Jornal de Poesia, editor Soares Feitosa

 

 

 

 

 

 

 

Airton Monte


 

Os passarinhos fujões.

 

Escrevo e já é domingo. Hoje, não bati o ponto na tradicional macarronada com galinha à cabidela do vetusto Solar dos Monte. Hoje, anseio apenas e indispensavelmente um cantinho sossegado pra ler um livro, ouvir um disco, fazer um poema, escrever uma carta besta de amor, um bilhete de suicida.

Ou, simplesmente, postar-me diante da janela escancarada e desfrutar da paisagem quando me bate esse cansaço de nada, esse tédio absoluto de tudo, essa benevolente preguiça, esse estar no mundo despido de compromissos urgentes.

A verdade verdadeira é que sou um domingueiro típico, suburbano, um domingueiro de anedota. O máximo esforço a que me permito é andar até a cozinha pegar uma cerveja no congelador. Isso, se não tiver quem vá.

Domingo, nem o velho e grande gato gordo, que habita o telhado em frente, persegue inutilmente os pombos ilusórios pousados nos beirais. Sim, sou igual ao velho e grande gato gordo, folgado, macunaímico, lagarteando sob o sol.

Aliás, um felino muito mais sábio do que muitos bípedes pensantes.

Domingo é o dia mais apropriado pra se ler poesia. Afinal, poesia é o pão do espírito, se bem que certos poetastros nos fazem comer o pão que o diabo amassou.

Não é o caso desses versos que me emocionam profundamente sempre que os leio, do poeta Soares Feitosa: "Abram-se as janelas, que aqueles canários fugidos da gaiola podem voltar". Por isso, não crio canários e odeio todas as gaiolas, a não ser a do meu peito onde bate asas meu coração eivado de um romantismo incurável e renitente.

Canários são palavras, gestos perdidos na distância, adeuses esquecidos na janela de um avião, o odor inesquecível de uma mulher depois que a gente faz amor.

Aos domingos, escancaro todas as janelas da casa e da alma. Pássaros fujões podem voltar em busca de ninho. Quem sabe uma palavra, frase, ponto final de um poema, um conto, uma canção, uma crônica.

Sim, manter perenemente as janelas abertas, porque os poetas sabem que os passarinhos fujões quase sempre voltam ao local do crime, pombos-correio do inesperado.
 

 

Moça com Flor na Boca - Crônicas escolhidas 29

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jornal de Poesia, editor Soares Feitosa

 

 

 

 

 

 

 

Carlos Augusto Viana


Diário do Nordeste, Fortaleza, Ceará, Brasil

Cultura, 4.9.2005


Crônica para o cantador de sua aldeia

Sem lide, por favor! Quebrando protocolo e regras jornalísticas. Escrever sobre Airton Monte em ocasião do lançamento de seu livro “Moça com Flor na Boca”, hoje às 20 horas, no Ideal Clube, merece mais que uma notícia de jornal. Porque, como ele mesmo diz, com humor impagável, “quem canta bem sua aldeia, canta bem o mundo”. Está dito e ninguém ouse discutir. A máxima é do cronista de Fortaleza, além de ficcionista e poeta. O tempo que seus textos correm as linhas do jornal “O Povo”, diariamente, ele tentar pescar da memória — “nove ou dez anos”, arrisca.

A tal “Moça com Flor na Boca” é uma coletânea com pouco mais de sessenta textos, entre tantos guardados nas reminiscências da memória mais que perfeita - um tipo de arquivo recém-descoberto. “Eu coloco todos os textos que recorto num saco de lixo com naftalina. É o melhor arquivo que eu descobri”, revela. O amigo Dimas Macedo - você sabe que ele é louco? - pergunta, carregou consigo cerca de três mil crônicas quando tirou férias. Tanto mexeu, cutucou, peneirou “papéis mofados”, que resultou no livro. “Ele me deu as crônicas escolhidas para saber o que eu achava”, diz. É assim no companheirismo, à vontade, que o cronista fala do livro. À vontade também, ele fala dos amigos de longas datas, personagens vivos da vida de Airton e dos textos do cronista; Dimas Macedo, Carlos Augusto Viana, Moita, Tururu, e outros tantos entre as calçadas da Gentilândia à Parquelândia. A matéria-prima das crônicas é simplíssima de encontrar. “Basta eu conversar com os meus amigos e mandar bala”, explica.

