-me em deleite com teus dizeres eSolante Stopligia figuras do homem, criatura pura, antes de ser moldado neste mundo de diabruras.

Tanto homem quando animal (neste caso irracional) são frágeis em sentimentos, podem ter a força física dos músculos firmes, mas seus instintos são como dois pequenos bebezinhos, que ao soar de um ruído rompem a chorar. Ou quando assustados empinam o corpo pesado  nas patas traseiras, derrubando a pequena segurança humana por terra.

Acabou a guerra! Dois iguais, tão fortes por fora, tão frágeis por dentro. Desalento que sinto. Mas encontro em tuas palavras as verdades internas de duas criaturas, tão puras e singelas.

Quando não são manipuladas e forjadas  pela  sociedade.

 Mais uma vez Parabéns, tuas palavras me são  inspiração para criação.

Solange


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Urariano Mota


 

Sent: Monday, October 03, 2005 11:45 AM
Subject: Re:Filósofo! O final, este final.

 

Soares,

Poeta, filósofo, ou "simplemesnte" bom escritor?Urariano Mota

 

Gostei muito do seu alvo certeiro que viu Kafka como um poeta. O grosso da gente acha que a poesia reside apenas no poema, no verso. Desconhecem até a poesia do primeiro beijo.

Abração forte. 

Urariano


 


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Vássia Silveira


 

Caro Soares Feitosa,

Impressionante a viagem proporcionada por Uma pequena lição de cavalaria. Gosto muito da imagem dosVassia Silveira centauros, me remetem a um tempo-espaço onde a razão é desprovida do cetro que nós, ocidentais e herdeiros do cristianismo, a entregamos. Gosto de me perder por brumas e labirintos, acompanhada de figuras imaginárias. E talvez isso explique a respiração suspensa pela leitura de seu texto e os caminhos que percorri a galope, sem crina ou rédeas para me segurar.

Não era mais a figura do cavalo que eu via. Nem a do cavaleiro em seus trajes típicos. Andei em várzeas, montanhas e florestas de palavras. E o animal que me carregava era a página em branco. Eu, pobre amazona à procura de domar um dos mais belos e ariscos animais selvagens: a poesia. "Isto mesmo! Há o tremor para quem está em cima, para quem está embaixo, cavalo e cavaleiro (...). Ambos sabem que o planeta inteiro treme. Pulsam. Indague dos outros cavalos, que, ao frêmito da dupla, retesam as crinas. Indague das feras do dia.".

E, de repente, fez-se noite meu galopar: "Por sobre os cavalos também: há um momento de falar, há um momento de silêncios". 

E o meu rebelde cavalo pára, negando-me a descoberta daquele lugar que ainda não conheci. Então me vem novamente a pequena lição de cavalaria: "Você, em cima do cavalo, é quem dá-lhe as ordem, mas ordens hão de vir de frente, e não de trás. Como seria possível ordens pela frente, se você, no lombo do animal, está atrás dos ouvidos da montaria? Aí é que está o passe de mágica: as palavras são lançadas à frente num ângulo de grau exato, de modo que o cavalo, à medida que corre, vá colhendo-as... e... quanto mais corre, mais ligeiro você joga palavras novas mais adiante (...)".

Parando o cavalo, mostra cansaço também a amazona, num simulacro de aquiescência. Poeta e poema. Cavalo e cavaleiro: "Até tombarem exaustos. Senão mortos".

Tudo com uma pequena lição de cavalaria.

Parabéns pelo texto.

Vássia Silveira.


Direto para a página de Vássia Silveira

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Vicente Franz Cecim


 

Sent: Tuesday, October 04, 2005 5:01 PM
Subject: Lição de Centauro

 
 
Vicente Franz Cecim

Lição de Centauro

 

Mano Francisco,

teu diálogo com o Soares Feitosa,

nesta tua Pequena lição de cavalaria, é uma maravilha: pensássemos que estarias falando realmente de cavalos, mas todo o tempo estás falando do humano, e, a partir disso, da hipótese do Centauro adormecida em nós. O Centauro: Francisco sobre Soares, ou o inverso? Um escritura sobre o Encanto, que me deixou e mantém jubilosamente encantado. Coisa para jamais esquecer. Belos Sortilégios, ao longo dela. E a Imagem de Blake: e as outras - as recorrências a Kafka e aos Selos do Apocalipse de João de Patmos.

