Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

Sidnei Xavier 

sidneix@hotmail.com

Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova, detail

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Poesia:

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Alguma notícia do autor:

  • Direto para sua página pessoal, Auroras

  • Autor de Radares da Tarde (Badaró, 1998), é mestrando em Teoria Literária e Literatura Comparada na USP, onde desenvolve pesquisa sobre os contos de Raul Pompéia. (2009)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

John William Waterhouse , 1849-1917 -The Lady of Shalott

 

Vera Queiroz

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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John William Godward (British, 1861-1922), Belleza Pompeiana, detail

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

 

 

Sidnei Xavier

 

 

 

 

A ilha

 
"Sigamos estas deusas e vejamos
se fantásticas são, se verdadeiras."
(Lusíadas, IX)

As que vinham de ermas terras,
o olhar pendendo ao chão,
logo o nariz alteavam
ao claro azul retilíneo
estampado no horizonte;
outras de próximas praias
que a grossas mãos dardejantes
espalhavam-se como espuma,
a fronte já tinham suprida
de altiva amplidão;
todas, nas céleres naves,
em plenirruidoso coro
entoavam lépidos cânticos.
Saídas de suas naus festivas
com os sons acidulando
o ar marinho,
as vozes se acentuavam
em líquidos diminutivos.
Como reses que bovinas
ao cercado que as abriga
espremem-se na entrada,
as ninfas ombreavam-se na praia.

Reluziam nas brônzeas espáduas,
em geral, fios alongados de ouro,
embora as douradas nucas
pudessem, no cegante brilho,
espargir sombras noturnas.
Olhares fulgentes, graúdos,
de fundos tons anilados,
encimavam os tecidos
sutilmente esticados.
Assim sorriam, seriadas,
aos que na areia as tocavam.

Noutras naus, de duras linhas,
vieram os heróis velozes.
O peito inflado de glórias,
os braços férreos, o rosto
cumulado de risos,
o pensamento anotado
em lacunosos papiros,
dos barcos desciam aos dois
que o espaço da proa era parco
pro escasso ondear de ombros largos.
Assim sorriam, seriados,
aos que cortavam o caminho.

Da veste leve apartados,
a macho e fêmea resumidos,
- que demais adornos, dons, virtudes,
do humano senso presumidos
a inútil carga não carregam -
heróis e ninfas se embrenham
na fausta e venérea ilha.

"Que famintos beijos na floresta!"
Que mão honesta! Que túmida
natureza a cena oferece!
Que flor de mágoa! Que dor
abrupta remove os fios da testa!
Que fundo sopro expulsa
o ar de musgo do peito!
Que fulva fala! Que gérmen?
que fruto? que o olho colhe!

O riso de Deus tonante
(olho-que-tudo-vê)
ávido de hecatombes
ressoa na caixa argêntea.
Ninfas e heróis ululam
na noite de lua ausente.
Ao todo azul poderoso
dançam como guerreiros
atravessados de lança,
ou como animais
feridos para a matança,
ou homens mesmo
contorcionados no instante
que dão de si na cloaca.

 

   

 

 

 

 

 

 

3.9.2009