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Waldemar Lopes 

* 01/02/1911 – † 21/10/2006

John Martin (British, 1789-1854), The Seventh Plague of Egypt

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 

Anderson Braga Horta:


Alguma notícia do autor:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), Mignon Pensive

 

Michelangelo, 1475-1564, David, detalhe

 

 

 

 

 

 

Theodore Chasseriau, França, 1853, The Tepidarium

 

 

 

 

 

Waldemar Lopes


 

Acadêmico WALDEMAR LOPES
* 01/02/1911 – † 21/10/2006

 

Dados biográficos
 

WALDEMAR (Freire) LOPES nasceu a 1 º de fevereiro de 1911, em Peri-Peri, que pertencia, então, ao Município de Quipapá e pertence, atualmente, ao de São Benedito do Sul. Filho de Samuel da Costa Lopes e Júlia Freire Lopes, viveu a infância e parte da adolescência tanto em Peri Peri, como na cidade de Palmares, onde iniciou seus estudos, e na fazenda Novo Horizonte (Quipapá). Sua formação intelectual foi completada em Pernam¬buco e no Rio de Janeiro, com múltiplos campos de interesse: jornalismo, literatura, administração pública, economia, sociologia rural e direito público internacional.

Desde muito jovem, colaborou em jornais e revistas de Pernambuco e Estados vizinhos. Antes de transferir-se para o Rio de janeiro, em 1938, foi editorialista e Secretário do Jornal do Commercio, do Recife, e representante do jornal A Noite (do Rio), Vice-Presidente da Associação de Imprensa de Pernambuco. Foi Secretário-Geral do Núcleo Pernambucano da Sociedade dos Amigos de Alberto Torres, Delegado Especial da Diretoria de Estatística do Ministério da Agricultura e membro das diretorias da UBE/PE e da Academia de Letras e Artes do Nordeste.

No Rio de Janeiro, onde residiu durante longos anos, ocupou vários cargos na alta direção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, entre os quais os de Diretor da Secretaria-Geral do IBGE, Secretário-Geral do Conselho Nacional de Estatística e Diretor-Geral do Serviço Nacional de Recenseamento. Foi membro da Comissão Censitária Nacional e da Comissão Nacional de Política Agrária.
Atuou na imprensa carioca durante alguns anos, tendo sido, também, diretor da Revista Brasileira de Estatística e da Revista Brasileira dos Municípios, além de diretor-secretário, por dez anos, da Síntese Política, Econômica e Social (primeira fase), da Pontifícia Universidade Católica.

Serviu à Organização dos Estados Americanos de 1954 a 1976, inclusive como diretor de seu Escritório no Brasil e representante de sua Secretaria-Geral junto ao Governo brasileiro (no Rio de Janeiro e em Brasília). Representou o Brasil no Committee on Improvment of National Statistics (Estados Unidos), tendo presidido a reunião desse comitê em 1954.

Pertence a várias instituições técnicas e culturais tanto no Brasil como no Exterior (Estados Unidos, França e Portugal). Em Brasília, exerceu os cargos de Presidente do Clube de Poesia (dois mandatos), de Vice-Presidente da Associação Nacional de Escritores e de Secretário-Geral da Academia Brasiliense de Letras. Em Teresópolis, RJ, foi Presidente da Academia Teresopolitana de Letras (três mandatos) e do Conselho Municipal de Cultura. É cidadão honorário daquela cidade fluminense, onde exerceu intensa atuação cultural e a que doou grande parte de sua biblioteca particular. O mesmo título lhe foi concedido pelos municípios de Palmares e Cachoeirinha (Pernambuco).

Detentor de bom número de distinções honoríficas e, também, de prêmios literários, no campo da poesia. Por ato do Governo de Pernambuco, seu nome figura entre os agraciados da Ordem do Mérito dos Guararapes, no grau de Comendador.

Apesar da longa interrupção verificada em suas atividades literárias, em razão das absorventes funções que exerceu durante muitos anos, tanto no jornalismo quanto nos setores da administração pública e da cooperação internacional, tem diversas obras publicadas, em prosa e verso. Seu livro de estréia é de 1929; o segundo, de 1971, vale dizer, quarenta e dois anos depois. Só nesta última fase de sua poesia, já na maturidade, e quando inteiramente desobrigado dos encargos a que se dedicava com devotamento absoluto, fez do soneto a forma fixa de poesia "mais representativa de seus recursos de expressão na linguagem do verso". A parte de sua poesia em que o soneto está ausente - menos conhecida, talvez -, é maior que aquela caracterizada pelo culto à "flor medieval", por ele praticado, nos últimos anos, a partir de 1970.

