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Carlos Nejar 

William Bouguereau (French, 1825-1905), Reflexion, detail

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia :


Ensaio, crítica, resenha & comentário:


Alguma notícia do autor & fortuna crítica:

 

Carlos Nejar

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Albrecht Dürer, Mãos

 

Ticiano, O amor sagrafo e o profano, detalhe

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Thomas Colle,  The Return, 1837

Carlos Nejar


 

Bio - bibliografia:

 

  • Carlos Nejar (Luiz C. Verzoni N.), advogado, professor e poeta, nasceu em Porto Alegre, RS, em 11 de janeiro de 1939. Eleito em 24 de novembro de 1988 para a Cadeira n. 4 da Academia Brasileira de Letras, na sucessão de Vianna Moog, foi recebido em 9 de maio de 1989, pelo acadêmico Eduardo Portella.
     

  • É filho de Sady Nejar e de Mafalda Verzoni Nejar. Fez sua formação primária, secundária e o curso clássico no Colégio do Rosário em Porto Alegre. Iniciou na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul o curso de Letras Clássicas, não o concluindo. Estreou na literatura em 1960, com o livro de poesias Sélesis. Formou-se, pela mesma Universidade, em Ciências Jurídicas e Sociais (Direito) em 1962. Fez exame de Suficiência na Universidade Federal de Santa Maria, RS, tendo sido aprovado para lecionar Português e Literatura no 2o grau do magistério estadual.
     

  • Fez concurso para o Ministério Público do Rio Grande do Sul. Assumiu a função em 1963, atuando em diversas comarcas: Pinheiro Machado, Bagé, Taquari, Uruguaiana, Itaqui, São Jerônimo, Erexim, Caxias do Sul e Porto Alegre. De 1965 a 1973, foi também professor de Português e Literatura nos seguintes estabelecimentos estaduais de ensino: Escola Normal Álvaro Haubert e Colégio Estadual São Patrício, em Taquari; Colégio Estadual Castro Alves, em São Jerônimo; Escola Normal José Bonifácio, em Erexim; Colégio Estadual Cristóvão de Mendonza, em Caxias do Sul.
     

  • Funcionou nas câmaras cíveis e criminais do Egrégio Tribunal de Alçada e Emérito Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, como Promotor de Alçada e Procurador de Justiça; foi titular na 1a Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, assessor de vários procuradores gerais de Justiça, durante mais de dois anos, e participou do Gabinete de Pesquisa e Planejamento da Instituição. Atuou como curador dos Registros Públicos da Capital, com responsabilidade de fiscal da lei e sua execução, sobre todos os Cartórios de Registro de Pessoas Naturais e os Registros Públicos de Porto Alegre; foi membro do Conselho Penitenciário do Estado e membro fundador do Conselho Curador da Fundação de Economia e Estatística do Estado do Rio Grande. Integrou o Conselho Superior e o Colégio de Procuradores do Ministério Público, tendo sido eleito, em 1986, um dos sete procuradores que compõem o referido Conselho, órgão diretivo máximo da Instituição. Aposentou-se nessa função.
     

  • Em 1975, fez aperfeiçoamento jurídico em Lisboa, como bolsista, a convite do Ministério das Relações Exteriores de Portugal. Defendeu a tese "A imputabilidade no Direito Criminal português e brasileiro" na Universidade de Lisboa, aprovada com parecer de louvor pelo Professor de Direito Criminal dessa Universidade.
     

  • Advogado, em Porto Alegre, por dois anos, no escritório do Dr. Fernando Malheiros e do Senador Nelson Carneiro. Atualmente, após a aposentadoria, exerce a advocacia em Vitória, Espírito Santo, onde reside.
     

  • Foi bolsista, a convite da Fundação Calouste Gulbenkian, em viagem a Lisboa, em outubro de 1981, com o fito de organizar a Antologia da poesia portuguesa contemporânea, saída no Brasil, São Paulo, pela Massao-Ohno. Em 1983, fez curso de aperfeiçoamento jurídico na Procuradoria da República Portuguesa, onde ficou sediado, a convite, participando como observador do Brasil no Centro de Estudos Judiciários para preparação de juízes e promotores de justiça.
     

  • Participou do conclave "O legado da cultura árabe às culturas latino-americanas", sobre a épica contemporânea, na Universidade de Verão Al Mu’Tamid Ibn Abbad de Asilah, em Tanger, Marrocos, de 12 a 15 de agosto de 1989.
     

  • Participou do CNIC (Conselho Nacional de Incentivo à Cultura) do Ministério da Cultura, nas áreas de humanidades e literatura (1992-1993). Foi nomeado pelo Presidente da República para o Conselho Nacional de Política Cultural (de 1994 a 1996).
     

  • Participou de inúmeros congressos nacionais e internacionais de literatura, entre os quais o VI e VIII Encontro Nacional de Escritores, em Brasília, Distrito Federal (outubro de 1971 e outubro de 1973), o I Seminário de Literatura, no Rio Grande do Sul (setembro de 1972), o II Congresso Nacional de Poesia, em Goiânia (junho de 73), o Encontro de Escritores Latino-Americanos, em Punta del Leste, Uruguai (março de 1968) e nos Congressos Internacionais de Poesia de Nova Prata e Bento Gonçalves, RS. Pertence à Academia Espírito-Santense de Letras e ao Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo.
     

