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Romério Rômulo

romerioromulo@hotmail.com

 

Sandro Botticelli, Saint Augustine, Ognissanti's Church, Firenze

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Romério Rômulo


 

pontes, ouro preto

 

 

as pontes que martelo e que atormento

carregam uma espécie de ungüento

que vila rica deixou em cada delas.

 

o sujo, o não calado, o renitente

perderam a vida, a mão, a língua, o dente

por discordar do que havia sobre elas.

 

quantos soberbos sobre as pontes disfarçaram

suas viagens de quem nasceu do ouro

e o ferro em apetite aguçaram.

 

tiveram, em pindorama, estes senhores

que carregar na consciência, se a tiveram,

o grito amargo das dores que causaram!

                                    (de quantas pontes vive ouro preto?)
 

 

1.

o ouro era praga e insolência.

quando pensava-se alguém em insolvência.

o diabo cabia-lhe no corpo

e seu corpo satânico era o dobro.

 

2.

na corte destes joões, marias, outros

cercados de ditames destes reis

4 eram 5. e os 5 eram 6.

tiradentes : seu corpo dissolvia!

 

                        (séc. 18, v. rica)

 

minha ouro preto é feroz

como o corpo que se mata.

de luzes não reveladas

de astros não-todo-ditos

de falas secas na noite.

cidade de inconfidências

e revezes

ouro preto, esfarelada

de chuvas e mãos varadas

por turbulências e pragas.

 

                        (per augusto)

 

ouro preto, minha

 

vou consultar

os remendos da pele da cidade.

vista sua alma, seu corpo,

já lhe sei das mazelas.

quando olhada,

seu fígado se mostra lavrado por tenazes

de homens insensíveis.

 

sequer sua moldura foi mantida.

cães, sem ofensa aos cães,

trataram-na como boi morto

a ser comido em voracidade.

pouco lhe sobrou dos caminhos.

 

cabe saber, se rôta,

sua pele não é descartável.

cabe saber, se quebrados,

seus órgãos mantêm vida

a ser recomposta.

 

e saber, ao final,

se as mãos escravas que a montaram

terão os olhos daqueles que a habitam. 

 

                        (per augusto)

 

afastem-se os cordéis, arranquem-se os cordões.

a vilania sempre surge em ouropéis

nos arremates turvos, equações

rudimentares da vida, distorções

de falas, pedras, pragas e bordéis.

 

o dente, simulacro de uma voz

carrega sobre si as multidões.

e se elas se atrevem entre nós

é que carregam, por nós, certos senões.

 

as vozes aspergidas, sussurradas,

cabem e andam em puros borbotões,

vicejam e estarrecem madrugadas

entre novelas, estorvos e canhões.

 

            (brasil, em ouro preto, corte)

 

            (per augusto)

 

 

 

o ato de nascer em cada ponto

carrega uns navios, umas flores,

todos os atos, breves, só completam

o ano do seu turnos já rasgados.

quantos de nós se sabem nestes rios,

se o fino odor do mundo se deslava

no corpo ao nascer do próprio ato?

 

quando nascer é tanto, que se diga

de só nascer se ato completado

por força de saber-se o incompleto.                      

 

                        (pontes)

 

 

há urubus que passam no meu corpo

de ruas de ouro preto.

cada uma se revela estado de um mapa

que ruma pelo caos e ruma

 

por olhos do dezoito. há muito,

quebro estas ruas, estas voltas soltas,

num ar aonde o ouro, por oculto,

se fez em revoltas resolutas.

 

                        (per augusto)

 

 

casa dos contos. ponte.

saída de cláudio pela vida

tangente, da escada, razão pura,

esquecida independência fraterna.

 

esconsos de affonsos, das vilas

que veneram o monarca da hora,

tangido pela força do vento

 

vazada em liberdade pela escada,

o corpo de cláudio é montanha! 

 

                        (per augusto)

 

 

marília. ponte, mulher.

mulher e ponte, ambas por gonzaga.

se disser que marília é aziaga

estou perdido em largos do horizonte.

 

vista de mim, marília, ensandecida,

estagnada  em musa proibida,

pelo rigor da corte, gonzaga, se sabe,

nasceu dela, ela lhe pôs a vida.

 

quando gonzaga, em frutos  d’além mar

outra marília viu, e dela fê-la prenha

se recordava, atroz, desta marília

que vila rica fez, e certo, venha

 

a fazê-la ancestral da lira louca

que gonzaga imprimiu, qual um pastor

de rebanhos, grosseiro relator

de todas as marílias que não viu.

 

gonzaga foi. marília não partiu!

 

                        (pontes: marília)

 

                        (per augusto)

 

 

(ao affonso ávila)

 

ponte azulada. contos.

pela casa espalham documentos

tal e qual fossem eles os ungüentos

salvadores de cláudio na escada.

 

como affonso dedilha sua lira

pelos esconsos flagrados de escravos

a multidão em repulsa solta uns bravos

rugidos que incendeiam aquela pira

 

molhada de luz. soubesse eu dos versos

de cláudio na manhã em que morreu

diria aos ditames do reinado

cláudio é eterno: o rei enlouqueceu!

 

condenaria o rei a varrer pedras

e brumas da vila de sempre. em seu reinado

as pragas o teriam mutilado!

 

                        (ponte: contos)

                        (per augusto)

 

 

cabeças. ponte aziaga.

santos dummont à direita é uma praga

que deixa multidões na incerteza.

 

se a bomba que relincha nas cabeças,

zona e curral, avião levados às pressas

vê a morte em terror, toda a beleza

 

do vão dos corpos queimados, uma sorte

de absurdos gêmeos, uns quilates

de metais raros, sondados pelos vates.

 

por modernas incursões  hiberna

do verso, este terrível acessório,

que faz da vida, morte. morte eterna!

 

            (ponte: cabeças)

 

            (per augusto)

 

 

e tudo volta à terra

como terra, sempre!

 

                        (fecho, per augusto)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

22.02.2007