Airton Monte é dos bons moços, que acha “frescura” essa lenga-lenga de escritor reclamar do ato de escrever. “Escritor tem mania de sacralizar o que escreve, dizer que é doloroso...”, resmunga. É que Airton é de outro naipe de escritores e cronistas, que adoram escrever, mesmo que o tema seja bizarro e triste, quanto as mazelas brasileiras estampadas nos olhos das crianças que perambulam entre esquinas e sinais de trânsito. Aliás, são essas, as mazelas, o que mais toca o cronista.

Da guerra anunciada contra Bagdá, nos primórdios de 2003, ele lançou olhos tão tristes quanto o da infância miserável do mundo, infância em guerra. Da coletânea, “Os Olhos das Crianças de Bagdá” é a crônica preferida de Airton. Ele pensou nas crianças “porque não há lugar onde se viva mais em guerra do que aqui”, justifica. Os olhos de farol dessas crianças são as luzes sobre o resto do mundo sujeito a intolerância e ao capital. “O que me importa agora são os olhos das crianças de Bagdá, a quem roubaram o tantinho que ainda lhes restava de infância. Os olhos das crianças estão gritando: — eu acuso:

— Os olhos das crianças de Bagdá são iguais aos olhos das largadas pelas ruas desta cidade por onde vivo, transito e me morro de amores. Em suas pupilas reluzem medo e ódio de todos e de tudo. E eu me pergunto, já sabendo a resposta. Até quando haverá crianças com os mesmos olhos que vejo agora nas crianças de Bagdá? Eis o que me assombra a alma e o que escrevo”

Não tem feitiço nenhum. O que acontece é que Airton Monte é um cidadão que ainda gosta do ser humano, do inusitado de cada dia e fala disso com orgulho, mas sem esnobismo. E olha, que ele não é qualquer um. É médico psiquiatra, trabalha com gente de carne e osso como os seus personagens urbanos, de bares, futebol e alpendres de fim de tarde. Ele está pronto para qualquer conversa e fala com o desconhecido, como se o conhecesse há anos. Por isso gastamos o tempo para falar do autor, antes do livro, porque o cronista começa pela alma e depois se espalha pelo resto. Nessas conversas, ele não perde as comparações para ser melhor entendido. Esse exercício também se aplica quando fala dos seus textos. “A crônica pode nascer de parto normal, fórceps, quando o cronista tem um branco e cesariana”, define. E isso não é fala publicitária para a imprensa. Ele é assim com todos. “Meu telefone é disponível para quem quiser e agora também sou um cronista pós-moderno, com e-mail e tudo”, brinca. “Com a internet ficou mais fácil. À tarde, alguém já liga elogiando ou esculhambando. Quem sabe eu não publico um dia essas respostas às crônicas”, planeja.

Para o lançamento do livro, hoje, Airton Monte estará simples e risonho a espera dos amigos. “O poeta Carlos Augusto Viana. O Ricardo Guilherme (ator e diretor teatral) também. Me disse que vai fazer uma performance para uma crônica minha. Sabe como é. Ator não gosta de diretor, por isso eu não me meti. Vamos ver lá o que ele preparou”, diz.
 

 


Trecho

“A esta hora tardia em que escrevo, o dia de amanhã já se anuncia no melancólico cantar de um galo insone, exilado na cidade grande. Claro que o mundo não pára enquanto dormimos. As coisas continuam acontecendo, seguindo seu próprio ritmo.

Quem sabe, em algum lugar, neste determinado momento, um bebê tenha acabado de nascer e a humanidade se engrandeceu mais um pouco, envolta no doce mistério da carne, como se nós todos milagrosamente ressurgíssemos do nada.

