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Maria Helena Nery Garcez

helenaneri@terra.com.br

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia da autora:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ticiano, Magdalena

 

Bernini_The_Rape_of_Proserpina_detail

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

 

Maria Helena Nery Garcez


 

Maria Helena Nery Garcez, por ela mesma:



Não sei se feliz ou se infelizmente... sou paulista e paulistana há já alguns bons anos. Muito de minha criação literária está marcada por esta circunstância espacial.

Meu pai era do Vale do Paraíba, de Queluz e de Cruzeiro, e minha mãe, filha de imigrantes italianos, de Itatiba, interior de São Paulo. Com o pai aprendi, não por palavras mas por sua vida, a amar a natureza, os animais, as coisas simples, a comida caseira, os doces das fazendas, o cafezinho, a atravessar as ruas da cidade grande, o gosto de por ela perambular e um certo tipo de humor ... Minha mãe, embora não romântica em sua vida prática, gostava de recitar poemas que aprendera de cor quando estudara no Ginásio Culto à Ciência de Campinas... E foi ouvindo o episódio da linda Inês posta em sossego e outros, sonetos camonianos e muitos trechos de prosa, brasileiros, tais como o de Joaquim Manuel de Macedo evocando a sua Vila de Itaboraí, que, subliminarmente, fui aprendendo a amar poesia e prosa. Não romântica na vida prática, a minha mãe, mas, ao fim e ao cabo, romântica.

Orgulho-me de ter estudado sempre em escola pública, do Grupo Escolar à Universidade. Na escola pública do tempo em que se procurava que o povo tivesse, de fato, acesso ao saber. Fiz o Curso de Letras Neolatinas na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, onde também fiz o Mestrado em Literatura Francesa, o Doutorado em Literatura Portuguesa sobre o romance da década de 60 e a Livre-Docência acerca da poesia do heterônimo pessoano Alberto Caeiro.

Exerço a docência na Graduação e na Pós-Graduação na mesma Faculdade em que estudei e realizei toda minha vida acadêmica, centrando-me principalmente na Literatura Portuguesa e na Comparada, e continuo tentando fazê-lo com vibração e entusiasmo, embora as condições de trabalho não sejam nada favoráveis.

Meus trabalhos de pesquisa têm-se desenvolvido nos seguintes âmbitos:

- o estudo do gênero épico, na Antiguidade, na Renascença e na época Moderna, privilegiando a análise do diálogo entre Luís de Camões e Fernando Pessoa;

- a Crônica de Viagem dos séculos XV e XVI em Portugal e seus prolongamentos modernos, privilegiando Luís de Camões, Fernão Mendes Pinto, Pero Vaz de Caminha, Pero de Magalhães Gândavo, Fernão Cardim e, no século XX, fundamentalmente, a figura de Vitorino Nemésio em suas relações com o Brasil mas não só;

- a poesia e a prosa de Vitorino Nemésio, sobre cuja obra coordeno um grupo de estudos, constituído de pós-graduandos, pós-doutorandos e professores universitários;

- a chamada “ modernidade” portuguesa, desde poetas simbolistas como António Nobre e Camilo Pessanha quanto autores do grupo Orpheu, mormente Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro;

- o estudo da estética de Luigi Pareyson e de seu pensamento filosófico acerca da leitura e interpretação, pensamento fundador da moderna hermenêutica. Coordeno um grupo de trabalho acerca da obra de Luigi Pareyson.

Sobre minhas Publicações, informo que tenho tratado em muitos artigos os itens acima relacionados e que aqueles que se interessarem em conhecê-los, poderão consultar o meu Curriculum Lattes, no site do CNPq ou também visitar o site da Universidade de São Paulo. [Nov.2001]

Quanto a livros, publiquei:

ENSAIOS

  • Alberto Caeiro/ “Descobridor da Natureza”?, Porto, Centro de Estudos Pessoanos, 1985.

  • Trilhas em Fernando Pessoa e em Mário de Sá-Carneiro. São Paulo, Editora Moraes e Editora da Universidade de São Paulo, 1989.

  • O Tabuleiro Antigo (Uma Leitura do Heterônimo Ricardo Reis). São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 1990.

