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Sosígenes Costa 

Titian, Three Ages

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia do autor:

 

Sosígenes Costa

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ruth, by Francesco Hayez

 

Albrecht Dürer, Mãos

 

 

 

 

 

 

 

Velazquez, A forja de Vulcano

 

 

 

 

 

Sosígenes Costa


 

Biografia:

 

Sosígenes Marinho da Costa
(Belmonte BA, 1901 - Rio de Janeiro RJ, 1968)

Estreou na imprensa por volta de 1928, em Ilhéus BA, onde foi colaborador do Diário da Tarde. No mesmo ano tornou-se membro da Academia dos Rebeldes, com Pinheiro Viegas, Jorge Amado, Edison Carneiro e Dias da Costa. Na época, trabalhava como professor de instrução primária. No início da década de 1950 foi secretário da Associação Comercial e telegrafista do Departamento de Correios e Telégrafos, em Ilhéus. Em 1959 ocorreu a publicação de seu livro Obra Poética, pelo qual recebeu o Prêmio Jabuti de Poesia, em 1960. Entre 1978 e 1979 foram publicadas a segunda edição, revista e aumentada, de Obra Poética e a póstuma Iararana, por iniciativa de José Paulo Paes. A poesia de Sosígenes Costa vincula-se à segunda geração do Modernismo. Segundo o crítico José Paulo Paes, "a ter como certas as datas de composição das peças enfeixadas na primeira parte da Obra Poética, quando ainda andava acesa a campanha dos modernistas contra o soneto em prol da institucionalização do verso livre, entretinha-se o poeta a escrever seus 'Sonetos Pavônicos', todos rigorosamente rimados e metrificados, nos quais são perceptíveis traços parnasianos e, sobretudo, simbolistas, ainda que tais sonetos nada tenham de passadistas, caracterizando-se antes por uma modernidade que se patenteia, como a de Quintana, na exploração criativa das possibilidades expressionais dessa forma fixa, então esclerosada pela prática mecânica e abusiva.".
 

Fonte: Itaú Cultural
 

 

Obras poéticas:

  • Obra poética. Rio de Janeiro: Leitura, 1959.

  • Obra poética. 2ª ed. rev. e aum. por José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix; Brasília: INL, 1978.

  • Iararana. Introd. apuração do texto e glossário José Paulo Paes. Apres. Jorge Amado. II. Aldemir Martins. São Paulo: Cultrix, 1979.

  • Poesia completa. Conselho Estadual de Cultura da Bahia. Salvador, 2001.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tintoretto, Criação dos animais

 

 

 

 

 

Sosígenes Costa


 

A chuva vem cair na Ingauíra


Cada pingo d'água
é um cabelo da chuva.
Cada gole de água do arco-íris
é um aguaceiro.
Essa lagoa é o copo
por onde bebe um gigante.
Para a boca do arco-íris
só uma taça redonda.


Para a sede de um gigante
só a água de um pote rodeado de flores.
É na Lagoa dos Cocos
que o arco-íris bebe água.
Fui ver um dia
esse copo de flores.


Estômagos cheios
da água de um coco,
as nuvens vêm vindo.
Barriga pesada
com a água de um coco,
as nuvens vêm vindo.
Lagoa dos cocos,
Bandeja redonda cheia de copos de água.


Hi! vem chuva como cabelo de sapo.
Cada pingo d'água
é um cabelo da chuva.
Cada gole de água do arco-íris
é um aguaceiro.
E cada gota de orvalho
é um diamante pingo d'água.


Hi! vem chuva como cabelo de sapo.
Aqueles pássaros enormes,
que não podem voar direito,
de tanta água na barriga,
vão cair nesta volta do rio.


Adília, minha irmã, prepare-se:
Sobre a nossa casa vão cair do céu
sete copos de água.


Teu banho de hoje, Sinhá,
será dentro de um copo d'água.


(1940)


In: Obra Poética (1958).
 

 

 

Ticiano, O amor sagrafo e o profano, detalhe

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Yêda Schmaltz

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

Sosígenes Costa


 

Brasília


A mãe do mato
é a mãe das flores
é a mãe das frutas do mato.


A mãe do mato
é a mãe do peixe especial e gostoso
feito em leite de coco.
Só o peixe do mar de Santa Cruz
é bom.


Ela é a mãe da farinha
que vem da roça na muqueca.
Ela é a mãe da farinha puba
da farinha tinga
e da farinha tapioca.


A mãe do mato
é a mãe dos passeios ao campo
da mangaba, da gramixama
e da mixacurumba.
Só mesmo o cágado da história
pode esquecer
esta delícia dos galhos do mato:
a onomatopéia da mixacurumba.


Mãe do mato
só toma banho nesta cuia do mato
cheia de água de um braço quente
e de um braço frio,
água quente que vem da praia
e a água fria
que vem por debaixo do mato.


A mãe da poesia da terra,
mãe das coisas puras
e naturais da vida,
essa mãe do mato
é a minha mãe.


(1957)


In: Obra Poética (1958).
 

 

 

Leonardo da Vinci,  Study of hands

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César Leal

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Exposition of Moses

 

 

 

 

 

Sosígenes Costa


 

Case Comigo, Mariá


Case comigo, Mariá,
que ou te dou, Mariá,
que ou te dou, Meriá,
meu coração.