Na mesma escala do tempo, num botequim da periferia compadre Raimundo matou compadre Francisco por causa de uma dose de cachaça pedida e recusada. Em uma cobertura luxuosa da Avenida Beira-Mar, um marido (respeitável cidadão) espancou outra vez a mulher só porque ela abraçou e beijou um velho amigo de faculdade. Trancado no quarto, olhos fixos na tela do computador, o filho de 5 anos sente o ódio envenenando sua dolorosa meninice.

Já no centro da cidade, que jamais dorme, maus meninos de boas família ateiam fogo a um mendigo bêbado, só pra tornar a noite menos chata. Pela internet, um casal ainda jovem se ama por correspondência e usam nomes falsos e trocam retratos fictícios.

Num sobradinho branco, de janelinhas azuis recém-pintadas, à beira do mar, um homem e uma mulher celebram no altar de Vênus sob as bençãos de Afrodite. Num terreno baldio, uma criança é estuprada e morta pelo vendedor de picolés.

Na praia de Iracema, as vendedoras de flores poetizam a noite sórdida. Dentro de um mesmo universo multifacetado, há, ao mesmo tempo, uma lua-de-mel, um velório de pai rico onde os filhos choram com advogado do lado e com firma reconhecida.

 

AIRTON MONTE: “A crônica pode nascer de parto normal, cesariana, a forceps ou quando o cronista tem um branco”

Foto de André Lima

 


Moça com flor na boca

Airton Monte ocupa, no Ceará, o posto de cronista maior. Senta-se, agora, em iluminada cadeira - a mesma, antes, habitada, hierarquicamente, por João Brígido, Caio Cid, Milton Dias e Ciro Colares. Não há quem não lhe reconheça a janela em que, de quando em vez, se debruça para, de um solar de nuvens, contemplar as nossas dores, as nossas alegrias ou, tão-somente, os filamentos que o cotidiano nos oferece em seu estranho banquete. É, pois, um amigo de alpendre. E preserva o que, em nós, converte-se em sagrado: o apreço à amizade, a flor nos túmulos, os corredores da memória, um fragmento de tarde, o desejo e suas vicissitudes, o digladiar-se entre Eros e Thanatos, o cotidiano familiar, a literatura e outras artes...; enfim, a condição humana, quer a solidão da moça, quer os olhos das crianças de Bagdá.

O ensaísta Massaud Moisés, em seu ´Dicionário de termos literários´, (São Paulo: Cultrix, 1974, p. 131-133) exprime, em síntese, as várias acepções do vocábulo "crônica" ao longo dos tempos. No início da era cristã, designava uma relação de acontecimentos, cronologicamente ordenados, simplesmente registrados, sem o aprofundamento das causas, tampouco interpretados. A partir do século XIX, passou a rubricar textos que só longinquamente se vinculavam à forma primitiva de crônica, pois, ostentavam, agora, estrita personalidade literária. A crônica, em sua feição moderna, via de regra publicada em jornais ou revistas, para, depois, ter uma seleção impressa em livro, concentra-se num acontecimento diário que tenha chamado a atenção do escritor, (um conflito bélico, a violência urbana, uma cena lírica, um ser, um objeto, um fenômeno natural etc) em introspecções (o estar-no-mundo, os sentimentos, os sonhos) ou em motivos encomiásticos etc. É, pois, uma expressão literária híbrida: pode assumir a forma de alegoria, necrológio, entrevista, confissão, diálogo etc, bem como girar em torno de pessoas fictícias ou reais. Assim, a crônica habita entre a poesia e conto: implicando sempre a visão pessoal, subjetiva, ante um fato qualquer do cotidiano, a crônica estimula a veia poética do prosador; ou dá margem a que este revele seus dotes de contador de histórias. No primeiro caso, pode resultar num autêntico poema em prosa; no segundo, num conto.

