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Carlos Nóbrega


 

Os olhos idos


oh por que
o olho morre antes da vida
como se o pássaro
antes do vôo
e o homem antes do sonho
como se tudo fosse apenas
uma grande lua
sem haver noite
 

 

 

Ticiano, O amor sagrafo e o profano, detalhe

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Rodrigo Garcia Lopes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Thomas Colle,  The Return, 1837

 

 

Carlos Nóbrega


 

Os pioneiros


os dois primeiros pardais
ainda estavam melados de sono
- chovia ainda com lua -
E já todo listrado de luz
passou suspenso esse gato
 

 

 

Alessandro Allori, 1535-1607, Vênus e Cupido

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Secchin

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Morte de César, detalhe

 

 

Carlos Nóbrega


 

Os relógios


1 galo que é feito de sol
canta sua canção de sangue
canta com sua voz de sonho,
com seu olho de cor e sal
para as sombras que estão por vir
 

 

 

Culpa

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Gizelda Morais

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Frederic Leighton (British, 1830-1896), Antigona,detail

 

 

Carlos Nóbrega


 

Pipa


como dá adeus
longe
a mão desse menino
 

 

 

Um esboço de Da Vinci

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Adail Sobral

 

 

 

 

 

 

 

 

 

John William Godward (British, 1861-1922), Belleza Pompeiana, detail

 

 

 

Carlos Nóbrega


 

Substantivo concreto


No quarto do morto
ainda sentíamos
das noites mais fundas
A matéria dos seus sonhos
-                -
Tocar-nos
 

 

 

Mary Wollstonecraft, by John Opie, 1797

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Deise Assumpção

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Titian, Three Ages

 

 

Carlos Nóbrega


 

Terceiro exemplo


Exemplo de coisa líquida
o sono.
Um rio que não se explica
correndo com a lua em cima
 

 

 

John William Godward (British, 1861-1922), Belleza Pompeiana

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Roberto Pompeu de Toledo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), The Picador

 

 

 

 

 

Carlos Nóbrega


 

Um gato


meio de louça
meio de sombra
imóveis sobre
si mesmo
o objeto de carne
e espera
espera que a tarde
se vá
de seus olhos
de tédio e sono
 

 

 

William Blake (British, 1757-1827), The Ancient of Days

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Elizabeth Marinheiro