Tudo Ouro Puro que cintila, primeiro para olhos cegos. Só me lembro de ter encontrado coisa assim pelo Nordeste em Guimarães Rosa e, também, lá em Suassuna. A Idade Média Européia persiste como fantasmagoria no Sertão. 

 

Meu Abraço e minha Alegria,

muitamente,

teu Franz

da Floresta Sagrada. 

Vicente Franz Cecim


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Vicente Freitas


 

Sent: Tuesday, October 04, 2005 5:01 PM
Subject: Lição de Cavalaria

 

Li com muito prazer sua grande lição de cavalaria. Vicente Freitas

Gostei muito. Muito mesmo.

Inspirado no seu trabalho, escrevi alguma coisa sobre centauros, cavalos e cavaleiros, e que já lhe envio, anexo.

Abraços.

VICENTE FREITAS
 

 

 

LIÇÃO DE CAVALARIA

Amigo Francisco: Lendo seu monólogo, ou melhor, seu diálogo consigo mesmo, sobre lição de cavalaria, me senti, de repente, encantado, ou seja, de início, achei mesmo que eu não passava de um cavalo, depois estive meditando, e, como cavalo não medita, acho, cheguei à conclusão que sou, no mínimo, um centauro; afinal, todos nós temos um pouco de centauro, não é mesmo?

E já que estamos comemorando os quatrocentos anos do D. Quixote. E como D. Quixote é, na verdade, um centauro, pois não existe D. Quixote sem parte de homem e parte de cavalo, assim como não existe D. Quixote sem Sancho Pança. Mas antes da personagem genial de Cervantes vamos matutar um pouco sobre os centauros...

Na mitologia grega, eram eles a personificação das forças naturais. Centauro era um animal fabuloso que habitava as planícies da Arcádia e da Tessália. Seu mito foi, possivelmente, inspirado nas tribos semi-selvagens das zonas agrestes da Grécia. Segundo a lenda, era filho de Ixíon e de Nefele, deusa das nuvens, ou então de Apolo e Hebe. A estória mitológica dos centauros está quase sempre associada a episódios de barbárie. Convidados para o casamento de Pirito, rei dos lápitas, os centauros, enlouquecidos pelo vinho, tentaram raptar a noiva, desencadeando-se ali uma terrível batalha. O episódio está retratado nos frisos do Partenon e foi um motivo freqüente nas obras de arte pagãs e renascentistas. Os centauros também teriam lutado contra Hércules que os teria expulsado do cabo Mália. Contudo, nem todos os centauros apareciam caracterizados como selvagens. Um deles, Quirão, foi instrutor e professor de Aquiles, Heráclito, Jasão e outros heróis, entre os quais Esculápio. Entretanto, enquanto grupo, foram eles notórias personificações da violência, como se vê em Sófocles.

Já os cavalos, quando de carne e osso, não têm nada de mitológicos. Mas existem cavalos para todos os gostos, inclusive cavalo de pau – o de Tróia – como consta n’A Ilíada, um dos épicos de Homero, e que narra a guerra que causou a destruição da cidade, um dos mais ricos e extensos sítios arqueológicos do mundo antigo. A lenda do conflito entre aqueus e troianos pela posse da cidade forneceu o argumento da Ilíada e obras posteriores. No século IV d.C., desapareceram completamente os vestígios históricos de Tróia. Páris, filho do rei Príamo, raptara Helena, esposa de Menelau, rei de Esparta, famosa por sua beleza. Para se vingar, Menelau formou um poderoso exército comandado por Agamenon, no qual se destacaram Aquiles e Ulisses. O cerco de Tróia foi marcado por feitos heróicos de ambos os lados, até que, sob inspiração de Ulisses, os gregos construíram um gigantesco cavalo de madeira e o abandonaram nas portas de Tróia. Apesar dos presságios de Cassandra, os troianos levaram para dentro dos muros da cidade o cavalo, que trazia em seu interior os guerreiros de Ulisses. Abertas as portas, os gregos saquearam e destruíram Tróia. O herói troiano Enéias, filho de Vênus, escapou com alguns partidários e, depois de muitas aventuras, se instalou no Lácio. Os descendentes desse grupo deram origem ao povo romano. É quase certo que a lenda tenha um núcleo de verdade, mas é impossível provar-lhe a historicidade. Uma interpretação de documentos favoreceu a hipótese de que os aqueus fossem um povo pré-helênico originário da Europa. Na época de Tróia, os aqueus, teriam se espalhado pelo Egeu e formado colônias de micenianos, de onde mais tarde saíram conquistadores de Tróia. O cavalo de madeira teria sido uma invenção de Odisseu, o guerreiro mais sagaz da Ilíada e personagem da Odisséia.

