Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

Eliana Mora

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904) - Phryne before the Areopagus

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Contos:


Alguma notícia da autora:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A menina afegã, de Steve McCurry

 

Da Vinci, Cabeça de mulher, estudo

 

 

 

 

 

 

 

 

Winterhalter Franz Xavier, Alemanha, Florinda

Eliana Mora


 

Bio-bibliografia


Eliana Mora é jornalista e poeta. Trabalha com consultoria em Comunicação; organização e revisão de livros; consultoria poética e leciona cursos de Locução & Interpretação.
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Eliana Mora


 

Somos aéreos


ElAl voa
pelos céus da Terra Santa
corta o mundo para além
dos preconceitos
deixando para trás
a Palestina

Nossa companhia se parece
com a ElAl
seria como um sonho
em meio às nuvens
[ou um lindo projeto
de menina]
ElAl voa carregando
a multidão
nunca descartando
a existência de uma bomba
fazendo muito rígida
inspeção
E tu voas
carregando no teu peito
somente um
arte-fato de mulher
[um coração]

E com ele o simples fato
de a terra palestina
parecer
brincadeira de menina

[e o teu peito
parecer uma explosão]

 

 

 

 

Bernini_Apollo_and_Daphne_detail

Início desta página

Claudio Willer

 

 

 

 

 

 

 

 

Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

 

 

 

 

 

Eliana Mora


 

Filosofia


Do acaso
e dos
descaminhos
vivemos nós
eternos
em nossa caminhada
que um dia
acaba
aqui

Pálido e etéreo
dado
no jogo de dados
dedos
sutis mãos
em movimento
Mais dados
para
viver esta Passagem

Saber de tudo
e de nada
é saber
do sabor
da existência

 

 

 

 

Franz Xavier Winterhalter, retrato de Roza Potocka

Início desta página

Lauro Marques

 

 

 

 

 

 

 

 

Rubens, Julgamento de Paris

 

 

 

 

 

Eliana Mora


 

Já disse Dante


A distância
entre o Céu e a Terra
se pode medir apenas
pela falta que sentimos
da pessoa que está
dentro de nós
[lá possui lugar cativo]
Falta penetrar de novo
em nossas partes
afogando-se nas quedas
de nossas cachoeiras
perdendo-se nos rios
e afluentes
para ir até o mar
das maravilhas
Por que em nossas veias
já injetou
seu licoroso Porto
aportou entrou e invadiu
Trazendo para muito perto
as portas do Céu
E o passaporte para
o Inferno
carimbou assinou
[e partiu]
 


 

 

 

Maura Barros de Carvalhos, Tentativa de retrato da alma do poeta

Início desta página

Raymundo Silveira

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

 

Eliana Mora



Metáfora do Apocalipse


Para quem pensa que os deuses
ainda estão preparando algum sermão
para quem reza todo dia
se ajoelha por perdão a seus pecados
antes mesmo de os cometer
[sequer sonhar]
para quem teme e somente se alivia
com muita privação
[e com muita hipocrisia]
Para quem prevê um acontecimento
para quem lembra que a Bíblia
falou em Apocalipse
alguma coisa que seria
nos anos dois mil
[e Nostradamus também anteviu]

E tal e qual para
quem acha que nada está errado
que o mundo virou apenas do outro lado
porém que ao segurar com jeito
ele não cai
só entorta um pouco
[já existe uma torre com defeito]

Nada de temer de se humilhar
de se punir
nada de verter crocodilos
pelos olhos
[e de pensar Oh como antes era bom]
nada de esperar acontecimentos
estrambólicos
como fogo furacão
ou terremoto
águas portentosas
ou volúpia de vulcão

Por que o homem
esse amor de criatura
[ele mesmo]
conseguiu concluir tudo a seu jeito
e para tal estratégia perpetrar
nem precisou de seu deus
sua fé ou devoção
nem sequer de se vergar
a algum preceito

O que mais se alardeava
já chegou
e chegou deixando alguns avisos
que eles [os homens]
não quizeram ver
por detrás de seus óculos de
fundo de garrafa
do interesse pessoal
e do Poder

Chegou o Apocalipse
antes da hora
em que tantos magos e videntes
se inspiraram
ou encheram suas burras de dinheiro
daqueles que só temem o castigo
[ou mesmo de profanos]
todos à cata de um espaço
no cargueiro

Chegou a hora sim
meu companheiro
a metáfora do Fim já está aí
o mundo definha como fruto murcho
e atônitos nos deparamos
a constatar a preocupação geral
com gravatas relatórios
e charutos

E com nada acontecendo
de isolado
está tudo meio doido
atrapalhado
ao mesmo tempo sob controle
do Global
e ao mesmo tempo
por demais descontrolado

Como se o momento da implosão
fosse avançando
e uma ilha pendurada
em lindos sonhos de cristal
fosse ficando a meio pique
perdendo seu rumo
para juntar-se às garrafas
que flutuam
na imensidão de um
azul celestial


[Quem iria adivinhar
o Homem
assim obediente
a uma cisma milenar?]
 

