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Mário Cabral

Theodore Chasseriau, França, 1853, The Tepidarium

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia do autor:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Allan Banks, USA, Hanna

 

William Blake, Death on a Pale Horse

 

 

 

 

 

 

 

 

Jacques-Louis David (França, 1748-1825), A morte de Sócrates

 

 

 

 

 

Mário Cabral


 

Bio-bilbiografia


Natural da ilha Terceira, Açores (1963), licencia-se em Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1986), onde também fez o Doutoramento com a tese: Via Sapientiæ: da Filosofia à Santidade – a Inspiração Cristã do Pensamento Contemporâneo Português a partir de Delfim Santos, Teixeira de Pascoaes e Agostinho da Silva.

Para além das publicações científicas, tem publicadas as seguintes obras de Literatura: Histórias duma Terra Cristã (Crónicas, Horta: 1995); O Meu Livro de Receitas (Poesia, Guimarães: Pedra Formosa, 2000), O Livro das Configurações (Romance, Porto: Campo das Letras, 2001) e O Acidente (Romance, Porto: Campo das Letras, 2005).

Está traduzido para castelhano (Ventana a la Nueva Poesía Portuguesa, México: Desierto, 2001) e para Inglês (On a Leaf of Blue: Bilingual Anthology of Azorean Contemporary Poetry, Berkeley: Institute of Governmental Studies Press – University of Califórnia, Berkeley, 2003).

Mário Cabral também é pintor, tendo a sua última exposição de desenhos acontecido em 2005.

Neste mesmo ano entrou para a Ordem Franciscana Secular, fraternidade de Angra.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mário Cabral


 

O saber do poeta


O Saber do Poeta consiste em ter na mão uma gema de ovo
Ver na gema de ovo o sol e sofrer queimadura de terceiro grau
Ter a palma da mão puro espelho reflexifulgente
Obrigar, portanto, a linguagem, como se vê, a reflectir
A reflexão do Poeta é a que vê mais perto:
Vai da gema para o sol, vai da gema para a pedra preciosa
Vai da gema para as chagas de Cristo
Vai da gema para o Conhecimento gemelar de todo o Ser.
E pela queimadura da mão entra no corpo o sol
Incendeia a mente do Poeta que, porque mente
E a esta escala, não pode ser levado muito a sério
Por quem se encontre em patamar inferior da escada.
O Poeta grita alto, ele avisa do alto do altíssimo:
- Não se aproximem dos ovos! E o eco justamente repercute:
- Aproximem dos olhos! Aproximem dos olhos!
Ao mesmo tempo mostra a palma da mão livre. Pretende exemplificar
O Universo inteiro está nas linhas deste mapa que respira.
De algum modo o povo reconhece o Saber do Poeta
Há que ser apenas um a salvar o Pai sol do anonimato;
Reconhece o sangue frio do toureiro e, por conseguinte, nos dias de festa]
O Poeta deixa a cozinha, enverga o traje da Luz, entra na arena
Uma arena é ainda uma gema, percebe-se pelo som das palavras.
Vitorioso, a corrida é paga com cestas e cestas de ovos e ovos
Que o Poeta leva para o alto, para o altíssimo
Vai acompanhado por um aprendiz que deixa a família a chorar
No alto do altíssimo vai chocar os ovos e de cada ovo
Uma estrela e é por isso que nesta língua circular
Se chamam céus estrelados aos céus da felicidade
Da plena felicidade, da plena felicidade.


 

 

 

 

 

19/06/2006