Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

Maria da Conceição Paranhos


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Alguma notícia da autora:

Sophie Anderson, Portrait Of Young Girl

 

Allan Banks, USA, Hanna

 

 

 

 

 

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Maria da Conceição Paranhos



Soares Feitosa

O Segredo das Fontes

 
 

Cinqüenta anos, cearense, movendo-se para a cidade de São Salvador, graças a Nosso Senhor do Bomfim que o está enviando como arauto de uma poesia que há alguns anos demanda seu lugarSoares Feitosa, dez anos em nossa literatura.

Até ficamos com medo dessa exigência da História, da Memória, da Experiência. É uma explosão implodindo e explodindo sucessivamente, para o momento apical da assestada em papel branco. Como uma realização das profecias de Poe e Baudelaire de modo radical, uma retomada de Lautréammont na era da eletrônica. A qual Soares Feitosa usa feericamente, na ânsia de visualização da torrente estourando de todas as comportas:
 

Les perfums, les couleurs et les sons se répondent 
Il est des perfums frais comme des chairs d’enfants,
Doux comme les hautboi;  verts comme les prairies
Et d’autres, corrompus, riches et triomphants, 
Ayant l’expansion des choses infinies

 

Correspondem-se os perfumes, os sons e as cores
Alguns perfumes tem da criança o frescor 
A maciez do oboé, das matas o verdor
E ricos outros são, triunfantes, corrompidos
Possuindo a tradução dessas coisas sem fim.
(Trad. Cláudio Veiga)


        Soares Feitosa muda-se para cá (nas articulações exteriores) a serviço. Até setembro de 1993 nunca tinha escrito uma linha sequer de poesia. Então explodiu implodindo e explodindo num épico cuja extensão atordoa e faz vacilar, um monstro lírico e telúrico nascendo desse rufar de tambores de guerra e de conquista.

Livro que o seu autor também não se cansa de dizer entre perplexo e deslumbrado “é espantoso, é poesia, é grande poesia”, com a simplicidade de um matuto de emoção simples numa mente poderosamente sofisticada e erudita nos clássicos.

Só quer Grécia e Roma; depois ele não sabe mais nada. Eis então que, no alvorecer do Terceiro Milênio, ele responde ao segredo das fontes.

 

 

 

 

 

 

 

 

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Maria da Conceição Paranhos



 

Bio-bibliografia:
 

Maria da Conceição Paranhos Pedreira Brandão, nasceu em Salvador, Bahia, Brasil, em 8 de junho de 1944, passou a publicar seus primeiros textos em periódicos de Salvador, a partir dos seus 16 anos de idade. Com a publicação do primeiro livro, Chão Circular, com o prefácio de Adonias Filho, em 1969, ganhou o Prêmio Arthur de Salles.

Responsável pela criação da Divisão de Produção Literária do Departamento de Literatura da Fundação Cultural do Estado da Bahia, quando realizou várias oficinas de criação e crítica literária. Ficcionista, premiada nacionalmente no gênero conto[5]; é também dramaturga, tradutora tem a maior parte de sua obra inédita, em poesia embora esteja presente em inúmeros: Livros, Antologias, Revistas, Periódicos. Ganhou vários prêmio, na categoria poesia, conto e ensaio (literatura), faz conferências e comunicações sobre o tema da teoria e da crítica literária, da literatura comparada, da literatura Brasileira, da teoria da história e da filosofia, no Brasil e nos Estados Unidos.

Autora do livro As Esporas do Tempo, que lhe concedeu o prêmio COPENE de Literatura e Arte. Formada em Letras, cursou o Bacharelado, na Faculdade Santa Úrsula da PUC, do Rio de Janeiro, e teve a licenciatura pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), professora adjuvante do Instituto de letras da Universidade Federal da Bahia, onde já lecionou:Língua Portuguesa, Teoria da Comunicação, Literatura Brasileira, Literatura Comparada.

Mestra em literatura comparada pela Universidade Federal da Bahia, PH.D. pela Universidade da Califórnia, de Berkeley (EUA).


