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Fui Eu 
Carlos Nejar 
Carlos Nejar nasceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, a 11 de janeiro de 1939. Pertence à Academia Brasileira de Letras. Publicou, entre outros, Selesis, 1963; Livro de Silbion, 1963; Canga, 1971; O poço de calabouço, 1974; Memórias do porão, 1985; e Genealogia da palavra, 1989 (antologia pessoal). Ganhador dos prêmios “Monteiro Lobato” e da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). 
 

      Não é um rosto,  
      é máscara da más-  
      cara  corroendo  
      a cara.  

      Não são olhos:  
      buracos de lua  
      sobre a faca.  
      Ali não dormem  
      pássaros.  

      E a boca é vara  
      da fala, vara  
      da navalha.  
      Vara sobre  
      o nada.  
      Vara afiada  
      envelhecendo  
      as grisalhas  
      falhas da cara.  

      E as peles caindo  
      sob a pele, reboco.  

      Não é um homem.  

      Não é um rosto.  

      É abismo.


poema da antologia Fui Eu
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