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André de Oliveira Coelho

andrecoelho_rn@yahoo.com.br

Winterhalter Franz Xavier, Alemanha, Florinda

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


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Ruth, by Francesco Hayez

 

Rubens_Peter_Paul_Head_and_right_hand_of_a_woman

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904) - Phryne before the Areopagus

 

 

 

 

 

André de Oliveira Coelho



A Chuva cai mansa sobre a tarde


A Chuva cai mansa sobre a tarde
– Que lenta –
Vai acinzentando paisagens
E povoando os olhares
De pálpebras e solidão.

Ao longe canta desesperado
Um tetéu.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

André de Oliveira Coelho



A mesma brisa


A mesma brisa
De entardeceres passados
Lambe minha pele
E me faz revivê-los.

E enlaçado por intrépidos braços
– Poentes Sempre –
Percebo com triste doçura:
Meus amores têm a cor do entardecer.
 

 

 

 

Frederic Leighton (British, 1830-1896), Antigona

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Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

 

 

 

 

 

André de Oliveira Coelho



Autobiografia


Triste
como um céu cinza
de onde cai
uma chuva mansa
porém ácida

Grave
como uma flor
solitária
num imenso
jardim de espinhos

Poeta?
 

 

 

 

Ticiano, Magdalena

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Circe Vidigal

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Rinaldo e Armida

 

 

 

 

 

André de Oliveira Coelho




Capricho da tarde


capricho da tarde
cintilam gotas amantes
juntas em arco-íris

 

 

 

 

Baloubet du Rouet, campeoníssimo de Rodrigo Pessoa

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Sonia Rodrigues

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Rebecca at the Well

 

 

 

 

 

André de Oliveira Coelho




Lição


Me perguntava, certa vez – uma brisa branda e fria beijando meu rosto, o espetáculo das areias, que mais pareciam num palco bailando a minha frente, a praia tornada um deserto e o mar iluminado pela prata da lua – haveria alguma lição a levar daquilo ali? (há lições a se tirar do Belo?) Queriam as águas realmente me dizer algo, como levemente atestavam meus sentidos? Mensagem cifrada. Que eu não conseguia ouvir (talvez não tivesse ouvidos para tanto). Então inesperadamente, enquanto meu pensamento se perdia na imensidão da noite, pude apreender – venda desabando dos meus olhos – as ondas, que eternamente vão e vêm, ora revoltas como se quisessem nos engolir, ora mansas como mãos que nos dão flores.

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), The Pipelighter

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Vera Queiroz

 

 

 

 

 

 

 

 

Riviere Briton, 1840-1920, UK, Una e o leão

 

 

 

 

 

André de Oliveira Coelho




Mar de chumbo


mar de chumbo
espelho do céu
deserto inverno
 

 

 

 

Albrecht Dürer, Head of an apostle looking upward

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Marina Leitão

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

André de Oliveira Coelho



Minhas entranhas são impregnadas de passados


Minhas entranhas são impregnadas de passados.
Estou sempre às voltas com as minhas lembranças,
a brincar-lhes passando-as delicadamente
entre meus dedos cansados, seu olor sorvendo,
absorvendo-lhes cada sensação já ímpar.

E se, por alguma artimanha casual,
pudéssemos, súbito, voltar ao lugar
já há tempos partido, revivê-lo pleno,
reconviver com as tão velhas impressões,
com a mesma velha disposição de objetos?
E se retornados a esse lugar místico
percebêssemos que ele e as pessoas estão
rigorosamente os mesmos, que o tempo não
passou-lhes, que nunca mais haverá saudade?
As paredes, então, não se nos mostrariam
escuras, enegrecidas como se muito
surradas pelas visões de tantas histórias,
como se, assim como conosco, lhes pesasse
o passado, ferida sempre aberta na alma
– a saudade – que jamais cicatrizará.
E se pudéssemos ser aqueles de outrora
sem sermos criaturas estranhas à gente?
E se fôssemos continuamente tão nossos
a ponto de não mais precisarmos chorar?
Tão nossos que o amanhã jamais derramaria
sobre nossas cabeças suas incertezas,
e o fogo do agora nos governaria?

E se nunca perdêssemos essa vontade
essa volúpia dos reencontros tardios
em que a única coisa a ser feita é comer
devorar os instantes, por si só, fugazes?

Hoje, contemplando antigas fotografias,
percebi que as lembranças me são dolorosas
porque embora muito presentes, são lembranças,
meramente.

 

 

 

 

Ticiano, O amor sagrafo e o profano, detalhe

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Aila Magalhães

 

 

28/12/2005