Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

 

Luís da Silva Araújo


 

Soneto


É mais um dia que eu passo sozinho
na ruminância do meu sentimento;
é mais um dia, e na espera eu definho
do meu amor que se faz meu tormento.


Passam as horas e a vida não passa
e ninguém chega, e ninguém aparece
para atender o queixume da prece,
para afastar esta dor que me enlaça.


E na amargura que envolve o meu mundo
sinto a loucura de mim que avizinha,
vejo ruir toda a minha esperança.


Pois que o meu peito doendo profundo
morre enganado na crença que eu tinha
de ter alguém que hoje em mim é lembrança.


CPE-MS, 31:12:93
11:24


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

 

Luís da Silva Araújo


 

Soneto


Tenho um espelho frente a mim, sisudo,
que me reflete a imagem decaída,
que diz as dores de mim sendo mudo
e mostra mil males da minha vida.


E a cada ruga que o espelho aponta
o fundo amargo do destino eu vejo;
e a imensidão da dor que eu não desejo
de mim se apossa, me fere e amedronta.


E amargo triste (a) minha impotência,
e (em) silêncio eu fujo dessa sorte
e da infeliz visão que me apoquenta.


Mas este espelho mostra e não inventa
a imagem triste que reduz meu porte
a caricata e débil aparência.


CPE-MS, 14:06:94
01:31


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Luís da Silva Araújo


 

Soneto


Toda a fraqueza do meu elemento
hoje eu confirmo enquanto a dorme invade,
não avalia o preço da saudade
quem não conhece a dor do sofrimento.


E a boa-fé das almas corrompidas
no estardalhaço deste mundo agreste
mais se corrompe corrompendo vidas
no ensaio amargo de um amargo teste.


Mas a saudade, dote de quem ama,
vem sorrateira e vem causando intriga,
vem atrevida e vem fazendo estrago.


Vem o saudoso (en)cobrir de lama
forjando males e nem sei que diga
com suas asas de nocivo afago ...


CPE-MS, 16:06:94
12:01


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Luís da Silva Araújo


 

Soneto


Tenho na morte a (es)perança altiva
de desvendar todos caminhos meus;
porém não sei se na insana deriva
no Demo eu espero, ou se (es)pero em Deus.


Porque eu não vejo mais luz no caminho
e até o caminho se fecha sem pena;
então me corta a existência um ancinho,
e então me abate agonia tão plena.


E sinto faltar-me aquela que, ausente,
me (en)che de dor e a mim se afigura
como um fantasma no pó desta estrada.


E, assim, eu sigo tal ébrio demente
me consumindo por mil desventuras
pelos caminhos em busca de nada.


CPE-MS, 16:08:94
21:05


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Luís da Silva Araújo


 

Soneto


E novamente nesta hora ousada
que sem querer já me transporta ao dia
sinto fluir-me a tônica pesada
dos invisíveis grãos da alopatia ...


E sinto o sangue arrebentar-me o peito
na conturbância de mil céus de estrela
enquanto a vida que em mim é defeito
foge de mim e (eu) nem sei quem fê-la.


Talvez um deus de rabo e mui ridente,
ou mero coito de prazer e gozo,
ou outra coisa que nem sei que diga.


Mas é na ponta de (um) vil tridente
que eu já destaco o criador maldoso
que assim me fez sem estrutura ou liga.


CPE-MS, 31:08:94
03:24


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Luís da Silva Araújo


 

Soneto


Em sonho eu vivo o meu deslumbramento,
em dia claro, e mais em noite escura
pela ilusão que em mim se faz rebento
para bater-me como em pedra dura.


Porque nuns olhos eu perdi a luz
dos olhos meus, agora sem figura,
para perder-me na razão impura
no jugo forte de tremenda cruz.


Então me entrego sem constrangimento
à sova enorme que me desconserta
e de mim faz um trapo, um vagabundo;


e, assim, na dor cruel do sofrimento
me bate a sorte que o meu peito aperta
como tivesse nada mais no mundo ...


CPE-MS, 23:11:94
12:08


 

 

 

 

 

 

09.09.2005