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Marco Aqueiva

maristmo@uol.com.br

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia do autor:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A menina afegã, de Steve McCurry

 

Um cronômetro para piscinas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Allan R. Banks (USA) - Hanna

 

 

 

 

 

 

Marco Aqueiva

 

 


From: maristmo
Sent: Monday, December 19, 2005 3:54 PM
Subject: Re: Re:Caríssimo Aqueiva!

 

Feitosa:

Inicialmente agradeço pela pronta acolhida aos meus novos textos.

Estava revisando uns textos, não exatamente poéticos, algo meio conto, quando escrevi um que parece uma partida ao "Joelhos & Mel".

Particularmente gosto de textos que pela indeterminação caem em uma trama enigmaticamente tão aberta que não sabemos por onde encontrar limites e parâmetros. Ficamos a ver navios...

É tão curto que vou pô-lo aqui mesmo na mensagem corrida.

 

 

Natividade export

 

Até que, um dia, repetido todo o infinito ritual da sobremesa,

ela, em vez de enlaçar-lhe os ombros e puxar-lhe intacto o prato de mel,

retornou à mesa

Soares Feitosa, Joelhos & mel

 

O girão dos dentes na clausura de uma malha que inexcedível não pode ser mais apertada. Pouco sei de arte de mão. Muito pouco mesmo. Mas o serviço é exatamente este: arrume um desses petizes bem tronchos de gordo. Desses bem lácteos a ninho. Desses petiçotes bem nutridos a danoninho e ovos de pata com leite condensado. Ah sim. Tem que ser bem branquinho, bem fornido de polenguinho, pufe e games. Desses. Não lhe dê nada pelos gorgomilos por uns dois ou três dias. Depois só uma carnezinha bem magra com água de macarrão e aquele chá de Valéria que os antigos tão bem conheciam. Pois bem. Depois de uns quinze dias apanhe de uma boa maçaroca o fio firme e necessário. Veja que o volumoso do corpo diminuído deve ter bem reduzido o riso fácil do gordinho.

Esteja ciente de que não é fácil vestir o manequim com um número muito menor. Para a manobra é então conveniente talvez auxílio de mãos fortes e uma boa infusão de folhas de jacundá com mel. Mesmo dopado, ainda assim não é tarefa fácil. Uma vez vestida a malha é ainda bastante conveniente continuar por uns dias com a dieta inicial. O choro então nem sempre é brando. É preciso vedar bem o ambiente. Depois podem-se começar os testes. Pode-se começar com um bom regime de engorda: carboidratos, óleos vegetais e as pastas mais calóricas. Mais o que de bom hábito já consumia: iogurte, chocolates e merengues. O resultado não tarda. O girão do corpo na clausura de uma boa malha sempre nos pode arrancar um bom suspiro de contentamento. Mas particularmente prefiro fotografar e filmar os efeitos rombóides no girão dos lábios finos e doridos. É questão de mor sutileza. A dor que causamos quando tanto mais muda nos dá carreiras à alegria. E é nos olhos abatidos pela maceração que se pode alcançar o mais elevado gozo. Ademais não me faz muito bem encarar de frente embutidos, mortadela, lingüiça. Tenho estômago delicado. Sem falar que os sul-asiáticos com ar blasé sempre me pagam mais pela matéria, boa produção, quando sutilmente sugerida.

 

Marco Aqueiva, dez.2005.


 

Link para Joelhos & mel

 

 

 

Manoel de Barros

 

Augusto dos Anjos

 

 

 

 

 

 

 

 

Entardecer, foto de Marcus Prado

 

 

 

 

 

Marco Aqueiva


 

Comentário sobre Da caixa postal aos

corrós de açude, de Soares Feitosa




Estimado Soares Feitosa,

O mar é imenso, e tua flauta ressoa em mim. Só agora acabei podendo desenovelar seu embrulho de nós e saiu-me dele a matéria viva que me falta, um escrínio de onde saiu o cosmo em figuração de fogo e arrebentação. Arrebentação. Lendo seus poemas em prosa - ou seria proseio este de sumo estro poético, pró-ético, pró-Outro... Pelos corrós de açude sumo-me de estrito, estroço-me desabado de mim. Arrebentado. Felicito-o, portanto, por tanto.

Lendo seus textos, vejo que não só o mar e tua flauta são imensas. O país a dentro, o sertão, o que é chamejante e seco - sei lá se o é - e ignoro por obscuridade de macaco e presunção néscia, em tua flauta ressoa em mim, por estes cordéis, que me prendem e liberam. Como a lâmina que tem dois gumes e amedronta, e salva, ou fármaco que envenena e cura.

Estudos & Catálogos - Mãos e Corrós de Açude - EMANAÇÃO que
talvez me leve a curar-me a ignorância. MANÁ providencial que
me restitui milagrosamente ao chão, aéreo por elevação do Belo, mas térreo, sonho concreto, sem salitre. É AÇÃO que me desenha o outro que esqueci de saber, esqueci de ser. Tenho sido o professor néscio e presumido das letras e literaturas canônicas. Tenho sido o estudante néscio e presumido da literatura oficial. Tenho sido o que se estriba no Lá das aves do lado de lá do atlântico, enquanto no lado de Cá avis rara como Ascendino e Tu gorjeiam diamantes em embrulhos de nós que desejamos e precisamos desembrulhar.

Salve, tu, Soares, que tens muito a cantar e ventar por nós!