Quanto a D. Quixote e seu cavalo Rocinante, Cervantes criou, na verdade, com seu engenhoso Fidalgo de La Mancha, o embrião do romance moderno, uma das personagens mais populares da história da literatura e ainda deu vazão ao surgimento do termo, de uso universal, “quixotesco” que define o comportamento de alguém como sonhador, ingênuo, romântico e trapalhão. Aclamado como a maior obra de ficção de todos os tempos, numa eleição promovida pelo Instituto Nobel da Noruega – tido, inicialmente, como uma sátira às novelas de cavalaria – o livro tornou-se, com o passar dos séculos, uma das obras mais significativas da literatura universal, reveladora de sentimentos, paixões, fraquezas e grandezas do ser humano.

A invasão de novas edições de D. Quixote, talvez se justifique, como uma espécie de comemoração dos 400 anos do livro, publicado em 1605. Nos Estados Unidos, acabou de sair vasta biografia de Cervantes, que, ao contrário de seu famoso contemporâneo Shakespeare – pastorador de cavalos – é bem mais conhecido. Cervantes nasceu em Alcalá de Henares, na Espanha, em 1547, filho d’um cirurgião e uma nobre empobrecida. Na adolescência, trabalhou como camareiro para o cardeal italiano Acquaviva. Ainda jovem alistou-se nas tropas pontifícias para lutar contra os turcos que ameaçavam a Europa, o que lhe custou a perda da mão esquerda. Tempos depois, durante viagem de retorno ao território espanhol, foi capturado por turcos e passou cinco anos preso na Argélia. Saindo da prisão e desiludido da vida militar, retorna à Espanha e se dedica com afinco à literatura. Para sobreviver, assume o cargo de comissário de abastecimento e depois passa a trabalhar como coletor de impostos. Acusado injustamente de desviar verbas, é levado à prisão em Sevilha, onde escreve a primeira parte de D. Quixote.

A crítica de Cervantes às histórias da época, surge envolta com humor e compaixão pela figura do cavaleiro, que se atirava às cegas à propaganda da cavalaria. No prefácio da obra, o autor conversa com seus leitores e até justifica sua personagem:
"Acontece, muitas vezes, ter um pai um filho feio e desengraçado, mas o amor paternal lhe põe uma venda nos olhos para que não veja as próprias deficiências, antes, as julgue como discrições e lindezas, e fique sempre a contá-las aos amigos, como agudezas e donaires. Porém eu, que ainda não pareço pai, não sou contudo senão padrasto de D. Quixote”.

Um escritor que tem confessado inspiração – que ele chama “obsessão” – em Cervantes e seu D. Quixote é Ariano Suassuna. Quaderna, figura principal de A Pedra do Reino, foi comparado a personagem do Miguel. Em um dos seus depoimentos, Suassuna, no entanto, ressaltou que há semelhanças, sim, mas a principal diferença entre sua criatura e a do escritor espanhol está em uma certa lucidez na hora de sonhar: "Eu noto uma diferença entre D. Quixote e Quaderna, diz Ariano. É que D. Quixote enlouquece lendo os livros de cavalaria e acredita neles. Quaderna, não. A personagem apresenta bem claramente a diferença – “Minha vida cinzenta, feia e mesquinha de menino sertanejo, reduzido à pobreza e à dependência pela ruína da fazenda do pai”. Quer dizer, ele sabe que a vida é triste, dura, feia, áspera, e lança mão do folheto e dos espetáculos populares como defesa. Mas tudo lucidamente. O mesmo não se pode dizer em relação a D. Quixote”.

Veja, Francisco, lendo sua lição de cavalaria, passei a sonhar com cavalos, centauros e D. Quixotes. Afinal, D. Quixote é um homem de todas as épocas e de todas as regiões do mundo, e cada qual o identifica e entende, logo se aperceba de que o drama do pobre cavaleiro louco é o drama de todos os homens que sabem o que é um sonho ou alguma vez o acalentaram. É que todos nós temos um pouco de centauros, cavalos e Quixotes... Será?

Grande e fraterno abraço do seu leitor.

VICENTE FREITAS

 

Direto para a página de Vicente Freitas

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Victor Mikhailovich Vasnetsov, Rússia, 1848-1926, The knight at the crossroads

Victor Mikhailovich Vasnetsov, Rússia, 1848-1926, The Knight at the Crossroads