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Emílio Moura


 

Marinha


Grito teu nome aos ventos.
Olha: há uma revoada marítima.
O horizonte se afasta, há um ritmo largo
de ondas que se espreguiçam.


Velas esguias,
para onde voam?


Sulcos de prata,
para onde levam?
Amiga, amiga! Ah, dize-me depressa:
Quem grita aos ventos o teu nome?
O mar, ou eu,
o grande mar que o está cantando?
 

 

 

Jorge Medauar

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Maria Maia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Caravagio, Êxtase de São Francisco

 

 

 

 

 

Emílio Moura


 

Toada dos que não podem amar


Os que não podem amar
estão cantando.
A luz é tão pouca, o ar é tão raro
que ninguém sabe como eles ainda vivem.
Os que não podem amar
estão cantando,
estão cantando,
e morrendo.


Ninguém ouve o canto que soluça
por detrás das grades.
 

 

 

Luís Antonio Cajazeira Ramos

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alphonsus Guimaranes Filho

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Titian, Three Ages

 

 

 

 

 

Emílio Moura


 

Exílio


Já nada vejo nessa bruma
que ora te esconde.
Quero encontrar-te, mas à noite
não me traz nenhuma
esperança de onde nem quando.


Amor, ah, quanto me deves!
Que é dos pés que, leves, leves,
roçaram por este chão?


Alma, és só tempo e solidão.
 

 

 

Millôr Fernandes

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Herodias by Paul Delaroche (French, 1797 - 1856)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), The Picador

 

 

 

 

 

Emílio Moura


 

Noturno de Ouro Preto


Que alada figura aquela
transformada em algo lívido?
Que pedia? Que falava
de sua órbita aérea,
com suas múltiplas vozes?
Ah, noite, há muito submersa
em labirintos de sono!
Quem chamava? Quem sofria?
Quem jogava com o segredo
de tantas áreas ignotas?
Que espectro, a vagar, tecia
o próprio avesso do sonho?
E aquele morrer de novo
a cada inútil aurora?
O ardor, o ritmo brusco
da vida jogada fora,
com tantas, tantas raízes
perdidas, esmigalhadas?
Que era tudo? Que era
aquele fluir do tempo
como invisível cortejo
como vento no caminho?
 

 

 

Tiziano, Mulher ao espelho

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Cussy de Almeida

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Bathsheba,

 

 

 

 

 

Emílio Moura


 

Mundo imaginário


Sob o olhar desta tarde,
quantas horas revivem
e morrem
de uma nova agonia? Velhas feridas se abrem,
de novo somos julgados, o que era tudo some-se
e num mundo fechado outras vigílias doem.


A noite se organiza e, no entanto, ainda restam
certas luzes ao longe. Ah, como encher com elas
este ser já não-ser que se dissolve e deixa
vagos traços na tarde?
 

 

 

Tiziano, Mulher ao espelho

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Herodias by Paul Delaroche (French, 1797 - 1856)