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Tasso da Silveira 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Morte de César, detalhe

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Alguma notícia do autor:


Poesia:


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

William Blake (British, 1757-1827), Christ in the Sepulchre, Guarded by Angels

 

William Blake (British, 1757-1827), The Ancient of Days

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova, detail

Tasso da Silveira


 

Poema 17


Esquece o tempo. O tempo não existe.
Acende a chama às límpidas lanternas.
Nossas almas, a ansiar no mundo triste,
são de uma mesma idade: são eternas.


Se no meu rosto lês mortais cansaços,
é natural.A luta foi renhida:
caminhei tantos passos, tantos passos
para que te encontrasse em minha vida...


Não medites o tempo. Se muito antes
de ti cheguei, para a áspera, inclemente
sina de navegar por este mar,


foi para que tivesse olhos orantes,
e me purificasse longamente
na infinita aflição de te esparar...
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova, detail

Tasso da Silveira


 

Sonho vago


Ó branca e luminosa!
Na alcova quieta e silenciosa
que a penhumbra parece transformar
Num ambiente imaginário
De cidade lacustre ou num aquário,
Teu corpo claro, fino, gransparente,
A se mover preguiçosamente
Como a ondular...


Lembra, nessa nudez que as sombras ilumina,
Sonâmbulo país de águas e brumas,
Visão de uma paisagem submarina,
Em que andas a flutuar...
Como no meio de algas e de espumas
- Uma ninfa, sereia ou estrela-do-mar.


Vendo-te assim, meio acordado,
Eu me deixo embalar
Num esquisito, incomparável gozo,
De deleites estranhos inundado.
Crendo que vou contigo a mergulhar,
Num sonho lvoluptuoso,
Por entre espaços fluidos de veludo,
-Um país de perfumes e de encanto -
Em que de um vago luar o tênue manto
Amacia tudo...



II


Quantas imaagens brancas me sugeres!
- Magnólia, flor dos Alpes, nebulosa...
- Branca lua perdida entre as mulheres!
- Garça, vela no mar, alvor de rosa!


Ao vê-lo assim, tão claro e leve, eu plenso
Que o teu corpo, a florir na luz cendrada,
Sonha, dentro da noite, o sonho imenso
Que as rosas brancas sonham na alvorada.
 

   

 

Tiziano, Mulher ao espelho

 

 

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Herodias by Paul Delaroche (French, 1797 - 1856)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova, detail

Tasso da Silveira


 

Noturno


Veleiro ao cais amarrado
em vago balouço, dorme?
Não dorme. Sonha, acordado,
que vai pelo mar enorme,
pelo mar ilimitado.


Se acaso me objetardes
que veleiro não é gente
e, assim, não sonha nem sente,
sem orgulhos nem alardes
eu direi: por que haveria
de falar-vos do homem triste
mas de olhar grave e profundo
que, à amargura acorrentado
sonha, no entanto, que vive
toda a beleza do mundo?


Melhor é dizer: Veleiro...
veleiro ao cais amarrado,
sob as límpidas estrelas.
Vela branca é uma alma trêmula,
sobretudo se cai sombra
do alto abismo constelado.
Veleiro, sim, que não dorme
mas na silente penumbra
sonha, ao balouço, acordado
que vai pelo mar enorme,
pelo mar ilimitado.
 

   

 

Tiziano, Mulher ao espelho

 

 

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Herodias by Paul Delaroche (French, 1797 - 1856)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova, detail

Tasso da Silveira


 

19 (Em todos os perdidos portos do mundo, sob o crepúsculo)


Em todos os perdidos portos do mundo, sob o crepúsculo
balouçam barcos mansamente.
A brisa é uma carícia lenta
nos mastros e nas velas.
A voz da água é um segredo baixinho.
É preciso não acordar os homens.
É preciso que se encha o mundo de doçura infinita,
de infinito silêncio,
porque os homens estão fatigados, fatigados...


In: SILVEIRA, Tasso da. Puro canto. Il. Sepp Baendereck. Rio de Janeiro: Org. Simões, 1956. p.35
 

   

 

Tiziano, Mulher ao espelho

 

 

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Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova, detail

Tasso da Silveira


 

2 (Na noite transfigurada só ficaram os cedros e os ciprestes.)




Na noite transfigurada só ficaram os cedros e os
[ciprestes.
A lua surgiu, mas como, na lembrança, um rosto
[antigo explende palidamente e depois
[se apagou.
O vento veio, mas como um pássaro branco de
[grandes asas fatigadas: esvoaçou, lento
[entre as frondes, pousou no chão e
[adormeceu.
Os outros seres perderam-se no caminho dos
[milênios.
Ficaram apenas os cedros e os ciprestes e, na altura,
[as estrelas.
E para além dos ciprestes e cedros há só deserto e
[esquecimento.


Poema integrante da série III. Solilóquio.
In: SILVEIRA, Tasso da. Poemas de antes. Il. Sônia Castro. Rio de Janeiro: GRD, 1966. p.114
 

   

 

Tiziano, Mulher ao espelho

 

 

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Herodias by Paul Delaroche (French, 1797 - 1856)