Clique aqui: milhares de poetas e críticos da lusofonia!

Os poemas da Besta

John Martin (British, 1789-1854), The Seventh Plague of Egypt
 

Da generosidade dos leitores

 
 
 

 

 

 

 

 

 

Clique aqui: milhares de poetas e críticos da lusofonia!

Escreva para o editor

 

 

Um esboço de Da Vinci

 

 

Carlos Felipe Moisés


Na primeira leitura não resisti ao tom empolgado, condoreiro, eu diria, do autor. Deixei-me tocar e comover por várias das indicações e registros aí consignados. Talvez um pouco aturdido pela empolgação --a do texto e a que o texto desencadeou em mim--, não fui capaz de atinar com a causa substancial dessa mesma empolgação. 

Algum tempo depois, fui a uma segunda leitura, já menosCarlos Felipe Moisés arrebatada. O que me ocorreu, então, não foi propriamente discordar de Soares Feitosa, mas colocar as mesmas questões debaixo de outro ponto de vista, que eu nem chegaria a dizer que é meu (na verdade, não é), pois fiz o possível para que fosse impessoal. 

A distinção entre os dois pontos de vista, este e o do autor, mais do que doutrinária, é da ordem do temperamento. O meu busca fugir da empolgação, embora nem sempre consiga; busca, das coisas (a poesia incluída), uma visão serena, distanciada. Sei que para muitos isto soa herético. Se assim é, diriam, melhor eu cuidar de outro assunto, que não a poesia, pois esta espera do leitor exatamente a empolgação. Permito-me discordar. Permito-me acreditar que a poesia, sem deixar de ser, ab ovo, empolgação, acolhe também racionalidade e distanciamento. Por isso (aí já todos concordam) é que a poesia é o reduto por excelência da ambigüidade. A visão serena, não arrebatada, buscada por mim, não só não o nega como o endossa. Vejamos então qual poderia ser este outro ponto de vista. 

O texto de Feitosa lida basicamente com dois temas: o do tempo e o do Juízo Final. O primeiro tem que ver com a contingência histórica do ser humano, imerso na temporalidade, e, em última instância, com a especulação filosófica; o segundo tem que ver com Religião. Os dois temas se cruzam? Sem dúvida. Mas, creio, não devem fundir-se em um só, como se se tratasse de manifestações intercambiáveis do mesmo tema. 

De um lado, o tempo pode ser encarado à luz da filosofia, da história, da antropologia ou da(s) poética(s) segundo perspectivas não-religiosas, vale dizer, independentemente das crenças que tenhamos ou não. Quando o poeta subverte nossas categorias convencionais referindo-se ao "futuro do passado", por exemplo, como bem observa Feitosa; ou quando se pergunta, ao falar da infância, "Fui feliz?" para em seguida responder "Fui-o outrora agora" (os exemplos poderiam multiplicar-se indefinidamente) --nada nos obriga a associar esta subversão da temporalidade ao "fim dos tempos" de que fala o Apocalipse. 

De outro lado, o registro dos horrores e misérias que marcam este século não passa necessariamente pelo entendimento religioso ou teleológico que possamos ter ou não deste nosso mundo. Para uns, tais horrores são indícios do Armagedon, anúncios do Juízo Final que se aproxima; para outros, os mesmos horrores (cíclicos, não sei se mais intensos hoje do que ontem) podem ser encarados à luz da contingência histórica, como fenômeno eminentemente social e político, despido de conotações apocalípticas. São dois entendimentos que não se excluem. Só se excluirão se seus respectivos adeptos não abdicarem da muito humana ambição do dogmatismo. São dois entendimentos que podem cruzar-se, como sugeri acima, mas que devem manter, cada um, a sua especificidade. Caso contrário, a adoção do primeiro significará o menosprezo do segundo, na mesma medida em que a adoção deste reduzirá aquele a simples corolário. 

