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            Claudio Daniel 
   
            Pavão, martelos
 
 Recomeçar a travessia do elefante, a via do esqueleto
 e do coágulo.
 
 
 Até queimar
 o sol.
 
 
 Mascando insanidade,
 em ofício rouco
 de martelos,
 
 
 repetir o ato insone, raquítico, epilético.
 
 
 Retribuir ao medo uma jóia
 minúscula.
 
 
 Fabricar, com as próprias mãos,
 um pavão real
 — e depois
 cegá-lo.
 
 
 Fornicar o amarelo — abstração
 do violeta —
 
 
 e desfazer
 a palavra
 estrela.
 
 
 Até queimar
 o sol.
 
 
 Ser asqueroso, simples e tosco.
 
 
 Desejar lutar
 com Deus.
 
 
 Por fim, recolher
 as metades
 do rosto,
 
 
 e ver a luz refletida na mina
 do mistério.
 
 
 
            2002/03
 
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