Marco Aqueiva
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Bathsheba

 

 

 

 

 

Marco Aqueiva



Nota Bio-Bibliográfica


Quanto a notícia bio-bibli, não há muito o que dizer: professor de literatura em faculdade que faz umas biscates aqui e ali pra engordar o orçamento, publicou livro por conta em 1998 (nada restou - e ainda bem!), tem uns três quatro poemas publicados em revistas (Orion e Babel),... Sei lá, acho meio difícil compor uma folha corrida. Ainda mais que preciso ser rápido e terminar esta sessão. Meu filho menor está me requisitando... Seja franco quanto ao que enviei.

Ah! ia me esquecendo: Marco Aqueiva adotei agora, em julho. Meu nome de pia é Marco Antonio Queiroz Silva - pai português (daí, uma inclinação pelas letras lusitanas) e mãe paraibana (uma outra nostalgia de não sei bem o quê entranhada). É um pseudônimo Japonês Marco Aqueiva ?! - é o que me disse a esposa. Sou natural de Bauru, SP, tenho 38 anos, dois filhos, pra completar o pergaminho.

Um abraço caloroso!

Marco
 

 

 

 

Crepúsculo, William Bouguereau (French, 1825-1905)

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Raymundo Silveira

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Consummatum est Jerusalem

 

 

 

 

 

Marco Aqueiva


 

Pedra e águas contrárias aos giros


i

entre as frinchas, lavra-se
em voltas e verbos
reversos e acasos
um grande recesso

entre céu e terra
águas desfibrando
contornos da pedra
frinchas renovando

águas da linguagem
serpenteando a pedra
avessa a passagens
se não certo acesso

ii

se acesso negado
fria carpintaria
de esfoliantes águas
hidrata outras frinchas

iii

gap sem proteínas
porém enriquecida
por águas e beiras
de outra praia e tempo

pedra aos olhos, vir
a ser repetido
no meio do caminho

– não posso passar
nem mesmo chegar
perto desta pedra

iv

braçadas em versos
em torno da pedra
pedra e águas, revés
ou talvez reverso
contínuo vaivém
extensão do avesso
imóvel trapézio
verbo se em processo
canto de sereia
serpenteando a pedra

nas trilhas do verbo
em versos tropeço
se emergente acesso
contrapé da pedra
microvias velhas
recessos não venço
se n’águas o avesso
verbo em cios, surdez
das frinchas ao vento
contra o cais de pedra

cálculos do verbo
águas contra pedra
verso a ver, tropeço
surdez que não venço
nas folhas da perda
fluxo destransfeito
náufrago, sem versos
ancoragem em pedra
sereias à beira
de hinos à surdez

sonora mudez

macieira em pedra

v

ondas a céu baixo
rosas ao mar alto
vertigem entre as frinchas

à altura das pálpebras
cego e silenciado
desejo em flor bruta

sonhos seminovos
às dúzias submersos
em águas tão turvas

vi

gota a gota água
envolvendo a pedra
em líquens monótonos
e cascas da noite

volta a volta visco
infestando a pedra
de tufos de sarro
cheiro verde, podre

carne o quanto gozo
tempo atrás da orelha
dura enquanto rijo
miolo a preceito

águas macerando
olhos oceânicos
e a carne da pedra
mal quer dentes fortes

não mais que ares podres
– norte em maresia
por excesso de êxodo?

pedra em branco podre

vii

águas contra pedra
cicios e surdez
das frinchas ao verbo

grã viva serpente
coleante ilha
águas entre os braços

texto sobrenada
maçã entre os dentes
pensando-se quilha

 

 

 

Ticiano, Magdalena

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Gizelda Morais

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), The Picador

 

 

 

 

 

Marco Aqueiva



Outro canto de sereia


Teus olhos radiais correm a areia
ora azuis ora verdes ora aéreos
espiando a carne rija dos mareantes
a muscular respiração morena.

Teus olhos radiantes – em seu aprumo
lenhosos e expansivos – acumulam
porões de histórias, reflexos translúcidos
fios de legendas a beirar espumas
bustos anônimos, ilustres náufragos
últimos arredores de alvorada
nos olhos dilatados do afogado
... risos de superfície, como de hábito.

Mas onde pasto aberto, sombra abúlica
onde as conchas soletram teus instintos
teus olhos se retraem ante anúncios
Sereias à venda, prontas e múltiplas
Torsos em consistência transumana
Sem os inconvenientes da traição
Genes selecionados para Amor
Eterno ou perversões de toda espécie.

Quanto vale um buquê de homens em febre ?
Mais que um único campo só de pasto
a migração das ânsias coletivas.
Não só volúpia canto enigma vítimas.
Não mais me faltaria lenda e vida.
Mais que a integridade da carne épica
mais que o rito total e insuprimível
meus olhos submarinos e onipresentes !

Mais que um só barco vaporoso e branco
sua presença próxima e tangível
corpos aos céus abertos mareando
um que arriscando a adolescência em fio
este a mulher, nevoenta e vencida
outro que, confortável, nada arrisca
dos imprevistos sabedor, por estatísticas
dá vida aos mortos refazendo a história

(águas sem ondas sem espumas sem
profundidades ou enganos sem
horizonte se ajusta a seus olhos)
co’as mãos polidas compra certa a rota.

Teus cantos a menor rota aos segredos
do mar abertos de uma vez aos olhos !

Navegável ... e fixo via web
teu olhar irradiando-se em Big Brother.
 

 

 

 

Rubens_Peter_Paul_Head_and_right_hand_of_a_woman

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Lauro Marques

 

 

14/09/2007