 

 

Albrecht Dürer, Head of an apostle looking upward

Início desta página

Ildásio Tavares

 

 

 

 

 

 

 

 

Theodore Chasseriau, França, 1853, The Tepidarium

 

 

 

 

 

Eliana Mora



Casinha portuguesa


O teu silêncio
faz eco
preenche os cantos
da casa
caminha pelas paredes
[parece uma
lagartixa]
sombreia de luz
opaca
paredes empoeiradas
revestidas
do cetim
de uma lembrança
tão viva
de um sorriso
cheiroso
com gostinho
de alecrim
Será esta uma casa
portuguesa
com paninhos sobre
a mesa
[com certeza]
ou será apenas
cela
grades tapando
a janela
paredes sem
aquarela
e noites
noites sem fim?
 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), The Pipelighter

Início desta página

Valdir Rocha

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Rinaldo e Armida

 

 

 

 

 

Eliana Mora



Para Van Gogh


Procura-se
o dono da Loucura
que nos tira
o sono
que transforma
emoção
em nós
nos nossos músculos

Procura-se o dono
da Loucura
[não para matá-la]
mas para
perguntar
se ele
sobreviveu

 

 

 

Leonardo da Vinci, Embrião

Início desta página

José Valgode

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Rebecca at the Well

 

 

 

 

 

Eliana Mora



Redenção


Quando chego
a sonhar que voei
de verdade
sonhei mais do que voei
[na realidade]
E quando vou abrir os olhos
sem sequer tê-los
fechado
deparo-me com grades
de brinquedo
[que se abrem na
maior facilidade]
Mas que parecem
feitas da argamassa escura
de Shawnshank
[ficção]
ou de Alcatraz
[realidade]
E no entanto vejo
o sol acordar
na minha janela
mostrando de maneira
nem discreta
nem singela
que de fato não estou
numa prisão

E me pergunto
se cheguei a acreditar
um dia
em sair da extrema
fantasia
de me livrar destas paredes
[me livrar deste chão]
Liberdade muitas vezes
é feita com parceiros
uma coisa
que parece
entrar em choque
Com o visgo
que nos liga a muitos
[e invisíveis]
carcereiros

 

 

 

Michelangelo, Pietá

Início desta página

Donizete Galvão

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Empire of Flora

 

 

 

 

 

Eliana Mora



Reino vazio


Todo Rei
toda Rainha
precisam de seus soldados
para ficar lá das torres
usando-os como mísseis
a destruir
seus reinados

E para quê
tudo isso
se no reino de mentira
[dos que só querem
o poder]
não tem súdito
nem nada
Só tem
muita fantasia
só tem
a alma vender
 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Slave market

Início desta página

Alvaro Seiça Neves

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Triumph of Neptune

 

 

 

 

 

Eliana Mora


 

A Santo Dante


Pedi tua proteção
quando vi a tua alma
naquele pequeno livro
de odes a Beatriz
onde oravas para ela
[onde juravas paixão]
e tua vida seguias
sem te entregares senão
à tua sempre Poesia
Tu ó meu Santo Dante
alegraste minhas linhas
e fizeste-me pensar
em quantas mais elegias
farias à tua amada
antes da longa viagem
antes da redenção
[antes da retirada]
E hoje meu santo Dante
me vejo aqui a pensar
a sentir e a cantar
em versos quase rimados
toda tua alquimia
toda tua covardia
aquele medo contido
de conseguir se entregar
A não ser a teu poemas
a teus sonhos quase temas
de alguma religião
a teu Céu a teu Inferno
a toda e qualquer
purgação
E te afirmo
ó grande Dante
tu eras muito poeta
e para mim és a seta
a apontar o receio
de misturar devaneio
a um grande tiroteio
[nas almas que retratavas]
No entanto desejavas
acima de tudo amar
mas suplicaste ao Senhor
com quem tanto conversavas
que levasse Beatriz
[a quem chamavas Amor]
de teus braços suplicosos
de teu amor
aos destroços
Ainda que sem saber
tiraste de ti
[em vão]
o amor de tua vida
para entregares ao mundo
[em amarga solidão]
cantatas
versos divinos
que soam a mim
qual hinos
E entoam
[lentos sinos]
a minha grande
Paixão


 

 

 

Ticiano, O amor sagrafo e o profano, detalhe

Início desta página

Rubenio Marcelo

 

 

 

10/05/2005