Por razões de temperamento inclino-me mais pelo entendimento não-religioso da condição humana, em poesia e fora dela, e assim procuro encarar os dois temas de Feitosa, o do tempo e o dos horrores do mundo atual. Quanto ao primeiro, poderia lembrar as palavras de Octavio Paz (EL ARCO Y LA LYRA, Fondo de Cultura Económica, 1956), que, referindo-se aos "gêneros" épico, lírico e dramático, afirma: "Em todos eles o tempo cronológico --a palavra comum, a circunstância social ou individual-- sofre uma transformação decisiva: cessa de fluir, deixa de ser sucessão, instante que vem depois e antes de outros idênticos, e converte-se em começo de outra coisa". Poderia lembrar também a densa reflexão de Alfredo Bosi (O SER E O TEMPO DA POESIA, Cultrix, 1977), que o leva a conclusões como esta: "Vejo o texto como uma produção multiplamente constituída por vários tempos: a) os tempos descontínuos, díspares, rotos, da experiência histórico-social, presentes no ponto de vista cultural e ideológico que tece a trama de valores do poema; b) o tempo relâmpago da figura que traz à palavra o mundo-da-vida sob as espécies concretas da singularidade; c) o tempo ondeante ou cíclico da expressão sonora e ritmada, tempo corporal do pathos, inerente a todo discurso motivado". 

Pois bem, o "começo de outra coisa", de Paz, ou "o tempo ondeante ou cíclico", de Bosi, devem/podem ser associados teleologicamente ao fim dos tempos, ao Apocalipse ou ao Armagedon? A mesma associação pode/deve ser feita aos horrores de que falam todos os grandes poetas modernos, a começar por Pessoa e pelo mesmo Paz, e prosseguindo por tantos outros, como, só para dar mais um exemplo, T.S. Eliot? ("Eyes I dare not meet in dreams/ In death’s dream kingdom/ These do not appear...// This is the dead land/ This is cactus land/ Here the stone images/ Are raised, here they receive/ The supplication of a dead man’s hand/ Under the twinkle of a fading star" --THE HOLLOW MAN, Harcourt, Brace & World, 1925.) 

A resposta de Soares Feitosa, a julgar pelo teor de seu ensaio, seria, suponho, um categórico "deve". De minha parte, eu responderia com um relutante "pode". E, em nome do ceticismo e do impessoalismo do ponto de vista por mim adotado, ficaria talvez para sempre no limiar de acrescentar "mas não deve". 

Quero por fim assinalar que este sucinto e carente comentário é a homenagem que rendo ao texto de Feitosa, sem cuja empolgação --estimulante e inspiradora-- eu não teria tido o prazer de revisitar umas leituras "antigas" e preciosas. Não por mim, mas pelo serviço que presta à velha e sempre renovada questão da função da poesia, eu diria que não é pouco.

Herbert Draper (British, 1864-1920) , Tha water nixie

 

 

 

 

 

 

Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

 

 

 

 

 

Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes


 

Francisco José: 

Só agora vi outro link e reabri o JP no seu impressionante ensaio sobre os Poemas da Besta. Saí do riso para o silêncio e o mistério de Éschaton!

Irmão, eis um ensaio que eu me orgulharia de ter assinado. Que olhar de bíblica agudeza fez você decifrar as entranhas semelhantes desses poemas, no segredo do tempo que flui entre Arché e Éschaton. Quanta lucidez e sensibilidade na leitura feita por seu espírito multiforme, capaz da intensa galhofa das presepadas e da funda reflexão do destino, de que só são capazes aqueles em quem soprou o Espírito (pneuma) que sempre sopra onde quer... como o fez em Job, esse poeta da íntegra ousadia de convocar Deus a vir à sua presença dizer em que não foi justo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Clique aqui: milhares de poetas e críticos da lusofonia!

Escreva para o editor

 

 

Um esboço de Da Vinci

 

 

Benedicto Ferri de Barros


A Poesia de Soares Feitosa

          

O que autentica o poema verdadeiro, a linguagem, o estado poético, é que ele não pode ser parafraseado. Isto porque quando algo é verdadeiramente poético, é tão caleidoscópico em seu significado, que 1.001 versões possíveis em prosa deixam, ainda assim, de captar tudo o que Benedicto Ferri de Barrosele pode exprimir. Ainda que a linguagem apropriada da poesia seja o verso, e seu produto excelso o poema, o sentido poético permeia tudo, inclusive a boa prosa. Foi o que fui sentindo ao acompanhar a leitura de Os Poemas da Besta.

