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Mauro Mota

John Martin (British, 1789-1854), The Seventh Plague of Egypt

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia do autor:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ticiano, Magdalena

 

Henry J. Hudson, Neaera Reading a Letter From Catallus

 

 

 

 

 

 

 

Frederic Leighton (British, 1830-1896), Antigona,detail

 

 

 

 

 

Mauro Mota


 

Bio-bibliografia


Mauro Mota (M. Ramos da M. e Albuquerque), jornalista, professor, poeta, cronista, ensaísta e memorialista, nasceu em Recife, PE, em 16 de agosto de 1911, e faleceu na mesma cidade em 22 de novembro de 1984. Eleito em 8 de janeiro de 1970 para a Cadeira n. 26, na sucessão de Gilberto Amado, foi recebido em 27 de agosto de 1970, pelo acadêmico Adonias Filho.

Filho de José Feliciano da Mota e Albuquerque e de Aline Ramos da Mota e Albuquerque, estudou na Escola Dom Vieira, em Nazaré da Mata, no Colégio Salesiano e no Ginásio do Recife. Diplomou-se na Faculdade de Direito do Recife em 1937.

Tornou-se professor de História do Ginásio do Recife e em várias escolas particulares; catedrático de Geografia do Brasil, por concurso público, do Instituto de Educação de Pernambuco. Desde os anos universitários colaborava na imprensa. Foi secretário, redator-chefe e diretor do Diário de Pernambuco; colaborador literário do Correio da Manhã, do Diário de Notícias e do Jornal de Letras do Rio de Janeiro. De 1956 a 1971, foi diretor executivo do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais; diretor do Arquivo Público de Pernambuco, de 1973 até 1983; membro do Seminário de Tropicologia da Universidade Federal de Pernambuco e da Fundação Joaquim Nabuco. Foi membro do Conselho Federal de Cultura de Pernambuco e do Conselho Federal de Cultura.

Como poeta, destaca-se por suas Elegias, publicadas em 1952. Nessa obra figura também o "Boletim sentimental da guerra do Recife", um dos seus poemas mais conhecidos. Sua poesia é de fundo simbólico, sobre temas nordestinos, retratando dramas do cotidiano em linguagem natural e espontânea.

Recebeu o Prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras e o Prêmio da Academia Pernambucana de Letras por suas Elegias (1952); o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, e o Prêmio PEN Clube do Brasil, pelo livro de poesias Itinerário  (1975).

OBRAS POESIA: Elegias (1952); A tecelã (1956); Os epitáfios (1959); O galo e o catavento (1962); Canto ao meio (1964); Antologia poética (1968); Itinerário (1975); Pernambucânia ou cantos da comarca e da memória (1979); Pernambucânia dois (1980); Antologia em verso e prosa (1982).

ENSAIO CRÔNICAS: O cajueiro nordestino (1954); Província e academia (1954); Itinerário da escola (1956); Paisagem das secas (1958); Capitão de fandango (1960); Geografia literária (1961); Terra e gente (1963); História em rótulos de cigarros (1965); Quem foi Delmiro Gouveia? (1967); O criador de passarinhos (1968); O pátio vermelho, crônica de uma pensão de estudantes (1968); Votos e ex-votos, aspectos da vida social do Nordeste (1968); Os bichos na fala da gente (1969); Pernambuco sim, em colaboração com Gilberto Freyre e Roberto Cavalcanti (1972); Modas e modos (1977); A estrela de pedra e outros ensaios nordestinos (1981); Barão de chocolate e companhia (1983).

Escreveu prefácios a vários livros e colaborações em obras coletivas, como a enciclopédia Mirador Internacional, e textos seus foram inseridos em antologias nacionais e estrangeiras. Tem registros sonoros em disco (Boletim sentimental da guerra do Recife e Mauro Mota em prosa e verso) e em gravação para o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro e de Pernambuco.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Andreas Achenbach, Germany (1815 - 1910), A Fishing Boat

 

 

 

 

 

Mauro Mota


 

Humildade


Que a voz do poeta nunca se levante
para ter ressonâncias nas alturas.
Que o canto, das contidas amarguras,
somente seja a gota transbordante.
Que ele, através das solidões escuras
do ser, deslize no preciso instante.
Saia da avena do pastor errante,
sem aplausos buscar de outras criaturas.

Que o canto simples, natural, rebente,
água da fonte límpida, do fundo
da alma, de amor e de humildade cheio.

Que o canto glorificará somente
a origem, quando mais ninguém no mundo
saiba ele de quem foi ou de onde veio.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Titian, Venus with Organist and Cupid

 

 

 

 

 

Mauro Mota


 

O Guarda-Chuva



Meses e meses recolhida e murcha,
sai de casa, liberta-se da estufa,
a flor guardada (o guarda-chuva). Agora,
cresce na mão pluvial, cresce. Na rua,
sustento o caule de uma grande rosa
negra, que se abre sobre mim na chuva.



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Bathsheba

 

 

 

 

 

Mauro Mota


 

Pastoral


Não disse de onde veio. Apenas veio
quase flutuante pela madrugada.
A flauta e um zelo musical em cada
ovelha e em todas do seu pastoreio.
Toca. (Para o rebanho?) A sua toada
interrompe-se às vezes pelo meio.
Dela não quer somente o vale cheio:
quer levá-la mais longe. Quando nada

houver mais dos cordeiros e dos pastos,
do viço matinal, dos brancos rastos
de lã, dos guizos de uma ovelha incauta,

fique a lembrança do pastor fugace,
que foi pastor só para que ficasse
nas colinas a música da flauta.



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Empire of Flora

 

 

 

 

 

Mauro Mota


 

Mudança



Não ficaram na mudança nem o pé de sabugueiro e o cheiro dos cajás,
os passos da mãe no corredor, a noite,
o medo do papa-figo, as sombras na parede.
A casa inverte a missão domiciliar, sai da rua.
A casa agora mora no antigo habitante.



 

 

 

 

 

02/08/2006