DADOS BIBLIOGRÁFICOS (poesia)

  • Poemas. In: AZEVEDO FILHO, Leodegário Amarante de/PORTELLA,    Eduardo. Moderna poesia baiana (antologia). Apresentação de Walmir Ayala.  Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,1967 (Coleção Tempoesia – 7).

  • Viagem. In: 25 poetas/Bahia:de1633 a 1968.  Salvador: Secretaria de Educação e Cultura do Estado da Bahia, 1968.

  • Poemas. In: Serial, 1968.

  • Chão circular. Salvador: Imprensa Oficial da Bahia,1970.

  • Os reis são chegados.  In: Festas da Bahia. Álbum de poemas e gravuras. Salvador: Imprensa Oficial da Bahia,1970.

  • Natal. In: Breve romanceiro do Natal.  Apresentação de Timóteo Amoroso Anastácio, O.S.B. Salvador: Editora Beneditina, 1972.

  • ABC re-obtido. Salvador: Bureau Gráfica e Editora, 1974.

  • Poema.  In: Antologia de poesia da Bahia em alfabeto Braille. Salvador: Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1976.

  • Os eternos tormentos. Salvador: Edições Macunaíma, l986.

  • Poemas. In: BRASIL, Assis. A poesia baiana no século XX (antologia). Rio de Janeiro: Imago; Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1999 (Coleção Poesia Brasileira).

  • As vãs procelas. In:  Poemas soltos(seleta de poemas). Coordenação de Ildásio Tavares. Salvador: Edições Palmares 2000. XXIV.

  • Poemas. In: TAVARES, Simone Lopes Pontes. A paixão premeditada. Poesia da geração 60 na Bahia. Salvador: Imago; Fundação Cultural do Estado da Bahia, 2000. (Coleção Bahia: Prosa e Poesia).

(Texto redigido em 03.01.2023)

 

 

 

 

 

 

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Ildásio Tavares



Uma poesia neobarroca
  

 
 

Meus primeiros contactos com a poesia de Maria da Conceição Paranhos datam dos idos de 1965/66, na Faculdade de Filosofia da UFBA, onde, recém-graduada, ela ensinava. Ao ter acesso aos seus poemas, de imediato percebi neles uma forte influência do Barroco – via, inclusive, os poetas do “Grupo Festa”, marcadamente Cecília Meireles e Tasso da Silveira, mestre e amigo da escritora, na convivência da Faculdade Santa Úrsula da PUC/RJ. Boa árvore, bons frutos.

Nessa vertente neobarroca e com a preocupação da forma apurada, Maria da Conceição situava-se na tendência que entendo como “o barroco da forma”. E continuou.

Pouco depois, eu selecionaria seus poemas – para uma antologia hoje histórica, Moderna Poesia Bahiana (1969) –, que ainda passariam, numa outra etapa, pelos critérios seletivos de Eduardo Portella, Leodegário Azevedo Filho e Helena Parente Cunha. Seus poemas ali publicados são dos melhores na antologia. Um deles, “Canção do Caminhante” – dedicado ao mestre Tasso – chamou a atenção de Ariel Canzani D., que o traduziu para o castelhano e publicou-o na Revista Internacional de Poesia Cormorán y Delfin. A poetisa estreava bem.

Daí por diante fui acompanhando de perto sua trajetória, a dialética do seu crescimento – que mais se esmerava na demanda do santo graal da forma, esmerilhando as palavras, num caminho informado pela tradição clássica, afivelando os manejamentos da emoção. Mas sempre poeta. E ainda sem perder suas tonalidades barrocas, mesmo no ABC Re-obtido (1976), que poderia parecer, ao leitor menos atento, mero exercício de linguagem e, no entanto, revela-se muito mais, perquirindo a existência humana ao nível da essência, em detrimento da aparência imediata.

Sabe-se, o Barroco é um estilo de fusão. Fusão de extremos, se quiserem. O humano e o divino. O feio e o belo. E por aí lá vai. Posso dizer que a poesia de Maria da Conceição, ao oscilar dialeticamente entre dois pólos, cada vez mais se aproxima do equilíbrio, desiderato do grande poeta, para ser óbvio.