(Cantiga de roda)


O mar também é casado,
o mar também tem mulher.
É casado com a areia.
Dá-lhe beijos quando quer.

(Quadra popular]


Mariá, por que não te casas,
se o mar também é casado?
Se até o peixlnho é casado...
Não sabes que o mar é casado
com uma filha do rei?
Mariá, o mar é casado
com a filha loura do rei.
Mariá, por que não te casas
se o próprio mar é casado?


Ouem é a mulher do mar?
É a sereia?
É a areia, Mariá.
É a princesa dos seios de concha.


Mandei ao mar uma rosa, Mariá,
porque ele vai se casar.
O mar pediu que a sereia, Mariá,
viesse me visitar
e agradecer o presente.
Ouando foi isto? No passado, Mariá.


Sabes que fez a sereia, Mariá?
Deu-me um punhado de areia;
esta cidade de areia,
nossa terra, Mariá.


Aquela moça da praia, Mariá,
é namorada do mar.
Só vive olhando pra as ondas
e o mar vive a suspirar.


Aquela areia da praia
veio do Engenho de Areia, Mariá.
Que bela é a mulher do mar,
em cima daquela coroa!


Areia da Pedra Branca
desceste o rio correndo.
Tu viste a Ilha das Pombas,
ah! tu viste Mariá.


Adeus, Coroa da Palha,
que eu vou aos tombos da sorte,
rolando aos tombos da vida,
caindo e me levantando.
Só me salvo se cair
nos braços de Mariá.


Donde viria esta areia?
Da serra da Pedra Redonda.
Veio de Minas, Mariá,
rolando no Rio das Pedras
e só entrou na Bahia
quando passou dando um pulo
na cachoeira do Salto.


Deu um pulo no Salto Grande
a areia, a mulher do mar.
Em cima do Salto, está Minas.
Embaixo do Salto a Bahia.
Lá em cima a água é mineira,
caindo embaixo é baiana, Mariá.


Ah! como é linda esta roda
às sete horas da noite,
à hora em que a lua cheia
acabou de sair do mar,
iluminando Belmonte
com todas as suas ruas de areia.


A lua nasce chorando
lágrimas de prata na areia.
Apanhem numa redoma este pranto,
guardem bem guardada esta jóia
que um dia será adorada.
É a lágrima azul da saudade.
Que foi? O que teve? Nada.
Apenas uma lágrima salgada
caiu dos meus olhos na areia.


Marlá, por que não te casas?
Me diga; por que não te casas
comigo, se eu quero te dar,
se eu quero te dar, Mariá,
num beijo o meu coração?


Crianças cantando roda
nas ruas brancas da areia,
naquelas ruas tão longas
como as estradas de areia.


Cantando desde a Atalaia
até a Ponta de areia.
Cantando lá na Biela,
na rua do Camba e nas Baixas
e em todas as ruas de areia.


Ah! lá no Pontal da Barra
é que brilha a lua na areia,
nas areias da Barrinha
e na estrada da Barra Velha.
Mariá, por que não te casas?
Se tu casares comigo,
sabes o que te darei, Mariá?
Sabes o que te darei, Mariá?
Quantos beijos tu quiseres,
cem beijos se tu quiseres,
Mariá, meu coração.
Deitado dontigo na areia,
dar-te-ei meu coração.


Não é só o mar que é casado, Mariá.
O peixinho também é casado.
E o passarinho é casado.
Também quero ser casado
mas contigo, Mariá.


Mariá. case comigo,
já que o mar casou com a areia.


Mariá, por que não te casas,
se o mar também é casado?

 

 

 

Ticiano, Magdalena

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Ronaldo Bressane

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Empire of Flora

 

 

 

 

Sosígenes Costa


 

Chuva de ouro


As begônias estão chovendo ouro,
suspendidas dos galhos da oiticica.
O chão, de pólen, vai ficando louro
e o bosque inteiro redourado fica.


Dir-se-á que se dilui todo um tesouro.
Nunca a floresta amanheceu tão rica.
As begônias estão chovendo ouro,
penduradas nos galhos da oiticica.


Bando de abelhas através do pólen
zinindo num brilhante fervedouro,
as curvas asas transparentes bolem.


E, enquanto giram num bailado belo,
as begônias estão chovendo ouro.
Formosa apoteose do amarelo!


(1928)

 

 

In: Poesia completa (2001)
 

 

 

Culpa

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Marcelo Coelho

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Rinaldo e Armida

 

 

 

 

 

Sosígenes Costa


 

Duas festas no mar


Uma sereia encontrou
um livro de Freud no mar.
Ficou sabendo de coisas
que o rei do mar nem sonhava.


Quando a sereia leu Freud
sobre uma estrela do mar,
tirou o pano de prata
que usava para esconder
a sua cauda de peixe.
E o mar então deu uma festa.


E no outro dia a sereia
achou um livro de Marx
dentro de um búzio do mar.
Quando a sereia leu Marx
ficou sabendo de coisas
que o rei do mar nem sonhava
nem a rainha do mar.


Tirou então a coroa
que usava para dizer
que não era igual aos peixinhos.
Quebrou na pedra a coroa.


E houve outra festa no mar.


(1934)


In: Poesia completa (2001)
 

 

 

Um esboço de Da Vinci

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Alfredo Fressia

 

 

 

02.12.2004