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Ricardo Alfaya


 

INTERLÚDIO
 

 

Quando pende a cabeça em abandono
Com ar de nuvem no olhar tão vago
Ligeira vertigem de tela de Modigliani
 


Desfalece sem desfalecer
Numa tristeza sem vontade de chorar
Numa ausência de poema de Nejar
 


Quando assim já desfeita em poesia
Confundindo-se com o ar que evapora dos mares
De serenidade interna inteira impossível
 


Meio lágrima pluma areia
Feita raridade rarefação e espuma
Quando já nem dia nem noite
Só Lua
 

 

 

José Saramago, Nobel

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Gabriel Nascente

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Velazquez, A forja de Vulcano

 

 

 

 

 

Ricardo Alfaya


 

POUCO ANTES DO SOL
 

 

Os magos despertam cansados
Espiam os planetas
Investigam a aurora
Erguem os braços
Levantam os astros
Consideram se um sonho
Ainda é possível
 


Prenúncio de feitiço
Ou simples bocejo
Os gatos se espreguiçam
Na incipiência da manhã
Um galo suspende a crina
Ergue-se um canto
Galileu da luneta se aproxima
Uma janela se abre
O mundo apenas observa
 

 

 

Leonardo da Vinci, Embrião

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José Louzeiro

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tintoretto, Criação dos animais

 

 

 

 

 

Ricardo Alfaya


 

ESTADO DE SÍTIO
 

 

Cavalos
Galope
Noite
Trote
Num artifício de último instante
Invento de Estado
Um golpe
Não sei o que fazer
Com tanto Poder
Tomar da fantasia o Reino
É tão fácil
Difícil é viver anônimo
Nas ruas sem dono
Desta cidade.
 

 

 

Leighton, Lord Frederick ((British, 1830-1896), girl

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Anderson Braga Horta

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jornal de Filosofia

 

 

 

 

 

Ricardo Alfaya


 

INÚTIL O FAROL
 

 

Lençóis de espuma
Bruma branca pluma
Como pode tanta Beleza
Cegar de um homem a visão?
 


Onde agora estou?
Em que nuvem de Deus me escondo?
Perdido na estrada desde o começo em abandono
Atravessado por um sol que desconheço?
 


Imensas montanhas de espumas
Tão alvas e tão brancas gigantescas!
Como podem [se feitas de tanta brancura]
Conduzir um homem brando à escuridão?
 

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), Reflexion

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Pedro Nunes Filho

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ingres, 1780-1867, La Grande Odalisque

 

 

 

 

 

Ricardo Alfaya


 

POEMA PARA SEGUIR EM FRENTE
 

 

É chegada a maratona
Fecho os olhos
E vou em frente
Não peço que me sigam
Se alguém puder
Apenas me acompanhe com o olhar
Passo direto através da vidraça
É proibido repetir caminhos
Cada trecho ultrapassado
Se desfaz da estrada
Evito o contorno
Zoooooooom!
Desvio dos 90 graus de cada esquina
Fujo do subterfúgio da neblina
Escapulo atlético de inúmeros adereços
Salto tríplice mortal sobre falsos endereços
O caminho é sempre reto
Pista farta de obstáculos
E não tem retorno
Muito menos remédio
Não adianta apelar para o Supremo
Ninguém vai parar com o espetáculo
Inútil insistir que o pódium é uma miragem
Tremulando ao longe no infinito da paisagem
Correr de pé no chão em duro asfalto é o que resta
Com um golpe de sorte ou um pulo ligeiro
A gente deixa para o futuro algum Ricardo.
 

 

 

Titian, Noli me tangere

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Cláudio Aguiar