A crônica de abertura do livro ´Moça com flor na boca´, de Airton Monte, (Fortaleza: Editora UFC, 2005)- e que a este dá o título, já faz uma síntese dos elementos recorrentes do autor: o lirismo, a ironia mordaz, o jogo dos contrastes e a circularidade: A esta hora tardia em que escrevo, o dia de amanhã já se anuncia no melancólico cantar de um galo insone, exilado na grande cidade. Claro que o mundo não pára enquanto dormimos. As coisas continuam acontecendo, seguindo seu próprio ritmo.

Quem sabe, em algum lugar, neste determinado momento, um bebê tenha acabado de nascer e a humanidade se engrandeceu mais um pouco, envolta no doce mistério da carne, como se nós todos milagrosamente ressurgíssemos do nada.

Na mesma escala do tempo, num botequim da periferia, compadre Raimundo matou compadre Francisco por causa de uma dose de cachaça pedida e recusada. Em uma cobertura luxuosa da Avenida Beira-Mar, um marido (respeitável cidadão) espancou outra vez a mulher só porque ela abraçou e beijou um velho amigo de faculdade. Trancado no quarto, olhos fixos na tela do computador, o filho de 5 anos sente o ódio envenenando sua dolorosa meninice.

Já no centro da cidade, que jamais dorme, maus meninos de boas famílias ateiam fogo a um mendigo bêbado, só para tornar a noite menos chata. Pela internet, um casal ainda jovem se ama por correspondência e usa nomes falsos e troca retratos fictícios.

Num sobradinho branco, de janelinhas azuis recém-pintadas, à beira do mar, um homem e uma mulher celebram no altar de Vênus sob as bênçãos de Afrodite. Num terreno baldio, uma criança é estuprada e morta pelo vendedor de picolés.

Na Praia de Iracema, as vendedoras de flores poetizam a noite sórdida. Dentro de um mesmo universo multifacetado, há, ao mesmo tempo, uma lua-de-mel, um velório de pai rico onde os filhos choram com advogado ao lado e com firma reconhecida. Ah, quantos dramas, quantas tragédias acontecendo agora enquanto escrevo, inclusive uma canção que se solta pelo ar, uma estrela cadente, uma nuvem esculpida caprichosamente pelo vento, um homem solitário recitando poemas de amor e seu coração gritando vida, meus olhos sonhando com a mágica visão de uma moça linda, com um sorriso de jardim suspenso da Babilônia e, certamente, irremediavelmente com uma flor na boca, que o poeta colherá inevitavelmente, imune ao veneno de todos os espinhos.(p. 7 e 8 )

As passagens ´A esta hora tardia em que escrevo...´ (1º §) e ´Ah, quantos dramas, quantas tragédias acontecendo agora enquanto escrevo...´(7º§) apontam um elemento inerente à composição de Airton Monte: a circularidade; isto é, os enunciados estabelecem entre si vasos comunicantes, e a escritura resulta de um entrelaçar-se de fios, à semelhança de uma teia. Tecelão, o Autor possui um fio-mestre; deste, podem desprender-se outros fios, mas àquele estarão subordinados.

Cronista, o autor se apresenta ao leitor como um homem comum, que também luta pela sobrevivência, que, como qualquer outro homem, trabalha, ainda que destoe do quadro geral: ´o dia de amanhã já se anuncia´ à cidade, mas para ele, cronista, é uma ´hora tardia´, pois, da mesma forma como aquele ´galo´, ele, também, é um ´insone´ e um ´exilado´, em sua ´caverna´ - espaço de sua criação.

A ´máquina do mundo´ o faz tecer uma série de reflexões acerca dos contrastes que compõem a crosta do cotidiano. E, como ´As coisas continuam acontecendo´, passa a colher, aleatoriamente, alguns episódios, configuradores do espetáculo humano, estabelecido no grotesco, uma vez que ao lado do belo reside o feio; do puro, o impuro; da virtude, o pecado etc.

