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João Justiniano


 

Mensagem


Estou no mesmo lugar,
conservo a mesma esperança,
os mesmos sonhos. Sonhar
não envelhece, não cansa.

Mantenho os mesmos amigos,
sigo os mesmos ideais.
Nem os maiores castigos
mudar-me-iam jamais.

Quando quiser, bata à porta,
seja de noite ou de dia,
a hora pouco me importa.

Importa apenas saber
se na dor, se na alegria,
eu posso me oferecer.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Nurture of Bacchus

João Justiniano


 

Ano novo
01.03.90


Gira o tempo em contradança,
somando, criando a idade:
vem o ano novo - esperança,
vai o ano velho - saudade!...

Que artista pinta a verdade
dessa sublime balança
que avalia a eternidade
no sorriso da criança?

Na redondilha que faço
eu marco o verso em compasso
dois e cinco ou quatro e sete.

O tempo - esse, compara
na tela de forma rara
o velho e novo. E os repete...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Theodore Chasseriau, França, 1853, The Tepidarium

 

João Justiniano


 

Via dolorosa


Minha mãe chora rezando
à mãe de Deus, pelo filho
que corre o mundo buscando
alcançar a glória e o brilho.

Que saudade!... No empecilho
de voar, voa, eu te mando,
meu coração, no estribilho
desta canção, vai chorando!...

Calvo, adornado de cãs,
minha mãe é com o divino
e eu já não tenho amanhãs...

Coração, leva o menino,
que os deuses e os talismãs
mudaram rumo ao destino...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

 

João Justiniano


 

Escusas


Pouco enxergo, embaraçado
pelo defeito da lupa.
Eis porque chego atrasado,
pedindo a tua desculpa.

O pássaro grande e alado
que do sonho se preocupa,
está doído e cansado,
de trazer peso à garupa.

Nenhuma glória vislumbra
e do amplo espaço de outrora,
percebe mal, a penumbra...

Chego atrasado, desculpa,
já não desperto à aurora
e enxergo mal com a lupa...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

João Justiniano


 

Carência


Quando chegar o Natal,
cante a alegria em seu lar.
Nos lares do meu Brasil
- norte a sul, leste a oeste.

Um riso de liberdade,
que se prolongue no tempo.
Mas liberdade irrestrita,
sem medo, sem preconceitos.

Carece multiplicado
no mar, nos rios, na mesa,
o peixe dos nossos dias.

A realidade presente
precisa ser transformada
para que viva o Natal.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

João Justiniano


 

Anonimato


Deitado sob a marquise,
sem pão, agasalho, nada,
tosse a vermelha hemoptise,
como é fria a madrugada!

Crescem na mente, em reprise,
doem na alma desolada,
a tosse, a tísica, a crise...
como demora a alvorada!

Nessa sofrida jornada,
se não há quem lhe divise
a alma desesperada,

desce, Cristo, a hemoptise,
sangra mais, a hora é chegada,
vem arrancá-lo à marquise...

 

 

 

 

 

 

10.11.2006