Titular da Cadeira nº 20 da Academia Pernambucana de Letras (patrono: Demóstenes de 0linda), instituição cultural centenária, de que foi Vice-Presidente e diretor da respectiva revista, é também sócio correspondente da Academia Alagoana de Letras, da Academia Paraibana de Letras e da Academia de Letras da Bahia. Ocupa na Academia Brasiliense de Letras a Cadeira nº 19, de que é patrono Castro Alves. Entre as demais instituições literárias a que pertence figuram o PENClube do Brasil (Rio de Janeiro), a União Brasileira de Escritores (seções do Rio e Pernambuco), a Academia de Letras e Artes do Nordeste Brasileiro (cadeira nº 7; patrono: Austo Costa), da qual foi Vice-Presidente, e a Sociedade de Médicos Escritores-Regional de Pernambuco (sócio honorário). É membro da Associação Internacional dos Amigos de Ferreira de Castro (Portugal), cujo Pelouro Cultural integrou, durante anos. Versos seus figuram no monumento de homenagem àquele escritor, na cidade do Porto.

É viúvo, desde março de 1990, da Sra. Iracy Ipirapoan Lopes, exemplar companheira e grande animadora de sua atividade literária.
 

Versos do Soneto “Lição Antiga”, do livro “Cinza de Estrelas” (pág.: 102), do poeta Waldemar Lopes:
 

“Seu legado será esta lição perfeita:
se a morte se aproxima, é tempo de plantar;
outros farão depois a festa da colheita”.

 

Perfil enviado por Anderson Braga Horta

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Consummatum est Jerusalem

 

 

 

 

 

Waldemar Lopes


 

Nota biobibliográfica:
 

WALDEMAR Freire LOPES nasceu em Peri-Peri, então Município de Quipapá, mas hoje integrante do Município de S. Benedito do Sul, PE, em 1.º de fevereiro de 1911. Jornalista, ocupou cargos de relevo na administração pública e dirigiu o Escritório da Organização dos Estados Americanos no Brasil – para lembrar apenas alguns pontos de uma carreira múltipla e fecunda. É titular de diversas entidades literárias, como a Academia Brasiliense de Letras, o PEN Clube e a Associação Nacional de Escritores. Em Brasília, presidiu o Clube de Poesia. Foi um dos fundadores e orientadores literários da Revista de Poesia e Crítica. A Academia Pernambucana de Letras sagrou 2006 como Ano de Waldemar Lopes.

Manuel Bandeira o incluiu, com altos elogios à sua poesia, então quase inteiramente inédita, na 2.ª ed. de sua Antologia de Poetas Brasileiros Bissextos Contemporâneos (1965). Até então, só havia publicado um livro, Legenda (precocemente, em 1929), e participado em duas coletâneas de poetas pernambucanos.

A partir de 1971, ganhou ânimo editorial, com os Sonetos do Tempo Perdido, Prêmio PEN Clube do Brasil. E vieram, entre outros: Inventário do Tempo (Rio de Janeiro, 1974), Os Pássaros da Noite (Rio, 1974; Prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal), Sonetos da Despedida (Brasília, 1976), Sonetos do Natal (Rio, 1977), Memória do Tempo (Rio, 1981), Sonetos de Portugal (1.ª ed. Teresópolis, 1984), Cinza de Estrelas (Recife, 2003). É considerado um dos maiores sonetistas brasileiros.

Faleceu em Recife, em 21 de outubro de 2006.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tintoretto, Criação dos animais

 

 

 

 

 

Waldemar Lopes


 

Soneto da esperança


Tempo de azul e não. Desencantado
reino do que não foi, mundo postiço,
ontem feito de agora, hoje passado:
na essência do não-ser o instante omisso.

(Margaridas da tarde, onde o seu viço?
Choro de água nos ares, lento e alado
caminho cor de sonhos? Insubmisso
mar sem datas, desfeito e recriado?)

Suaves rechãs por onde a mão do vento
esculpia no verde a sombra exata
e as imagens que o olhar já não alcança.

Aventuras tão-só do pensamento:
arco de azul, a tarde era a fragata
supérflua, para o exílio da esperança.)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Venus Presenting  Arms to Aeneas

 

 

 

 

 

Waldemar Lopes


 

Soneto das nuvens e da brisa


Os pássaros nostálgicos... Errantes
mágicos do crepúsculo, soprando
das longas asas trêmulas o brando
vento da tarde; e logo, em céus cambiantes,

alvos blocos de pluma vão distantes
e efêmeras imagens modelando:
sereias e hipocampos, entre o bando
de carneiros, e rosas, e elefantes,

cães e estrelas, dragões, ou aguçadas
torres, na superfície roseoviva
por onde voga, acesa, a caravela

e as longas asas captam, retesadas,
a poesia da tarde, fugitiva,
mas eterna no instante em que foi bela.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Frederic Leighton (British, 1830-1896), Antigona,detail

 

 

 

 

 

Waldemar Lopes


 

Soneto dos vaga-lumes


Era o impúbere céu, era a anteaurora
translúcida. Na meia-luz contida
de súbito se abria, aura sonora,
a flor do canto, logo emurchecida.

Mas no chão da memória surge agora,
de matérias do tempo concebida,
visão morta da noite feita aurora
(e uma vida fundida noutra vida).

Chispas de azul verdefosforescendo
trazem à solidão da terra acesa
o secreto esplendor da alma apagada.

Ritmo de lume e cor, nascem morrendo,
enquanto cresce –tensa de beleza,
madura de silêncio – a madrugada.

 

 

 

 

 

01.12.2006