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Cecília Quadros


 

Grito


 

Grito
Num rompante
Vindo do fundo da garganta
De revolta, impotência, de ira
Até então reprimidas
Grito doído
Da alma partindo
Depois... o alívio
Emoções novamente contidas
Até o próximo grito...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Andreas Achenbach, Germany (1815 - 1910), A Fishing Boat

Cecília Quadros


 

Grito II


Emoção pura
Indefinível
de expressão tão difícil
soluço, lágrimas, suspiro
Tudo
E nem assim o alívio...


Emoção forte
Resposta à morte
Vida pulsando
transbordando
se energizando
em seus olhos
doces olhos...


Emoção
Síntese de outras
ao extremo vividas
Agora
ultrapassando limites
se traduzindo num grito

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Caravaggio, Êxtase de São Francisco

Cecília Quadros


 

Levando......


Há um quê de tristeza no meu canto,
               na minha solitária dança.


Há um quê de espanto ante este imutável
                                     cotidiano.


Parece que da última vez já se passaram anos.


De você, esperava tanto...
Troca, aceitação, confiança.


Como nos escravizamos,
ou nos deixamos escravizar.
E mais fundo mergulhamos
até a luz do sol não mais enxergar.
E assim a sagrada vida atravessamos,
sem sustos, desafios, e sem mudanças,
pois acima de tudo respeitamos:
os outros, nós mesmos, nossos limites.
Até nos enganamos, nos convencendo
de que há outra chance: outra vida,
novo par, uma outra dança...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Titian, Venus with Organist and Cupid

Cecília Quadros


 

Me pediste uma poesia alegre

 

 

Me pediste uma poesia alegre.
Ontem a fiz: dela só faltou saírem fogos de artifício,
celebração de horas de entendimento, harmonia,
coincidência de estados especialíssimos de espírito.
Quantos passarinhos verdes havíamos visto?
Hoje te olhei com outros olhos,
olhos de posse, maldita posse.
E se turvou o que era límpido, claro,
divertido, perfeito...


Inocência,
só tu seguras este sentimento de querer bem,
preenchimento,
estranha, inexplicável permanência...


16-06-05

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Consummatum est Jerusalem

 

Cecília Quadros


 

O que será que existe

 

 

O que será que existe
Fora desse círculo
Além daquela porta
Lá, onde o olhar não alcança
Lugares em que nunca estive
Rostos desconhecidos
Imagino...
Mas não me imagino
por outras terras vagando
Uma outra vida vivendo
Em outras águas imergindo...


15-02-03

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Entardecer, foto de Marcus Prado

 

Cecília Quadros


 

Página em branco

 

 

Página em branco
me convidando a segredar-lhe
o que em mim hoje se passa:
transferência, não.
Apenas desabafo...
Sentimento com ela compartilhado
ou melhor nela espelhado
(assim talvez melhor compreendido
assimilado)
Eu, personagem...
Busca, inquietação, perplexidade
tomam agora por inteiro este espaço,
antes branca, leve, desafiadora página...

 

 

 

 

 

 

10.11.2005