Jornal de Poesia

Soares Feitosa

Tiziano, Mulher ao espelho

Adolescíamos

Tiziano, Mulher ao espelho

 

Esta névoa do chocolate
quente;
muito mais, Ela
do que a filha do circo, 
bonita:

era um dia, domingo e suas vestes,
enquanto as nossas mães conversavam,
nós nos recostávamos à máquina de costura,

 

Singer, a velha máquina — se não tínhamos um piano;
quando me dei conta, 

suavemente eu lhe olhava os cabelos,
que também lhe olhava
rapidamente os olhos calmos.

 

Se algum gesto foi feito à tesoura
era apenas um disfarce:
nada haveria de nenhum corte.

E se confundem todas as luzes 
numa névoa fina 
de xícara e cálice:

Mirtes —
adolescíamos.

 

Fortaleza, noite alta, 7 de janeiro de 1999

A postagem deste poema nas redes sociais é um Convite ao Jornal de Poesia:
http://www.jornaldepoesia.jor.br/poesia.html

 

 

Tiziano, Mulher ao espelho

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Paulo de Tarso Pardal

 

Sent: Saturday, December 27, 2003 10:48 AM
Subject: Re: foto e ensaio JAP

Caro poeta Soares Feitosa,
Paulo de Tarso Pardal

    "Adolescíamos" já é poesia pelo título, um sugestivo e bem-achado neologismo de que vai partir toda a recordação de um ser sem mágoas de outros tempos, principalmente aquele em a descoberta do amor é pedra fundamental para o entendimento de que a vida não precisa de explicação, mas de sensibilidade para se enxergar, nos pequenos gestos, o verdadeiro sentido dela. Este é o tempero fundamental para que poetas, como você, transfigurem o real em algo que só eles enxergam. 

Cada vez mais, convenço-me da imensa responsabilidade que os poetas da vida pós-industrial carregam nas costas. Fazer poesia é algo muito sério, que precisa ser trabalhada com responsabilidade temática e com domínio lingüístico. 

Essencialmente, acho que a poesia das coisas está no preciso olhar do poeta e na cunhagem exata da linguagem. Neste poema, há tudo isto, além da clara visão madura do ser que está por trás dele. Os versos "Se algum gesto foi feito à tesoura/ era apenas um disfarce" (acho que aqui está a alma do seu poema) deixam uns sugestivos vazios na semântica do texto que instigam o imaginário do leitor, o que demonstra que você tem consciência de que o leitor pós-moderno é um ser necessariamente participante do poema. Esta, talvez, seja a condição mais essencial da poesia de hoje.

Foi muito bom ler este seu poema. Gostaria de ler outros do mesmo quilate.

Um grande abraço.

Pardal

 


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Rosana Piccolo

Via Facebook, 13.04.2022

 

Soares Feitosa 

No meio de tanto lixo, encontro um diamante! A "máquina de costura" é um tema que me enternece.

Tenho em casa uma Singer antiquíssima, herança da avó, que uso até hoje e funciona muito bem. Venho de família de costureiras, pude ver a cena.

O que não sabia é que você é um poeta magnífico. Faço questão de ler mais (rosana.piccolo@gmail.com)

Rosana

 


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David Medeiros Oliveira

 

Sent: Sunday, December 28, 2003 5:50 PM
Subject: Re: Que site!

Feitosa,

 

Adorei...ainda mais hj, que é um dia de domingo; um domingo tão perto de minha adolescência.  

Interessante como as figuras da máquina e da tesoura dão vida a suas palavras. Parecem cenas de um curta. É isso! Um poema-roteiro. Prova maior? Como vc mesmo diz, Poeta, espiemos: 

"Singer, a velha máquina

— se não tínhamos um piano;

quando me dei conta, 

suavemente eu lhe olhava os cabelos,

que também lhe olhava

rapidamente os olhos calmos"

 

Luzes, gestos, névoas...são palavras ou imagens? Nossas lembranças são (principalmente) imagens, não palavras. 

Você as resgatou. E como. 

Forte abraço, 

David

 

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Flora Figueiredo

 

Sent: Monday, March 14, 2005 6:01 PM

Subject: textos

 

Caro Soares Feitosa: ao chegar em casa após vários dias ausente de São Paulo, vejo-me premiada pelos seus textos, que roubam a cena e nos dão o alento de saber que a boa Literatura ainda é possível.

Deleitei-me entre a  prosa e  a poesia. Ambas me encantaram.

O poema " Adolescíamos" é ternura pura e nos remete à inocência há tanto esquecida. Faz ranger saudades nos pedais da velha Singer.

