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José Godoy Garcia

Thomas Colle,  The Return, 1837

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia do autor:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Michelangelo, Pietá

 

Velazquez, A forja de Vulcano

 

 

 

 

 

 

 

Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova, detail

 

 

 

 

 

José Godoy Garcia



Bio-bibliografia


José Godoy Garcia nasceu em Jataí (GO), a 03 de junho de 1918. Diplomado em Direito. Mora em Brasília Desde 1956. Em 1998, estará completando 50 ano de Poesia e 80 anos de vida. Fez parte da Comissão de Cooperação para a Mudança da Capital. Manteve sempre uma atuação política de esquerda. Trata-se de um dos poetas mais importantes da Literatura Brasileira, importante lembrar que sua obra merece mais estudos. Incluído em antologias publicadas no exterior e no País. Autor de diversos livros, cabendo destacar: Rio do Sono (1948), O Caminho de Trombas (1966), pela Ed. Civilização Brasileira; Araguaia Mansidão (1972), Aqui é a Terra (1980), pela Editora Civilização Brasileira; O Flautista e o Mundo Sol Verde e Vermelho (1994) e O Aprendiz de Feiticeiro (1997).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Caravagio, Tentação de São Tomé, detalhe

 

 

 

 

 

José Godoy Garcia



Minha mão se fosse a sua minha lembrança...


Minha mão se fosse a sua minha lembrança
meu corpo se fosse o seu me olhava.
Minha tristeza sua se fosse a minha
minha tristeza me cantava, minha mão
se fosse a nuvem me chovia,
minha carne se fosse a do tigre
me devorava, ela devora, ela,
devora todo dia o meu sonho.
Mas antes, a carne de meu sonho
fica no varal e eu como, meu pé
caminha e sabe bem quem leva,
meu pé leva a Neurália o pó
que apanha nas estradas, um pó
que poderia contar histórias
de meu chão, uma manta de carne
no varal do mundo pra me comer!
O meu sonho no varal fica só osso.


 

 

 

Culpa

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Jorge Tufic

 

 

 

 

 

 

 

Leighton, Lord Frederick ((British, 1830-1896), Girl, detail

 

 

 

 

 

José Godoy Garcia



A verdade é que um grito na minha boca...


A verdade é que um grito na minha boca
é igual a um grito na boca da noite?
O que é uma palavra descansada?
Haverá sempre no mundo as palavras
descansadas ou haverá ainda outras,
as que não se cansam nunca, as mortas?
As palavras morrem ou são esquecidas?
As palavras que estão no dicionários, elas
estão recuperadas, estão salvas ou apenas
prisioneiras; quem será que tem interesse

na prisão das palavras? As palavras simples
navegarão num mundo complicado com a verve
de sempre ou perderão a compostura?
Haverá, no meio delas, as tontas, as virgens,
as palavras desavergonhadas, as vesgas?

Que pode acontecer com as palavras ocas,
as que estiveram num desastre ou que vivem
nos becos ou nos lupanares imundos, ou as
que esqueceram suas razões, como se bêbadas
e depois da noite sufocante tornaram-se ocas?

Haverá mesmo palavra que tenha em si a fuga
dos sentidos? Haverá, entre elas, uma apenas
que resguardando-se do tédio, pôde ministrar
no silêncio sua dor e sua mentira, para sorrir
na hora H, quando todos estiverem apagados?

As palavras estão no mundo representando
o seu papel, elas estão acovardadas ou não?
Qual é a palavra mais sensata para quando
houver o desastre de avião e tudo ficar em segredo
por falta da caixa preta? Em verdade, existe, sim,

a sensatez das palavras, mas por ora, ninguém ousa.
Não ousando, como se pode agir quando aparecer
na cena um homem sensato, se não temos ordem
de aplicar a palavra exata? Pêsames, é mesmo
a palavra exata? Que palavra mais fina devo dizer

ao morto antes dele morrer? que palavra mais crua
devo dizer ao vivo antes dele me mandar à Merda?
Um trem de ferro chegou, amigo, na estação Soledade.
Que foi que trazia nos seus vagões, o trem de Soledade?
Trazia nos seus vagões os sonetos da “Geração de 45”
.
Ninguém pra receber na estação noturna de Soledade!
As palavras ficaram bem arrumadas, na boquinha, na boquinha!
As palavras arrumadas em nosso Dom Casmurro soneto!
Os vagões estavam resplandecentes! Os vagões de Pêsames!
 

 

 

 

A menina afegã, de Steve McCurry

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Junot Silveira

 

 

 

 

 

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), Reflexion, detail

 

 

 

 

 

José Godoy Garcia



Há cem anos que meu irmão sujo...


Há cem anos que meu irmão sujo
não cumpre sua profecia, as profecias
de meu irmão sujo estão fedidas de nojo,
o rebanho mil não há de correr
da praia para o sertão, nem o sertão
vai virar praia e a praia não vai
virar sertão, só que eles vêm do sertão
e inundam as praias de um senhor
desastre ecológico que um senhor Gabeira
infelicita com sua pai d’égua
sabedoria que
de bicicleta nem Picasso seria tão bruxo
do desastre overdose
mandando petulância e merda
para a mídia de sua laia.
É o país sempre, é o país
obrando nosso destino.
Mas em 1997 haverá pouco pasto
e muito rasto e muito pastor
e o rebanho não será um só.
Nossa vingança é que em 98
haverá pouco chapéu e cabeças à beça.
Há de chover uma grande chuva
e que o Maranhão espouque em letras mais
e que a chuva
de estrelas que há de cair
não caia em forma de bosta.
Até mil e tantos a dois mil não chegará!
Em verdade vos digo, quando as nações
brigam com as nações, Dão Sebastião sairá
com todo o seu exercito. Adeus mundo!
(Os perseguidores do Conselheiro
estão por aí. E Conselheiro
está ainda por aí. E devotos.
E devotos. E devotos.)
 

 

 

 

Albrecht Dürer, Germany, Study of praying hands

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Lau Siqueira

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Morte de César, detalhe

 

 

 

 

 

José Godoy Garcia



Um sol que era como uma laranja...


Um sol que era como uma laranja
Uma laranja como uma estrela n’água
Certa pedra que era como um caramujo
Um caramujo que era como um escroto

Minha perdida esperança que era um sapo
Um sapo que era como um girassol murcho

Aquela estrela que era como uma perdida mãe
Um perdida mãe que era uma santa prostituta
 

 

 

 

Ruth, by Francesco Hayez

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Luiz Bello

 

 

20/06/2005