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Weliton Carvalho

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Poesia:

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Alguma notícia do(a) poeta:

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Allan R. Banks (USA) - Hanna

 

 

 

 

     
 

 

Gizelda Morais

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Riviere Briton, 1840-1920, UK, Una e o leão

 

 

Weliton Carvalho

 

 

 

ANTOLOGIA

Meus primeiros versos eram tão puros,
verdadeiramente ingênuos como um dia meu olhar:
neles não se via nenhuma malícia ordenada,
nem malabarismos lingüísticos.

Tinha um amor especial por eles:
tanto que os guardei no fundo de uma gaveta
e os lia furtivamente, escondido de todos.

Outro dia, remexendo meu escritório,
reencontrei-os entre outros papéis imprestáveis:
constatei que eram românticos, melosos,
verdadeiramente ingênuos, sem malícia.

Quando os escrevi, era quase um menino
e não conhecia a teoria literária nem os grandes

                                                               / poetas
e tinha vaga notícia dos homens e suas trapaças ao                                                                / viver.

Olhei-os e tive vergonha:
eram puros demais, ingênuos e sem malícia.
Rasguei-os: não os merecia o mundo
e seu autor, há muito, estava morto.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nauro Machado

 

Travessia sem fim

Paul Auster, ao fazer da fome (via Kafka) a metáfora incisiva da arte literária, traçam em páginas imortais a trajetória de um pequeno (grande) equilibrista, por ele conhecido numa das suas longas estadas em Paris.

Várias e outras sempre renovadas metáforas são usadas para conceituar o fazer, fazendo-se de uma contextualização a implicar o somatório talvez mais trágico de um destino humano.

Weliton Sousa Carvalho, réu sem culpa de um "precesso" desenvolvido à revelia da homônima novela do genial romancista de Praga, abandona, temporariamente, sua toga de juiz, para se inculpar na sua condição de poeta e, portanto, duplamente culpado, se visto à luz da engrenagem mercantilista da nossa contemporaneidade.

Para ele, o poema, página em branco onde há de inscrever-se o código de uma linguagem dessemelhante da que lhe é usual, é como uma "travessiaNauro Machado sem fim", o que denota, logo no seu primeiro livro, o rito de um "sursis" que eu diria permanente: aquele que lhe dá condições de buscar uma saída, além daquela, por ventura, aberta pelas leis codificadas de uma sociedade quase sempre injusta.

Sei como é difícil falar sobre a estréia de qualquer poeta. Várias questões podem ser postas, ainda que no plano estritamente humano de quem se inicia, fazendo do seu canto a viagem inaugural de um percurso, muitas vezes, sem retorno.

O que me chamou atenção nessa poesia, logo à primeira leitura, foi notar a ternura por ela imposta sobre coisas às quais o flagrante - que eu diria fotográfico do olhar - dissocia da sua condição de clareza ou sujidade urbana.

Por ser uma poesia quase objetiva, acionada pelas forças do cotidiano, este primeiro livro nos mostra, sem dúvida, uma nova e autêntica voz perquiridora do real, em versos que denunciam um talento real e capaz de enriquecer a mais nova poesia maranhense.

Entre o Silêncio e a Recordação, Weliton revela a maturidade do seu canto, em versos incisivos e de grande beleza. Sabendo que "na sala de estar permanecemos graves / como a mesa, o quadro / o verniz roubado pelo tempo /, naquele "silêncio insuportável" e denunciar "a finitude dos homens e das coisas" e de que "tanta coisa apodrece / assim como a hora dentro do dia / assim como um homem no peitoril", ele também é capaz de afiançar a verdade última (ou primeira?) de que, se "tanta coisa se perdeu", o que é eterno, como a poesia daquele "rosto de mulher que a primavera não esqueceu", é uma resposta à nossa angustiadora pergunta de homens temporais. Donos, contudo, da nossa grande, imensa esperança de homens a quem a Poesia salva para o testemunho milenar da própria História.


 

Alguns poemas deste livro


NASCIMENTO

Em manhã de novembro e sol
cortaram meu umbigo:

uma ferida foi exposta
de tal maneira ao mundo

que o tempo não pôde curar,
só contaminar de lembranças.


 

SILÊNCIO

Na sala de estar permanecemos graves
como a mesa, o quadro, o verniz roubado pelo tempo.

Faz um silêncio insuportável
a finitude dos homens e das coisas.


 

TESE PARA EXPLICAR O AMOR

Era delicada,
olhos claros:

[...]

Simplória como o amor.

 

 

 

 

 

 

 

 

20.2.2011