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Elizabeth Lorenzotti


 

Jockey


Pesando 58
como Joppy
Konisberg
Joldeneb
e Ostade
Goethe está inscrito
para a reunião de quarta-feira


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

 

 

 

 

 

Elizabeth Lorenzotti


 

Os poetas de nossa cidade


Supõe as aves, as águas, os peixes
os redemoinhos, as cachoeiras, as retinas
repousadas
Supõe a bem-aventurança, o desatropelo, a lucidez
casas térreas
Supõe a urbe desurbana
a integridade

E supõe o sertão, chão de estrelas, vagalumes

Os poetas de nossa cidade
redivivos

 

 

 

Leonardo da Vinci,  Study of hands

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Poussin, Rinaldo e Armida

 

 

 

 

 

Elizabeth Lorenzotti


 

Por Vladímir Maiacóvski


Vladímir voz de veludo
Carcaça gigante, eu te reverencio
Porque se passaram 66 anos
e passarão cem, e o século vai virar
e mais mil anos
e sempre ressuscitarás a cada poema
E continuarão a ler tua obra/vida
Com ou sem balalaikas
Ó delicado!
A iluminar, a brilhar
A libertar povo e poesia
Muita coisa junta para um só poeta

E a misérias do cotidiano
E os amores servis
E o deserdados do mundo
Ó delicado!
Tudo mudou
nada mudou

É preciso que tudo mude, eles dizem
Para que tudo permaneça como sempre foi

Este o slogan do século 20
(Não o seu , não o nosso)

New York, Moscou, Praga
São Paulo (Brasil, lá onde poderia existir um homem feliz)
As capitais engasgadas
Desenrolam suas misérias
Sérvio e croatas, afegãos,
e nordestinos, cucarachos e africanos
judeus, palestinos, e curdos e tantos
sangram como talvez nunca
tenha sangrado o homem

Vladímir, foi bom
foi bom que teu tempo se esgotou tão cedo
Quanto disso o poeta poderia suportar?

Resta-nos beber da tua fonte
Ó delicado!
Entoar poemas pelos bares vadios
E brilhar
Nossa vingança é brilhar
Brilhar sempre
Brilhar como o sol


 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Cleópatra ante César

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Alceu Brito Correa

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Empire of Flora

 

 

 

 

 

Elizabeth Lorenzotti


 

Viandeiro vindicante


Viandeiro vindicante
   Violeta vindimada
     Vidente visceral
       Vincent vive


 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), The Pipelighter

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Márcio Catunda

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Exposition of Moses

 

 

 

 

 

Elizabeth Lorenzotti



Coração torto


O meu nome não é brasileiro
e o desespero tão profundo
sequer transparece na face

A minha raça é estrangeira
e o que me comove pode ser
mais forte do que o que me move

Eu reverencio a estranheza
 

 
 

 

 

Ticiano, O amor sagrafo e o profano, detalhe

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Sergio Godoy

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Venus Presenting  Arms to Aeneas

 

 

 

 

 

Elizabeth Lorenzotti



O medo


Toda criação junta persiste em gemer
e junta está em dores até agora”
(Romanos 8:22)
Escombro de urzes
Anatomia de trevas
Abrolho
Entre os brotinhos
A relva fresca

A desalumbrar

E geme e entra por
tímpanos, vísceras
Estanca torrentes de pura luz

Momento de cal

Porta aferrolhada, negro gato

Por quê, em nome de Deus

Tão violenta sentinela


 

 

 

Titian, Noli me tangere

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João Batista Oliveira Filho

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Bathsheba

 

 

 

 

 

Elizabeth Lorenzotti


 

Tempo


Sábio e grave senhor desta esfera
Alerta e instiga nossa medida
Brilha, reluz, a face que o encara
Salteador cigano em densa neblina
Vela enfunada em tanta tormenta
rasga fronteiras, singra e ilumina
Vã sentinela, cáustica e atenta
Mago obstruso que a si determina
Nas vagas de dor, aqui e agora
É quem traz resposta, no éter perdido
Entre legiões de anos, tão preciso
Cala e ofusca o cal desta hora

 

 

 

Henry J. Hudson, Neaera Reading a Letter From Catallus

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José Carlos A. Brito

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Titian, Venus with Organist and Cupid

 

 

 

 

 

Elizabeth Lorenzotti


 

 S e r t ã o


Tudo será
esquecido

Tudo será
aprendido

Tudo terá
se fingido

Tudo sertão


 

 

 

John William Godward (British, 1861-1922),  A Classical Beauty

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Marco Aqueiva

 

 

 

09/05/2005