Também aí existe um efeito caleidoscópico que deve-se reproduzir de forma diversa em cada leitor, e a paráfrase do que você tenha dito nunca será idêntica nem se esgotará o que ali se pode ler.

Lembrou-me por outro, seu trabalho, o tipo de leitura de poesia que vi num belo livro de 1976, Professing Poetry, de John Wain, que foi há vinte anos Professor de Poesia em Oxford. Ali ele fazia a "crítica" do poema mostrando como havia entendido o seu significado, normalmente oculto para o leitor pouco familiarizado com os secretos encantos dos poemas. Mas a diferença da sua leitura está em que ela é uma leitura legitimamente poética, sendo a dele eminentemente acadêmica.

Agora, veja só: aí está que sua prosa contém uma carga poética muito superior a que se encontra em pretensos poemas, que, se escritos em forma de prosa corrente não mostrariam diferença alguma por serem apresentados em linhas quebradas, que fingem ser versos. Dizia eu a uma amiga, recentemente,  que isto é a melhor maneira de se apurar se um poema é mesmo de poesia ou simplesmente má prosa, pois embora tudo o que apareça em linhas quebradas possa passar por poesia escrita em versos, a prosa nua é uma das coisas mais raras que existe. Que se dirá da boa poesia?

Percebo que por baixo da primeira leitura que fiz do seu trabalho ainda restam muitas camadas subterrâneas e estratosféricas a serem exploradas, mas..., Feitosa: a grande tragédia do homem contemporâneo é que ele perdeu o comando de seu tempo, isto é, perdeu sua própria vida. E nada pode ser mais trágico do que um vivo morto.

A sua dedicatória é algo elíptica, insinua um convite que não foi formulado. Deve ser coisa da sutileza baiana... Esteja certo de que foi algo provocante esse ar que me veio da Bahia. 

Herbert Draper (British, 1864-1920) , Tha water nixie

 

 

 

 

 

 

 

 

Clique aqui: milhares de poetas e críticos da lusofonia!

Escreva para o editor

 

 

Um esboço de Da Vinci

 

 

Adriana Lustosa


 

Como uma ovelha 
rondo os pastos da boa vontade 
enquanto o pastor 
saltando de estrela em estrela 
propicia o absurdo: 
o abismo que era mudo

engole meu grito

 

 

 

 

 

 

 

 

Clique aqui: milhares de poetas e críticos da lusofonia!

Escreva para o editor

 

 

Um esboço de Da Vinci

 

 

Sébastien Joachim


Os poemas da Besta: 

Soares Feitosa é um fenômeno neste final de milênio. Surpreendeu, há 2, 3 anos atrás, com uma emergência repentina de poeta cinqüentão; agora nos últimos dozes meses, Feitosa perturba a ordem poética vigente empurrando os escritores da página-papel para a página-tela. 

Antes, contentava-se em construir poemas multidimensionados, com incremento de tonalidade gráfica e cromática. Agora incursiona, verdadeiro Steven Spielberg da arte literária, no terreno exótico da crítica, do ensaio. É claro que não se deve esperar aqui uma leitura te(le)ológica, reforçada de princípios teóricos postos à prova, e de notas eruditas de pé de página. 

Soares Feitosa ressuscita — como se ela jamais tivesse sumido da história literária! — essa imperdível crítica dos criadores em que se ilustram para nosso prazer quase todos os melhores poetas, ficcionistas e dramaturgos do hemisfério ocidental. A fórmula a qual Feitosa veio a se filiar é a de Anatole France, dando o crítico um flâneur, narrando a aventura de sua alma por entre as obras primas do Universo. 

 

 

 

 

 

 

Clique aqui: milhares de poetas e críticos da lusofonia!

Escreva para o editor

 

 

Um esboço de Da Vinci

 

 

Luiz Cláudio Castro


Infelizmente, não sou crítico literário nem tenho pretensão de criticar o ensaio Os Poemas da Besta. Digo apenas o que senti. Vi um novo Apocalipse dentro de um escrínio de ouro. Li e me embriaguei de beleza e de verdade. Maravilha o simbolismo entre o estábulo do Menino-Deus e as maternidades que fizeram holocaustos de criancinhas ao Anti-Cristo, já nascido, acho eu, e andando por aí. Não há mais tempo, mesmo!