Feliz por estar entre os merecedores de sua palavra, estarei sempre atenta à procura de outras " noites altas" e " tardes leves".

Receba meu aplauso e meu carinho,

 

Flora Figueiredo.

 


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Helena Armond

Sent: Wednesday, April 03, 2002 5:52 PM
Subject: Comentário sobre Adolescíamos
 
belo esse estar em duplo descobrir-se e não mais fechar se o tempo grava memória doce chocolate...cale-se jamais diria mesmo porque=
--------------------------
lúcida sem ilusão
ergo a taça de vinho
comemoro a vindima e a graça
que é a fermentação
 
desse estado a descobrir-se
----------
                                        helena armond

 


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Ruth de Paula 

Subject: Comentário sobre Adolescíamos

Te descobri por 'adolescíamos'! Até bem poucas horas não havia  lido nada seu ou sobre você, nada; juro! Comecei a ler o jornal por sugestão de um poeta amigo meu, e de vez em quando via Pessoa, Adélia, Cecília, Ana Cristina César e Augusto dos Anjos.

Poxa, domingo, numa daquelas horas mornas foi quando li pela primeira vez um poema teu, Adolescíamos e aí... A forma como o poeta fala sobre o encantamento pela Mirtes e a intensidade do encontro é tão forte, cortante como a tesoura que serviu de adereço. Digo adereço, pois deixou a cena mais cortante, a paixão mais sangrenta, própria da adolescência.O verso que toca na relação olho/cabelo, cabelo/olho traduz o jeito especial de falar do corpo. 

Percebo também com alegria que você trata o feminino com o maior
conhecimento de causa, interessante isso! Não é muito fácil compreender o universo feminino; temos movimentos sinuosos, caminhos tortuosos, rimos da dor, choramos de prazer...


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Beatriz Fernandes

From: Beatriz Fernandes <mbfernan@uol.com.br>
To: jpoesia@sec.secrel.com.br

Algumas coisas mudam:

A névoa do chocolate quente agora é a fumaça do cigarro ou o ar poluído das cidades.... As mães trocam-se em pessoas barulhentas, maridos ciumentos, simples testemunhas inconscientes, Singer, a velha máquina - agora um piano, uma mesa um apoio qualquer. Outras coisas permanecem: olhar os cabelos, olhar os olhos, os gestos disfarces.... Caro Feitosa, adolescemos sempre. Mas só você consegue nos mostrar. Lindíssimo.

                             Bia

 


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Adriana Bernardi

Que lindo é "Adolescíamos", não? Que coisa... Outra vez a música de fundo o acompanha... como nos outros versos seus... mais suave talvez...
mais lúdica... que bonito, meu amigo... que bonito!


Singelo... de um frescor lindo... quase reconheço a Mirtes perambulando, graciosa que só, nas ruas durante o dia... tantas Mirtes existem por aí, não??? Mas... ahhh... que lindo!!! Me trouxe de volta o cheiro da adolescência... os sonhos dali, já agora outros... os sons... o mundo ainda encoberto e por isso mesmo tão mágico... facinho, facinho de ser conquistado, né??? - risos - Êhhhh, Feitosa... mais uma emoção que lhe devo.

 


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Regine Limaverde

Sent: Friday, May 11, 2001 8:50 PM
Subject: Re: Assim, elas. SF

Que encanto de poesia Feitosa. A fumaça é um pano de fundo para os sonhos.

E o chocolate é doce na nossa boca. A paquera é  áçucar para nossa alma.

Que lindas pontes você faz entre o gesto e o ato , entre o pensar e o agir, entre o olhar  e o sonhar. Gosto de sua poesia. 

Regine

 


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Maria da Graça Almeida

 

Sent: Wednesday, June 20, 2001 4:08 PM
Subject: Comentário sobre Adolescíamos

Dia frio,
do chocolate,
 o vazio,
da adolescência,
também.
 
Saudade,
calor que arde
 dentro de uma xícara
do laticínio
tardio.
 
Lindo!
 
Chego a perceber
os passos moribundos
da velha máquina
e, do outro lado,
bem cerzido,
o retrato da menina,
abotoado.
 
maria da graça almeida

 


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Wenio Pinheiro Araújo

 

777
Sent: Wednesday, September 27, 2006 11:59 PM
Subject: Adolescíamos
 

Soares,

Este poema é "           ",  algo indizível. Qualquer coisa que eu
escreva será uma tentativa frustrada de te passar o que senti. Ele inunda a gente de uma nostalgia imensa.
 

Wênio Pinheiro Araújo
 

 


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Tiziano, Mulher ao espelho

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