“O que em mim sente, está pensando”, disse o bardo luso. E é assim que se lêem os livros mais recentes dessa poetisa da Bahia, a exemplo de Os Eternos Tormentos, As Esporas do Tempo – no qual o erotismo acha caminho em sonetos ímpares na poesia feminina brasileira –, e no variegado Minha Terra e Outros Poemas (2001). Neste, Maria da Conceição Paranhos arrisca-se em expor a emoção, encerrando-o com a magistral “Ode a Anadiômena” (uma das qualidades de Afrodite, a deusa grega do Amor, cuja versão latina é a Vênus). Aqui, a viagem se faz pelo tempo, trazendo o antes para o agora e o agora para a voz lírica.

Este novo livro, Delírio do Ver, seleta de poemas escritos num estirão de mais de trinta anos (1970 – 2001), revela um itinerário poético ascendente em maestria e maturidade artesanal.

Poucas pessoas estarão fazendo poesia tão pacientemente construída, tão inteligentemente elaborada neste país de poemas em rascunho.

 

 

 

 

 

 

 

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Quatro sonetos cardinais



1.
 

Rosa e ouro se mesclam no teu sexo,

tão gaia espera, confundindo a busca

da flor cilíndrica que tens no púbis.

Quanto me atinges, seta no meu peito?

 

Colho teu sumo em corpo tão trançado

ao teu enlevo, que me rouba o fôlego,

enquanto o brilho dos teus olhos sádicos

esmaga minha boca a insano sorvo.

 

Tento dizer-te do tremor da casa,

mas só entendes do ganir do lobo

em minha toca a estertorar de gozo,

 

a trucidar-me com tua adaga em chama,

menos espero, e já me emborcas, louco.

O meu deleite a ti te adentra. Amas?

 

2.
 

Mor ventura não há neste meu fado

do que mirar teu corpo e usufruí-lo,

pausadamente, a mão a desvesti-lo,

saboreando teu olhar de dardos,

 

enquanto sofres com meu gesto lento –

ânsia mortal qual susto em punho destro,

mas à sinistra teço-te uma festa,

deslizando sussurros no teu peito.

 

Levo tua mão a cada poro intacto:

recobras-me novel e me entrelaças

com vendaval de sons em presto tato.

 

Cobra no bote, tuas coxas presas,

enrodilhado em meus joelhos altos,

danças e lanças seta no meu alvo.

 

3.
 

Quero teu corpo quanto quero à chave

retorcer-se em estreita fechadura.

Quando tu tranças tua pele tersa,

exibes nervo e músculo, arma-dura.

 

Que me estarreces! Miro, deslumbrada,

a ruga tesa e tensa da procura

do rego rijo onde te largas, ávido,

galopando as campinas da luxúria.

 

Dorso e penugem vejo-te. E revejo

o teu espelho, que a memória é falha.

Teu desatino encontro, meu amigo,

 

gesto lúbrico, inchado de desejo,

e, sábia mão, tu me abres como a livro

inda não lido, prenhe de tuas marcas.

 

4.
 

Teu dormir só suscita meu desejo,

pois eu, então, vejo tua chama insone –

corcel insano em desandado trote,

que me galope enquanto ainda sonho

 

com toda a lava que nos cobre e me arde

em fronha de cetim que se entreabre

ao corpo túrgido, encerrado, dentro,

rasgando a pele – em gana transformado,

 

rugindo rouquidão. Mucosa ávida,

escancarando-se a teu beijo álacre,

cortante gládio a lacerar-me o gáudio.

 

Com lassa boca, plena de alvoradas,

eu te derroto quando, exausto, tombas,

e eu te profano com meu terno afago.

 

 

(Maria da Conceição Paranhos. De As Esporas do Tempo. Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado / COPENE, 1996. Prêmio COPENE de Cultura e Arte)

 

 

 

 

 

 

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