CRIAÇÃO LITERÁRIA

  • Conta-Gotas.São Paulo, Editora Scortecci, 1987. (Poesia)

  • Telhado de Vidro. São Paulo, Editora Scortecci, 1988. (Poesia)

  • Em Trânsito. São Paulo, Editora Giordano, 1997. (Monólogo)

     

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Venus Presenting  Arms to Aeneas

 

 

 

 

 

Maria Helena Nery Garcez


 

Sent: Sunday, May 05, 2002 8:49 PM

Subject: A menina afegã

 

Meu caro Soares Feitosa,
 

Seu texto me tocou muito, demais. Essa menina é algo de extraordinário,  de único, de intenso, de total. A menina afegã, de Steve McCurry

Não sei se  viu  outro dia, nos jornais, uma foto dessa menina já mulher feita, mãe de filhos. Ainda é bela mas já não é mais esse milagre de perfeição e de força, de beleza e de intensidade total. Ela foi colhida no instante preciso. No instante certo.

Medo? Horror? Algo de felino, de sofridíssimo, de assustado e de inexcedivelmente belo. Aliás, os rostos das crianças afegãs, em jornais, revistas e nos noticiários da TV, eram todos muito belos. Mas nenhum nunca como o dessa menina selvagemente aterrorizada e bela a mais não poder.Que verde tão verde ali tinha o verde daquele olhar...

Seu texto é intenso, é dorido, é belíssimo. E o rosto e seus recortes a acompanhar o ritmo  da composição.


Maria Helena Nery Garcez


 

 

 

Albrecht Dürer, Head of an apostle looking upward

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Carlos Nejar

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Exposition of Moses

 

 

 

 

 

Maria Helena Nery Garcez


 

Surprise


Chorei quantas pitangas havia nas pitangueiras
e dei a vida por encerrada.
Ela continuou, contudo.
As pitangas encheram as fruteiras
e alegraram olhos, paladar e gosto dos convidados às bodas...



My secret love


Once
na catedral de New Orleans
- que rima com beans -
Mozart cantava o Ave verum na missa de Cristo-Rei.
Fora
o jazz mandava seu recado a plenos pulmões.
Nos corações pós-modernos vibrava tudo total.
Foi o dia em que namorei
- Ó Doris Day -
o homem-estátua da Royal Street.



Declaração de bens


Tenho um pequeno rebanho de ovelhas negras
que fazem miau.



La Desdichada

Eu sou a dois três três um dois três seis três três,
a dois um dois dois dois dois três dois dois barra dois.
Mas
no Bug do Milênio serei
a zero zero zero zero zero zero zero.
Dívidas zeradas.
Méritos também.
 



Congeminações de uma paulistana desvairada


I

Como M. de Malbrough estou morta e enterrada.
Não que não tenha voltado.
Nem parti sequer.
E aqui estou,
a 13 de março,
à escrivaninha.
Recordo o primeiro livro de francês e o entusiasmo.
O tropeçar no mot poêle,
a famille Dupont,
a professora Anita ...
Minha mãe ensinando a pronúncia e o Parker-Quinck presidindo a tudo, no parapeito da janela.
Hoje sou eu quem faz a esmola da palavra:
o dia do mês,
o da semana,
o nome que a memória insiste em sonegar.
Não.
M. de Malbrough n’est pas mort..
M. de Malbrough est ici.
Quem?
todavia,
disso se dá conta ?


II
Mas, afinal, o que você esperava?
Dedicação total a você? Isso...
só mesmo nas Casas Bahia ...
Amanhã embarco.
A essas horas deverei estar voando.
A estas horas deveria estar dormindo.
M. de Malbrough vai rever Paris e isto o preocupa.
Impossível, de novo, do mesmo jeito.
Impossível, de novo, a mesma paixão.
E, no final das contas, muita coisa na minha mélancolie a bougé.
M. de Malbrough vai a Paris - coisa curiosa - fazer conferência em francês a portugueses.
M. de Malbrough e sua mãe
e a famille Dupont, a professora Anita e o professor Grandjean,
o Parker-Quinck e a Bic,
o Fernão Dias Paes e a Maria Antónia,
o Baudelaire e o Sá-Carneiro,
o Nerval e o Anto,
o Anto mailo Bom Jesus de Matozinhos
e o Alphonsus da Catedral ebúrnea de seus sonhos,
o Anto, ó Anto de sua Purinha e de sua Avó...
ó Anto da minha paixão...
Voaremos todos juntos e muitos mais na Varig,
num só assento da classe econômica,
usando um só cobertor,
comendo um só jantar ...
Iremos todos falar francês pra português num Centro insigne de Paris.
E M. de Malbrough não tropeçará no mot poêle, nem na Clepsydre
e M. de Malbrough falará de Pessanha
e da angústia de Pessanha.
E M. de Malbrough informará, a quem interessar possa,
quem poluiu aqueles lençóis de linho, aqueles tão castos lençóis,
quem arrancou aqueles altos girassóis e os lançou ao caminho,
quem quebrou aquela mesa de cear, tábua tosca de pinho,
quem espalhou aquela lenha e entornou aquele vinho...
Aquele vinho, afinal, acidulado e fresco...
Ó minha pobre mãe!... Não te ergas mais da cova.

