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R. Roldan-Roldan

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904) - Phryne before the Areopagus

Poesia :


Ensaio, crítica, resenha & comentário:


Alguma notícia do autor:

  • Biografia

 

 

Allan Banks, USA, Hanna

 

Ticiano, O amor sagrafo e o profano, detalhe

 

 

 

 

 

Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

R. Roldan-Roldan


 

Biografia


R.Roldan-Roldan nasce na Espanha. É criado no Marrocos. Formação francesa. Cidadão brasileiro. Infância conturbada: é separado dos pais, durante o pós-guerra, devido à perseguição política. Empregado numa empresa de transporte aéreo, viaja pelo mundo. Numa dessas viagens, um marco em sua vida, é detido por engano no Afeganistão, país que o marcará para o resto de sua existência. Em 1996, já gerente de uma multinacional e com três filhos, abandona absolutamente tudo para dedicar-se à literatura. Come o pão que o diabo amassou. Mas, coerente e liberto, assume seu destino e sente-se finalmente digno e em paz. É autor de 20 livros publicados. Os 5 primeiros (3 na França e 2 no Brasil) são por ele destruídos depois de editados e não constam de sua bibliografia. Sua obra, que abrange romance, conto, poesia e teatro, vai aos extremos. Como sua vida. Com a qual se confunde. Da paixão ibérica, do ceticismo gaulês, do solo islâmico e da sensualidade tropical surge a cor intrínseca de sua identidade, obsessão e tema principal de sua obra.

Sites:
Escrever Para Sentir-se Vivo
David Haize



(Texto redigido em 01.03.2023)

 

 

 

 

 

 

Thomas Colle,  The Return, 1837

R. Roldan-Roldan


 

Os úberes do infinito


Vagar pelos rastros da estrelas
contigo ser impossível
debulhando os grãos do Tempo
pelos prados da graça
atrelados à cauda da brisa sideral
os olhos colorindo os espaços virgens
desdobrando lâminas de eternidades
recompondo os séculos acumulados
na ordem plácida da alma
sem partida nem chegada
sem saber
como os deuses não iniciados
matéria florindo o instinto
corpos
apenas corpos ondulantes
na lentidão sagrada da harmonia.


 

 

 

 

 

 

 

R. Roldan-Roldan


 

Balada do Poeta Errante
(À Guisa de Biografia)


Rápido rápido ele está passando
quem é? quem é?
dizem que
a terra de Lorca o viu nascer
a cidade de Ibn Batouta o viu crescer
o país de Baudelaire o educou
o de Bandeira o adotou
e o mundo ele abraçou
e de estar passou a ser
será?
quem é? quem é?
ele já passou

Venho de longe
espaço aberto tempo ido
filho errante do Planeta
pelas sendas do universo
viajo de poesia
de louros e espinhos siderais coroado
vestido de abismos
perfumado de paixão
enfeitado de trigo e papoulas
permaneço no entanto com os pés no chão
e embora segregado da Grande Sinfonia
carrego na lembrança atávica
sóis de antanho
estrelas de Belém
luas de outrora
rios sagrados
e o gozo da terra em cio

Rápido rápido ele está passando
quem é? quem é?
dizem que
morou num galpão
morou num porão
morou numa pensão
trabalhou numa corporação
onde quase fodeu o coração
de tanto militar na putificação
será?
quem é? quem é?
ele já passou

Venho de longe
espaço-cruz tempo-círculo
o branco monacal trago do Leste
a lucidez metálica da razão do Norte
a areia escaldante do Sul
o gozo exuberante da vida do Poente
e de língua em língua
de país em país
arrasto
funâmbulo dos extremos
paladino dos jardins selvagens
o estigma de a nada pertencer
senão ao Verbo
e para alguns
trago escondido na alma
um brinquedo proibido
e a perplexidade de existir adulto
quem quer meu viver de menino?

Rápido rápido ele está passando
quem é? quem é?
dizem que
catou sucata e jornal velho
comeu restos de frutas
restos de doces
que os clientes não queriam
e quando se deitava sua mãe
a única calça lhe lavava
será?
quem é? quem é?
ele já passou

Venho de longe
espaço ferido e tempo fragmentado
de guerras fome e exílios impregnado
trago na ponta dos dedos
carícias trincadas gestos truncados palavras trancadas
do amor a lágrima represada na solidão
entre o ruído e a velocidade de estar sem ser
semeando o poema do caminhante
no desterro da consciência
o amor e a escrita como sina
a liberdade como estandarte
o desejo como perdão
diluo meu corpo na vastidão do espírito
meu passo na escuridão da lucidez
alço vôo
alcanço as alturas
miserável ao tocar o chão peregrino
quem em dias de pragmatismo o acolheria?

Rápido rápido ele está passando
quem é? quem é?
dizem que
fumou
cheirou
roubou
contrabandeou
e amou
escreveu
e amou
será?
quem é? quem é?
ele já passou

Venho de longe
espaço sangrando tempo revogado
de furor liberdade e saber calado
trago nos ombros
a parca generosidade do mercantilismo
deste século profano
que exauriu Deus e plastificou o Mistério
dando aos órfãos
a lubricidade de engolir sem degustar
que esvaziou os olhos da Ética
violando o ritmo milenar de ser e haver
abortando o Silêncio de Mãe-Terra
século totalitário do adulterado
algoz do Início e do Eterno Retorno
século robotizado de Harmonia aviltada
que fizeste do Sagrado?

Rápido rápido ele está passando
quem é? quem é?
dizem que
é o filho do Sol
tataraneto de Eurípides
é o filho do Mar
bisneto de Kayyam
é o filho do Vento
neto de Villon
é o filho da Terra
filho de Rimbaud
será?
quem é? quem é?
ele já passou

Venho de longe
espaço sem identidade tempo sem memória
de despojamento silente e referências mortas
agora empossado
transpassado pelo silvo da solidão
fio de algodão
da lembrança ancestral
fiando fiando fiando
em rocas de séculos acumulados
as filigranas da alma
tecendo tecendo tecendo
no que restou do tear do silêncio
no côncavo telúrico do pensamento
recolhido no segredo de não-ser
quieto de estrondos mal vividos
no que resta de mentira
como ilusão da própria vida
venho e nunca chego
quem quer meu silêncio?


David Haize
Março de 2004


 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

R. Roldan-Roldan


 

A Solidão da Liberdade


E um dia de tão livre
desejarás a morte
para iludir o não-pertencer
e na suprema arrogância do não-querer
ouvirás o silvo distante do trem do adeus
ecoando gestos de ternura omitidos
no quarto de despejo das ausências
e de desejo se gretará a carne
à espera das chuvas de antanho
nos ocos sem fundo do não-dito
e como quem dobra os sinos
dobrarás as asas
de seda e violência
tal mortalha usada
voltando ao baú das ilusões mutiladas
e ainda estremecido pelo rufar do furor ferido de existir
fragor
ardor antes do bolor
colocarás a lápide do mutismo
sobre o estrebuchar da existência
já cacos de aspirações
girando no sideral da incompletude
folhas de outono sob o mistral da finitude
as lâminas do silêncio
ungindo as fissuras da alma
recolhida como feto entre deuses destronados
no deserto do verbo
exílio no tempo
na desolação de seu próprio infinito
alma desterrada
sem destino
sem a luz do sangue
sem redenção
sedenta da prisão do amor
do amor não tido
do amor não sido
do amor não exaurido
do amor não vivido



R.Roldan-Roldan 13-04-06

 

 

 

 

 

 

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