Hilton Deives Valeriano

Visão


Para o bêbado
caído
na sarjeta
da vida
é indiscutível
que a verdade
não passe
de uma
prostituta
frígida

 

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Hilton Deives Valeriano

Epitáfio


Quando da paz dos mortos precisares
para que no itinerário de tua vida
continues a prosseguir, então terás encontrado
o inviolável segredo da derradeira felicidade.

 

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Hilton Deives Valeriano

O equivoco

A José Arnaldo


Tempo de dizer que meias palavras não bastam.
Que o esforço resultou inútil.


Tempo de dizer que o abraço não se fez cálido,
e sim amargo; hostil.


Tempo de dizer que tampouco há esperança:
vivemos e não somos recompensados.


O desamparo consome a relutância daqueles que persistem.


Os dias perduram no pó de contradições.
Juntas elas formam o equívoco da vida.

 

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Hilton Deives Valeriano

A espera


Aqui, os sonhos não vigoram.
A esperança não se justifica.
Nem mesmo o medo faz sentido.


Aqui, não há margem
ao fim de qualquer travessia.
Não há porto de chegada ou de partida.


Aqui, mesmo que os passos estejam sempre adiante,
há somente a expectativa crescente
de uma longa espera.

 

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Hilton Deives Valeriano

Ausência


Toalha limpa sobre a mesa posta.
Pratos, talheres e copos a espera da refeição.


Silêncio furtivo
outrora não consentido
invade o ambiente familiar.


Os minutos se diluem no transcorrer de migalhas diárias.
Sentimentos cativos, precedidos pela negligência passional
de uma ausência não esclarecida.

 

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Hilton Deives Valeriano

Abjeto


Abjeto,
porém
acessível
ao alcance
da insaciável
fome
de viver
não obstante
desencontros
contínuos
de quem
ileso (feito copo
que resiste
à negligência
de mãos
distraídas) persiste
no oficio
ingrato
de amar

 

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