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Linaldo Guedes

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Frederic Leighton (British, 1830-1896), Antigona,detail

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Contos:


Alguma notícia do autor:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

John William Godward (British, 1861-1922),  A Classical Beauty

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Cleópatra ante César

 

 

 

 

 

 

 

 

Winterhalter Franz Xavier, Alemanha, Florinda

 

 

 

 

 

Linaldo Guedes




Bio-bibliografia

 

Linaldo Guedes nasceu em Cajazeiras (Alto Sertão da Paraíba), em 16.06.1968. É poeta, tendo publicado seu primeiro livro “Os zumbis também escutam blues e outros poemas” em 1998. Lança, ainda este ano, o livro Intervalo Lírico. Tem poemas seus incluídos em vários sites de literaturas. Lançou, ainda, “Singular e Plural na poesia de Augusto dos Anjos” (ensaio, Editora A União, 2000) e co-organizou os livros “Correio das Artes, 50 anos”, volumes de Poesia e Contos (Editora A União 1999) e “Diálogos” (Editora Aboio, 2004). Seu nome está incluído como verbete na Enciclopédia de Literatura Brasileira, organizada por Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa. Atualmente, edita o suplemento literário Correio das Artes.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Linaldo Guedes


 

Gêmeos

Para Lenilda (minha doce e pequena irmã)


foi minha irmã
minha doce e pequena irmã
com os olhos da ressaca que não bebeu
que acusou: você tem dupla personalidade!

olhei de um lado e de outro
mas não acusei o golpe

como fazer entendê-la
que estive em vários lugares ao mesmo tempo
dancei castanhola na espanha e recitei
sonetos de camões em lisboa sem sair de cajazeiras

mas também escutei pancada por pancada
a sucessividade dos segundos sem graça
feito um augusto sem anjos mórbidos,
não saí do boteco, tomando minha cachaça

como ela vai ver o ir e vir de minhas retinas
olhando ao longe e ao perto para o colo das meninas
querendo repousar minha quimera em mais de um
pensando apenas em deixar de ser um zumbi comum

como explicar, à minha doce e inocente irmã,
que as flores do mal povoam meu jardim
que bebo absinto, trago erva e não trago nada no peito
além da vontade de estar além de mim

como escrever poemas, minha pequena irmã,
quando não estou amando loucamente
por isso tenho que sempre ter um amor guardado no peito
e outro repousando no espinho do meu leito

como lhe sugerir que as fábulas mortas
são apenas leituras la fontaines
que a vida se abre na janela do seu quarto
enquanto outra nasce em uma mesa qualquer de parto

como sonhar junto com minha doce e profana irmã
deitado, ao lado de freud, num mentecapto divã
quando sou paz, sou calmaria e tempestade
quando sou loucura e a agonizante busca da felicidade

não, minha irmã
não, minha doce e pequena irmã
não, minha doce, pequena e inocente irmã
não, minha doce, pequena, inocente e profana irmã

não tenho dupla personalidade
e nem tenho heterônimos, apesar do amor a pessoa

tenho apenas a certeza de que não posso ser ilha
enquanto os barcos acenam ao longe todos os dias
cheio de corsários e damas de seios redondos
fazendo o convite para o mar que se divide
entre o atlântico e minha pacífica monotonia.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

São Jerônimo, de Caravagio

 

 

 

 

 

Linaldo Guedes


 

Cárcere Ideológico


a liberdade
repousa num sono secundário
entre o lado canhoto da vaidade
e o beco sujo de uma rua sem poesia

para despertá-la de sua hibernação
é preciso
(primeiro)
limpar a sujeira da vaidade
(depois)
cantar hinos de louvor numa cela sem grades.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

 

Linaldo Guedes


 

Lamento


meu pai sorriu
à sombra da goiabeira
nada de rugas na face
apenas a névoa
de um tempo escondido pela sombra das horas.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Bathsheba

 

 

 

 

 

Linaldo Guedes


 

Quarto 129


a noite veio oculta
na neblina entediante do brejo
sua beleza foi despida
sem a violência dos bêbados famintos

na neblina
do brejo
a noiva abriu as pernas
para o eros esfomeado
e o mundo trancou-se solitário
num quarto frio de hotel.

 

 

 

 

 

13/10/2005