 

 

 

 

 

 

Clique aqui: milhares de poetas e críticos da lusofonia!

Escreva para o editor

 

 

Um esboço de Da Vinci

 

 

Edson Kenji Iura


Conheco bem o sentimento "abismal" a que você se refere. Nao é simplesmente o arrebatamento ante um feito grandioso ou a uma situação "épica". Pode ser arrebatador, sim, e gerar taquicardia tambem. Mas sua orientação é diferente. O tal abismo nos remete a dimensões atemporais ("não há mais tempo"), metafísicas, e irracionais, onde vão se encontrar o efêmero e o eterno, o finito e o infinito, o mutável e o perene. Em nossa limitada existência humana, são pouquíssimos os momentos em que pelo menos de leve vislumbramos esta região crepuscular. Os místicos têm o privilégio de experimentá-la com certa regularidade. Mas serão os poetas, e não os filósofos, os próximos a conhecê-la mais de perto. É a poesia que nos decifra o enigma do Absoluto, que se manifesta no imediato da imagem, em vez da generalidade dos conceitos. A poesia é anterior à linguagem, e não é simplesmente o dizer as coisas, mas é a revelação de tudo aquilo que um dia será assunto de nosso dia-a-dia, como matriz de nossa linguagem e filosofia. Eis o que nos arrebata nestes poemas que você citou, aos quais sua intuição privilegiada de poeta nos chamou a atenção, ensejando esta pequena reflexão.

 

 

 

 

 

 

Clique aqui: milhares de poetas e críticos da lusofonia!

Escreva para o editor

 

Um esboço de Da Vinci

 

 

Marcelo Batalha


Eis a verdadeira cadeira-de-balanço, o leitor dentro dela, bem amarradinho, bem solto, porém sem tempo algum, de abismo e de despenhadeiro abaixo. Ou de abismo e de despenhadeiro acima, se o preferem no positivo, compelido pela força mágica da Poesia maior! Fantástico isso, achei o máximo!!!!!!! 

Você sempre certeiro em suas colocações, escolhas, criações. 

Parabéns, Feitosa.

 

 

 

 

 

 

Clique aqui: milhares de poetas e críticos da lusofonia!

Escreva para o editor

 

Um esboço de Da Vinci

 

 

Dora Ferreira da Silva


Gostei! 

A Poesia é um grito do inconsciente/consciente querendo mudar o mundo. Kyrye eleison! 

Gostei sofrido como quando vi um caçador de atuns pela TV, chorando. E deu um poema de raiva e amor, que segue 

(Nota: Elegia dos Golfinhos, on line, no Jornal de Poesia).

 

 

 

 

 

 

Clique aqui: milhares de poetas e críticos da lusofonia!

Escreva para o editor

 

Um esboço de Da Vinci

 

 

Nelly Novaes Coelho


Nelly Novaes CoelhoSoares,

ADOREI Os Poemas da Besta. 

Você além de Poeta é um Grande Leitor.

Nelly

 

 

 

 

 

 

Clique aqui: milhares de poetas e críticos da lusofonia!

Escreva para o editor

 

Um esboço de Da Vinci

 

 

Juscelino Vieira Mendes


Rapaz, essa "Besta" é demais... É Poema! Tão grande que até desconfio que o seu autor (Soares Feitosa) não descobriu que escreveu uma obra-prima da literatura brasileira. "O nome esvaído nos desvãos da memória sofrida." Isto é filosófico e lindo! Assombroso! Passa em qualquer teste (cenas finais de Psi, a penúltima): Adolfo Lutz, normal!

 

 

 

 

 

 

Clique aqui: milhares de poetas e críticos da lusofonia!

Escreva para o editor

 

Um esboço de Da Vinci

 

 

José Peixoto Júnio


FeitosaJosé Peixoto Jr

Re-releio Os Poemas da Besta, sabedor que você não é boi de arado. "Réquiem em Sol da Tarde" mostra. Leio-os e me recolho no romanticíssimo Femina.

Peixoto

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

John Martin (British, 1789-1854)

The Seventh Plague of Egypt
Painting Date: 1823
Medium: Oil on canvas
Size: 144.1 x 214 cm
Location: Museum of Fine Arts, Boston, Massachusetts, USA