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Vanessa Marinho


 

Vida permutada


Minha vida de escambo
se faz.

Uma solidão sozinha,
por uma solidão social;
Mediocridade aparente,
pela hipocrisia do ser.
Um exemplo a ser seguido,
por um ego perdido, partido talvez.
A extensão de um sonho,
pelo cerceamento da realidade.
Um eu,
Vários, inúmeros, eus...
Conhecidos, amigos, estranhos, confusos.
Um nariz de aquarela e uma mancha de nanquim,
Por carbono puro, por árvores que choram...

Esse escambo fracassado(quem sabe?!)
Gerou mutações.
Engoliu um ser,
Defecando pura e simples
Superficialidade, mediocridade...
Amadas pelo mundo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Riviere Briton, 1840-1920, UK, Una e o leão

 

 

 

 

 

Vanessa Marinho


 

Somos os mesmos?


A mudança
Da semelhança
Nos torna desiguais.
Mas também somos
Estritamente os mesmos.
Buscamos mutações...

Mudanças...
Que nos tornem diferentes.
A busca pelo ineditismo
Clone nos faz.

Somos linhas,
Retas, curvas, metas
Cores, sombras, sons...
Matéria...
Somos carbono!
Iguais em essência...

Busca por identidade;
Desejo de exclusividade.
Você de mim és parte.
Sou você
Você, eu.

Nossas diferenças
Nos igualam,
Nos separam...

 

 

 

Sophie Anderson, Portrait Of Young Girl

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Bruno Miquelino

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Vanessa Marinho


 

O nada poético


Como escrever uma poesia
se em nada consigo pensar?

Um coco vazio,
murcho, marrom...
Nada tem a oferecer.
É,
apenas é...

Um som melancólico
de batidas solitárias
Ecoam, ecoam...ecoam
nas paredes vazias
do meu oco ser.

Ecoam...ecoam...
Sons e murmúrios
vazios propagam-se
sem sentido...
Conteúdo.
Nada possuem...
Só todo o vazio do ser.

 

 

 

Herodias by Paul Delaroche (French, 1797 - 1856)

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Jamesson Buarque

 

 

 

 

 

 

 

São Jerônimo, de Caravagio

 

 

 

 

 

Vanessa Marinho


 

Infindável tempo


Agora penso se o vazio é o todo.
Será esse todo só meu?
Tudo o que vejo são personas
não sinto pessoas
Não vejo motivos
Vidas à toa.

Vago pelo tempo
espero-o chegar
mas sinto-o em minhas costas.
Entristecer?
Não, não por ele ter passado
Entretanto a nova espera
Um novo vagar
esperar...
O tempo simplesmente terminar.

 

 

 

John William Godward (British, 1861-1922), Belleza Pompeiana

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Eduardo Lacerda

 

 

 

 

 

 

 

Rubens Sanzio de Turbino, Transfiguração, detalhe

 

 

 

 

 

Vanessa Marinho


 

Baú


Às vezes gostaria de retardar o tempo
congelar as coisas, pessoas
os momentos...sentimentos.
Parar os instantes
e construir um quadro.
Guardar as cores
luzes, sombras, afinal nem só de sorrisos vivemos
- sentir o cheiro
a textura, o sabor
de cada momento vivido
e de cada orvalho encaixotado.

Mas no momento seguinte
percebo que um segundo passou.
Nesta hora quero fazê-lo passar.
Passa tempo...passa
Voa, vento
Quero que corra
livre, sem geleiras.

Quero que vá,
e com ele toda dor
toda caixa de orvalho
todo instante passado.

O tempo passa.
Eu fico...
Inerte, congelada
envolta em imagens
ainda guardadas.

 

 

 

Franz Xaver Winterhalter. Yeda

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Antônio Naud Júnior

 

 

 

 

 

 

 

Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

 

 

 

 

 

Vanessa Marinho


 

Balanço


Dor, incomodo,
Pensamentos
Um devaneio.

O que queria
Em minhas mãos se diluiu...e,
o pensamento real
ao meu mundo retornou
Como areia dentre os dedos
o pensamento
se foi...
E pra mim o que restou?

Pensamentos, dor
Devaneios, incômodo...

 

 

 

Allan Banks, USA, Hanna

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Miguel Sanches Neto, 2002

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

 

Vanessa Marinho


 

Broken


Como posso quebrar
o que nunca existiu?
Como posso destruir
o que só existiu
em minha mente...
Em meu coração?

Eu me engano
Me confundo.
Eu destruo
o que construí em mim.
A sedução da liberdade
me aprisiona
em outro pensamento.

Como posso quebrar
o que sinto por você?
O que nunca existiu...
O que pensei que havia...
O que estava lá...

Você estava lá.
saindo do meu pensamento
Estranho.
Lá estava você.
A se concretizar.
O estranho
do pensamento
Pensamento virou,
o estranho em mim
conhecido ficou.

Saudades eu tenho
do tempo que o mundo deixava.
Perdida em pensamentos
te esperava...

O conhecia, mas
não sabia...
Você não sabia
E ainda não sabe
que em mim está.
E aqui sempre esteve.
A minha criação
que para o meu mundo
me levava,
mas neste mundo me prendia.
Neste mundo tão
Estranho
que meu pensamento conduzia.

 

 

 

Da Vinci, Cabeça de mulher, estudo

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Mauro Mendes

 

 

 

 

 

 

 

Entardecer, foto de Marcus Prado

 

 

 

 

 

Vanessa Marinho


 

Protótipo Poético


Hoje não tenho ninguém para conversar
Neste céu negro nem uma luz se faz ver
Meus pensamentos se tornam reais
Assim, desmonto meus sonhos
ilusões;
e torno a me trancar.

Hoje fujo,
corro das pessoas procurando me afastar
Não quero sugar o que gostaria de ter
O que queria ser...
Apenas eu.

Sozinha, eu
As paredes, espartilhos
sufocam , meu corpo
minha corrente.

A TV não ouço mais
ela me reponde na conversa de quadros
tocando essa música emoldurada
esse pensamento contido
BOOM! O dialeto de mudos
E o pensamento retorna:
Não, eu nunca quis a imortalidade.
Pronto, tudo está em seu lugar.

Silêncio!

 

 

 

Leighton, Lord Frederick ((British, 1830-1896), girl

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Aníbal Beça

 

 

 

13/07/2006