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Fernanda Benevides


 

Luzes do silêncio


Tateava na escuridão do silêncio,
quando esbarrei em alguém.
Ah, és tu?!
As luzes ascenderam...


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jornal do Conto

 

Fernanda Benevides


 

Os invernos de minha infância


Os invernos de minha infância
eram copiosos, generosos, abundantes.
Banhos de bica sensacionais!
Crianças corriam livres ao longo das calçadas.
Barquinhos de papel deslizavam pelas coxias,
deslumbrando meus olhos de menina vadia.
Aparar água da chuva para saciar a sede
representava maná dos deuses!
Havia feijão verde , canjica.
Pamonha, milho cozido.
Gostava de ficar agasalhada,
ouvindo a chuva bater no telhado!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Da Vinci, La Scapigliata, detail

 

Fernanda Benevides


 

Mensagem


Não sei se o vento te levou o recado;
o sol te envolveu com o calor do meu abraço
ou a lua falou do amor,
daquele amor que ainda que ainda guardo...
Reclamo-te nos horizontes em que, em vão, te busco.
Caminhos falam de desencontro.
O mar chora o argonauta que se afastou do cais...
Muitas pontes. Rios.
Nenhuma travessia...
Triste paisagem.
Apelos transcendentais não são ouvidos...
Telepatia não responde.
Como mandar-te uma mensagem? Em verso?
E o reverso?
Penso em out door ... Classificados dos jornais...
Como falar-te? Difícil encontrar-te...


                             ... e fico assim, sem saber-te,
                             a sonhar-te...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova, detail

 

Fernanda Benevides


 

Voz do olhar


Quando teus olhos feriram o silêncio,
ouviram os meus...


(in LUZES DO SILÊNCIO)
Fortaleza - Ce, 1 Fortaleza - Ce, 1988


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), Reflexion, detail

 

Fernanda Benevides


 

Eu e a brisa


Eis que o ciciar da brisa matinal
acariciou-me o ouvido
- acordou em mim uma melodia.
Ecos vibrantes eclodiram,
plenetraram-me,
invadiram-me...

Ah! Essa brisa matinal
me trouxe um viço,
uma inquietação,
um rebuliço!...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Frederic Leighton (British, 1830-1896), Memories, detail

 

Fernanda Benevides


 

A flor das ruínas


Eis que uma flor despontou nas ruínas
de um templo desmoronado
e te enterneceu.
Era uma rosa pálida
que não queria fenecer
e tímida
gritava para sobreviver...

Transportaste-a ao solo fértil
do teu coração
e ela renasceu rubra
em tuas mãos...

 

 

 

 

23/11/2006