Soares Feitosa
E era
[Porque, amor, o amor é de abismos.
                                                                            SF]
 
Absoluta certeza de que não: 
emparelhara, 
e como se tivesse visto, 
ou como se nem, 
e arrancou!
Ah, esses cavalos modernos, 
só tropel e pó, 
 já num fôlego contra a montanha. 
Como se fosse o mar,
e o mar defronte, profundos,
os olhos navegavam — pra onde?
Eram de ir, eram de vir?
Porque, amor, o amor é de abismos.
Ah, o mar, de explodir nas pedras,
ora marulho, doutras só espelho,
espelhavam
porque os meus, sumidos, 
inteiramente nos teus e eram fundos:
seriam de ir, seriam de vir? — os teus olhos,
e eram fundos.
Vontade e desencontro:
Foi por ali,
ela teria dobrado?
Voltaria?
Por que não me disseste logo: 
amor, aqui não, neste alpendre tosco, 
os passantes, essas pessoas que nada; 
vamos, vem, vamos, às maresias, lá me contaram, 
duns passarinhos, sempre o mar, 
saltitam a areia... eles são de ir, seriam de vir, 
de tão branquinhos? 
Disparou:
Um relincho súbito,
seria o coche da rainha
voltando e os arautos
seriam de ir, seriam de vir, aonde foram?
Não, não era ninguém!
É muito simples:
o desamor não tem disfarces.
É muito simples: 
uma moto rapidíssima, 
a moto, uma firmeza de flecha e aço, 
as manoplas frementes, os joelhos em transe; 
 ah, essas motos modernas, 
como gostaria de apalpá-las!, 
de uns fios negros, mais uns de ouro; 
outros, sanguíneos; na curva, tudo!, 
uma inclinação bem funda, 
vruuuummmmmm,
(a recusa!) 
engolfando o horizonte.
        Vem, amor, este o teu mar, 
        a ti, inteiro, 
        todo o meu naufrágio.
Fortaleza, madrugada alta, 13.10.1997
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Composição gráfica: SF

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