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João Apolinário 

Poussin, The Judgment of Solomon

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Bernini_Apollo_and_Daphne_detail

 

Sandro Botticelli, Saint Augustine, Ognissanti's Church, Firenze

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904) - Phryne before the Areopagus

 

 

 

 

 

João Apolinário


 

da escrita


Da poesia
faço
uma raiz
que gera
a haste
oculta
da palavra
em flor

____

Abro as portas
desta melancolia
fechada no poema
por nascer
e sinto essa magia
suprema

de o escrever

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Winterhalter Franz Xavier, Alemanha, Florinda

 

 

 

 

João Apolinário


 

os zeros relativos


Reduzo
o espaço
ao limite
do zero

nasce
o mundo

___


Não se pede à alma
que anteceda o corpo
se o nada só existe
depois de ser
concreto

____

Só das coisas reais
tenho o sentido
da transcendência

Não sei do homem mais
do que a essência
de ter vivido

____


Uma única
pétala
gera
um universo
de formas

em órbita

____

Tomo o ar
que respiro
e dou vida
aos deuses

invento a sombra

____


Do mar
faço a planície
para as estrelas
fecundarem a noite

os dinossauros
cantam

____


E da vida
faço este delírio
de batráquios
em fuga

roendo horizontes

____

Só na morte
ponho o zero
à esquerda
do zero

outro zero
começa

____

Depois
do ouro
velho
queremos
o vermelho

 

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), João Batista

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Luiz Rufatto, foto de Simone Rufetto

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

João Apolinário


 

e os números seguintes


Proponho ao sol

queima nas piras
dos infinitos
convencionais
todas as coisas
que não sejam reais


3.1

Gasto
este momento
mágico
a olhar
para o fundo
das coisas
até ao limite
do espanto


3.2

Deslumbra-me
a minúcia
do enigma
da mais ínfima
natureza viva

 

 

 

Allan Banks, USA, Hanna

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Sonia Rodrigues

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Nurture of Bacchus

 

 

 

 

 

João Apolinário


 

ecologia lírica


A incógnita
acontece
na cor
que nasce
e reverdece
na flor

até ao limite
de olhá-la
como ela
é

____

O que é que cicia
o mistério (a essência)
desta atmosfera
de sol do meio dia
cuja transparência
parece que gera
o que a terra cria

____


Todos os mitos
imortais
cabem
subitamente
nos alicerces
originais
da semente

____


A pétala sabe
o destino oculto
de todas as coisas
onde o sol começa

____


Criar primeiro o ovo
para a raiz
do pássaro que voa
aquém da casca

Mudar depois as asas
da natureza
sem deixar de ser ave
e ser flor
gerar o movimento
assim eterno
da origem de ser

o que já é

____


O orvalho
respira
a solidão
da noite
na boca
da manhã

____


Um sopro
de luz
abre
no espaço
uma fenda
clara
para o dia
que nasce

 

 

 

Da Vinci, Madona Litta_detalhe.jpg

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Ana Peluso

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Empire of Flora

 

 

 

 

 

João Apolinário


 

os infinitos íntimos


Não me cinjas
a voz
não me limites

não me queiras
assim
antecipado

Eu não existo
onde me pensas

Eu estou aqui
agora
é tudo

____

Esta causa
Que me retoma
Em cada dia

Age na esperança
Em que respira
Esta necessidade
De estar vivo

____

No círculo
em que se fecha
o que em mim
respira
há um suicídio
de memórias
que não cabem
no que em mim
existe

____


Já fui longe de mais
matando-me nas pedras
que atiro contra mim
sentindo o que não sei


____

Há por aí alguém
que queira vir comigo
atrás do que seremos
quando tivermos sido?

____


O que resta de nós
Dorme a noite invisível
Que ainda nos sobra

____

O que me cansa
é o diabo da esperança
____


O que ficará de mim
nos restos digitais
do tempo
quando chegar
o fim
de que me ausento

 

 

 

Ticiano, Flora

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Deise Assumpção

 

 

 

17.11.2006