Assim, no mesmo instante em que nasce um ´bebê´, fazendo com que a humanidade se engrandeça ´no doce mistério da carne´, num ´botequim da periferia´, um compadre matou o outro, por motivo banal. Mas, como a violência está entranhada no homem, e ultrapassa a fronteira da miséria social, numa ´cobertura de luxo´, um ´marido´ - ironicamente composto com um ´respeitável cidadão´ - espanca, também por motivos banais, a esposa, enquanto em outro quarto, preso ao computador, o filho, criado na abastança, já destila ´ódio´, reconhecendo o absurdo de sua infância infeliz.

Concomitantemente, no ´centro da cidade, que jamais dorme,´ porque abriga o lixo social - prostitutas, travestis, trabalhadores noturnos etc -, ´maus meninos de boas famílias ateiam fogo a um mendigo bêbado, só pra tornar a noite menos chata´.

(Nessa passagem, o cronista relembra um episódio que, em verdade, aconteceu em Brasília: jovens de classe média alta - todos estudantes - atearam fogo ao corpo do índio Galdino que dormia em um banco num ponto de ônibus, já que se perdera dos companheiros - vieram a uma audiência no Planalto - e esperava encontrá-los ao amanhecer. Os jovens - assassinos do índio - declararam, à época, que fizeram aquilo porque estavam entediados.)

Como se vê, não se tratou de um gesto imotivado. É certo que, em relação à vítima, eles não cultivavam qualquer sentimento de ódio, de vingança etc. Na pós-modernidade, o consumo chega a um ponto de reificação que se torna monótono; desse modo, eles consumiram uma imagem que eles mesmos produziram: o desespero do índio em chamas - um espetáculo visual que tem, assim, relação com o consumo; pois, afinal de contas, estavam ´entediados´.

A imagem do ´casal ainda jovem´ que se ama por correspondência e usa nomes falsos e troca retratos fictícios´ remete a uma problemática da contemporaneidade: a teatralidade social, a dificuldade de comunicação, a artificialidade das atitudes. A sexualidade, ainda que esteja ligada à verdade individual, é escorregadia, imprecisa e desemboca em dúvidas e em interrogações. Se num ´sobradinho branco´, um casal celebra o amor liberto das convenções sociais, num ´terreno baldio, uma criança é estuprada e morta´.

Airton Monte, em muitas passagens de suas crônicas, entrega-se ao poético e nos brida com imagens surpreendentemente belas: ´Na Praia de Iracema, as vendedoras poetizam a noite sórdida´. As ´flores´, no espaço noturno, substituem as palavras de amor e de amizade, e estes sentimentos, confirmando o paradoxo humano, palmilham, na ´Praia de Iracema´, o mesmo território das drogas, do álcool e da prostituição.

Por fim, em meio a canções, estrelas, nuvens, o poeta sonha ´com a mágica visão de uma moça linda... com uma flor na boca´ - a ´flor´ surge em toda a sua força lírica, como símbolo de esperança, mesmo que frágil, a insurgir-se contra os descaminhos do mundo, a desumanização. A ´moça´, trazendo na boca uma ´flor´ é o quadro da promessa de renovação tanto do mundo quanto do coração do poeta, que, ´imune ao veneno de todos os espinhos´, colherá aí o seu grão de beleza.

Airton Monte é um cronista consciente de seu papel. Sabe, exatamente, a dimensão de seu nome na cidade. Tem consciência da repercussão do que expõe em seus textos. Escatológico, convive com a consciência da decomposição de tudo, do destino do perecível, por isso, de quando em vez, abraça a efemeridade.

Airton Monte escreve em ziguezague; desse modo, um de seus procedimentos é o de eliminar verdades absolutas; e brinca com o leitor, ao conduzi-lo por caminhos falsos ou rotas incompletas. Funciona mais ou menos assim: apresenta um argumento, enumera justificativas e finge completar o pensamento; mas apenas finge completá-lo, pois, logo em seguida, toma um outro rumo.

Finalmente, ressalta-se o discurso intertextual como uma das marcas de seu discurso literário, uma vez que é um leitor voraz e carrega dentro si, entrelaçados, fragmentos de tantas léguas de livros; bem como de canções, amante que é de jazz, de blues, da bossa-nova, do samba-canção, dos boleros etc.

Carlos Augusto Viana
Editor