  • É detentor de vários prêmios literários: Prêmio Nacional de Poesia Jorge de Lima (1970) do Instituto Nacional do Livro; Prêmio Fernando Chinaglia (1974) da União Brasileira de Escritores, com O poço do calabouço, como o melhor livro de poesia do ano; Prêmio Luísa Cláudio de Souza (1978) do Pen Clube do Brasil, pelo livro de poesia Árvore do mundo; Prêmio Érico Veríssimo (1981), concedido pela Câmara dos Vereadores de Porto Alegre pela sua Obra poética I; Troféu Francisco Igreja, da União Brasileira de Escritores do Rio, para Amar, a mais alta constelação, como o melhor livro de poesia publicado em 1991; Prêmio Cassiano Ricardo, do Clube de Poesia de São Paulo, pela sua obra, em 1995, com o troféu da Livraria da Cultura.
     

  • É colaborador da Revista Colóquio/Letras, de Lisboa, e de inúmeras revistas e jornais do País; é membro do Pen Clube do Brasil, sucedendo a Raul Bopp. Em 1991, fundou, com o jornalista e poeta Marian Calixte, em Vitória, ES, a Nemar Editora. Em 1993, fundou sua pequena editora de poesia - Nejarim, Paiol da Aurora.
     

  • Obra - POESIA: Sélesis (1960); Livro do tempo (1965); O campeador e o vento (1966); Danações (1969); Ordenações (1971); Canga (1971); Casa dos arreios (1973); O poço do calabouço (1974); Somos poucos (1976); Árvore do mundo (1977); O chapéu das estações (1978); Os viventes (1979); Um país o coração (1980); Obra poética I (1980); Fausto, as Parcas, Joana das Vozes, Miguel Pampa e Ulisses, poemas dramáticos (1983); Memórias do porão (1985); A genealogia da palavra, antologia do autor (1989); A idade da aurora (1990); Amar, a mais alta constelação, sonetos (1991); Meus estimados vivos (1991); Elza dos pássaros ou a ordem dos planetas (1993); Símon Vento Bolívar (1993, ed. bilíngüe português-espanhol); A chama é um fogo úmido, reflexões sobre a poesia contemporânea (1994); Arca da aliança, poemas bíblicos (1995). Um certo Jaques Netan, novela (1991); O túnel perfeito, novela (1994). Obra infanto-juvenil: Menino-rio (1985); Jericó soletrava o sol e as coisas pombas (1986); Era um vento muito branco (1987); A formiga metafísica (1988); Zão (1988).

    FICÇÃO: Livro de Silbion, contos (1963).
     

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Morte de César, detalhe

Carlos Nejar



Abandonei-me ao vento
 


Abandonei-me ao vento. Quem sou, pode
explicar-te o vento que me invade.
E já perdi o nome ao som da morte,
ganhei um outro livre, que me sabe


quando me levantar e o corpo solte
o meu despojo vão. Em toda parte
o vento há-de soprar, onde não cabe
a morte mais. A morte a morte explode.


E os seus fragmentos caem na viração
e o que ela foi na pedra se consome.
Abandonei-me ao vento como um grão.


Sem a opressão dos ganhos, utensílio,
abandonei-me. E assim fiquei conciso,
eterno. Mas o amor guardou meu nome.
 

   

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), The Pipelighter

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Rita Brennand

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Frederic Leighton (British, 1830-1896), Antigona,detail

Carlos Nejar


 

Redondel


O coração se acrescenta
ao coração se acrescenta
a outro e senta sob a árvore
- tudo tão nuvem entre
um coração e outro -
redondos os sins, os vãos,
a noite na concha
do coração, o pampa
e os corações sentados
e um coração voando.
 


Mudando, tudo é possível
recomeçar.
 

   

 

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Lucas Tenório

 

 

 

 

 

 

 

 

 

John William Godward (British, 1861-1922), Belleza Pompeiana, detail

Carlos Nejar



De como a terra e o homem se unem


Fica a terra, passa o arado,
mas o homem se desgasta;
sangra o campo, pasce o gado,
brota o vento de outro lado
e a semente também brota.
Fica a terra, passa o arado
e o trabalho é o que nos passa,
como nome, como herança;
fica a terra, a noite passa.
 


A semente nos consome,
mas a terra se desgasta.
 

 


2.
 


Que será do novo homem
sobre a terra que vergasta ?
Sangra a terra, pasce o gado
e o trabalho é o que nos passa.
 


Vem o sol e cava a terra;
a semente é como espada.
Há uma noite que nos gera
quando a noite é dissipada.
 


Vem a noite e cava a terra;
vem a noite, é madrugada.
 

 


3.
 


O homem se desgasta,
sopro misturado
ao sopro rijo do arado.
Vai cavando.
 


Madrugada sai da terra,
como um corpo se entreabre
para o orvalho e para o trigo.
 


O homem vai cavando,
vai cavando a madrugada.
 

   

 

Um cronômetro para piscinas

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Irineu Volpato

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Titian, Three Ages

Carlos Nejar


 

Lisura


Entras na morte,
como se entra em casa,
desvestindo a carne,
pondo teus chinelos
e pijama velho.
 


Entras na morte,
como alguém que parte
para uma viagem:
não se sabe o norte
mas começa agora.
 


Entras na morte,
sem escuros,
sem punhais ocultos
sob o teu orgulho.
 


Entras na morte,
limpo
de cuidados breves;
como alguém que dorme
na varanda enorme,
entras na morte.
 

   

 

Herbert Draper (British, 1864-1920), A water baby

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Renato Suttana