Ó mães,
nas casas de repouso,
sentadas nos bancos,
a ninar bonecas...



Ad Sodales


Ah!...
É em Paris que se lembram de mim ...
É em Istambul ...
É em Keops ... em Kefrém ... em Miquerinos...
postalmente...



Precisão


Não digo
Errei todo o discurso de meus anos.
Erraria ainda.



Perplexidade


Por quê
baixando o meu sódio e meu iodo,
o meu ferro, cálcio e potássio,
cessa o meu criar?
meu declamar?
meu poetar?

E o poema
que sódio, iodo, ferro, cálcio e potássio não é,
por que aborta no silêncio?

 


Prova de amor


E eu que aprendi a língua
dos gatos e dos cães,
das lebres e dos pássaros,
das peruas e das putas...
 

 

 

 

Bernini_Bacchanal_A_Faun_Teased_by_Children

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Luiz Paulo Santana

 

 

 

 

 

 

 

 

Theodore Chasseriau, França, 1853, The Tepidarium

 

 

 

 

 

Maria Helena Nery Garcez


 

Poemetos



1ª Confidência

O salgueiro lutador sou eu,
Harry,
Defendo meu pedaço
com punhos de aço.

*******

2ª Confidência

E não é que meu tsumani sou eu?


*******

1ª Contemplação

De onde te vem a ti essa serenidade espantosa?
silenciosa?
amorosa?

*******

1ª Indagação

Dobrado o das Tormentas,
Virá mesmo a Boa Esperança?

*******

2ª Indagação

Se é ele,
Harry,
que me tira o eixo,
por que surfam em meu sorriso?
na alegria que dizem que eu tenho?

*******

2ª Contemplação

De onde essa serenidade majestosa
que tsunamis já não podem destruir?


*******

3ª Indagação

Afinal ,
não era eu quem mais a devia possuir?

*******

4ª Indagação

E não será minha verdade fraca
meu tsunami mais devastador?


*******

3ª Confidência

Viajo o mundo inteiro
com o meu amor solitário.


*******

Contemplação felina

Na esteira, um olhar verde me interroga:
o que é que essa louca está fazendo?

*******

4ª Confidência

Não a ti, Sócrates, invoco,
se estou em agonia.


*******

Invitation post-WTC

Mon amie, ma soeur,
Sonha com Birigui,
mais segura que Paris...
 


 

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), Admiration Maternelle

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Nilto Maciel

 

 

 

 

 

 

 

 

Winterhalter Franz Xavier, Alemanha, Florinda

 

 

 

 

 

Maria Helena Nery Garcez


 

Adágio



Eu também teria quebrado o vaso de porcelana da China,
falado demais,
corado todas as vezes.
Eu também teria perdido Agláia Ivánovna,
casado com Nastássia Filípovna,
enlouquecido com Rogojin.


Idiota?


 

 

 

Baloubet du Rouet, campeoníssimo de Rodrigo Pessoa

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Fábio Rocha

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Riviere Briton, 1840-1920, UK, Una e o leão

 

 

 

 

 

Maria Helena Nery Garcez


 

O Observador Literário


I

Da janela vejo a data na chaminé inscrita: 1866.
Na memória, nada.
A Bovary é de 57;
As Flores do Mal também.
No bricabraque das lembranças
nenhuma independência ou morte.
Nem dá pra dizer que Pessoa nascia,
que Os Lusíadas cumpriam três séculos.
De 66, contudo, ora sei
que um homem inscreveu aquela data,
naquela chaminé parisiense,
no regozijo do trabalho terminado.


II

Agora, porém, lembrei que, em 66,
enquanto em Paris aquela casa se erguia,
Dostoiévski gestava O idiota.
Haver em Paris uma praça a Santa Oportuna
e não haver uma a Santa Ingenuidade!
Não só quando faz seu auto-retrato
um artista faz o auto-retrato!
Saberia Fédor Mikhaílovitch Dostoiévski,
no regozijo do trabalho terminado,
que tinha dado à luz
a mais bela das personagens literárias?
 


 

 

 

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Alcir Pécora

 

 

 

09/10/2006