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José Lino Grünewald

Andreas Achenbach, Germany (1815 - 1910), A Fishing Boat
 

 

 

 

 

Albrecht Dürer, Mãos

 

 

 

 

 

 

 

 

Culpa

 

 

 

Velazquez, A forja de Vulcano

 

Tiziano, Mulher ao espelho

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Winterhalter Franz Xavier, Alemanha, Florinda

 

 

 

 

 

 

 

 

Um esboço de Leonardo da Vinci, página do editor

 

 

Dellano Rios

Diário do Nordeste, Fortaleza, Ceará, Brasil

19.7.2008

POESIA BRASILEIRA

O concretista passional

 

“Escreviver” reúne as jóias raras da poesia de José Lino Grünewald, crítico cultural ligado à vanguarda concreta

O tempo se ocupa de exigir que se esqueça de determinadas coisas, acontecimentos e pessoas, para que outras sejam lembradas. Este troca, no entanto, nem sempre é justa. Grosso modo, da Poesia Concreta ficou a produção de Décio Pignatari,José Lino Grünewald nos tempos da Poesia Concreta (Foto: Augusto Campos / Divulgação) Augusto e Haroldo de Campos - os “patriarcas”, como os chamaria Paulo Leminski -, a história da dissidência de Ferreira Gullar e as experiências posteriores de seguidores, caso do próprio Leminski. Dos satélites que orbitavam o trio, hoje pouco se fala. O movimento concretista cearense, liderado por José Alcides Pinto, por exemplo, é ignorado dentro do próprio Estado.

José Lino Grünewald (1931 - 2000) também enfrenta um injusto esquecimento. Há que possa protestar contra esta afirmação, comentando a relevância e o reconhecimento do trabalho de Grünewald como crítico de cinema e cultural. Do poeta concreto José Lino Grünewald, para deixar mais claro, muito pouco se fala. Para não dizer das vezes que foi esquecido em antologias que pretendem dar conta deste ou daquele recorte da produção poética. Apesar disto, sua obra permanece como uma das mais expressivas e criativas do Poesia Concreta paulista.

Contrafluxo desta corrente é o livro “Escreviver”. Me refiro à recém-lançada edição que não só inclui o livro homônimo, de 1983, como a estréia do poeta, “Um e dois” (1958), e alguns poemas inéditos. Editado em conjunto pela Fundação Biblioteca Nacional (MinC) e a Perspectiva, o livro integra a coleção Signos desta editora, dirigida pelo poeta Augusto de Campos, colega dos tempos da Poesia Concreta e amigo pessoal de “Zé Lino”. A organização do volume ficou por conta do também poeta José Guilherme Correa. Além dos poemas de Grünewald, Correa incluiu uma pequena fortuna crítica, com um texto de sua própria autoria, um perfil memorialístico de Campos, outro, de Décio Pignatari e o posfácio de Grünewald para o livro de 1983.

Radicalismo e candura

A estrutura binária da estréia reaparece em “Escreviver”. Pelo menos, na parte estabelecida pelo próprio José Lino Grünewald. Em “Um”, se encontra a poesia da fase “pré-concreta” de Grünewald. Ao invés do radicalismo verbi-voco-visual, versos líricos, eróticos, de protesto.

Mas que o leitor não se engane, a poesia de Grünewald já nesta época apresentava elementos raros no meio literário brasileiro. Em poemas como “Espere” e “Evocação em Klee”, o autor importa e adapta ao português invenções poéticas do francês Stéphane Mallarmé (1842 - 1898) e do norte-americano Ezra Pound (1985 -1972). Não foi a toa que o carioca Grünewald se aproximou dos paulistas da revista Noigandres. Mallarmé e Pound eram são referências confessas dos irmãos Campos e de Pignatari, eles mesmos grandes divulgadores e tradutores destes dois modernistas.

Se ainda não tinha entrado de cabeça na invenção poética do trio paulista, Zelino - como estes o chamavam - já caminhava em direção aquelas mesmas descobertas. Em 1956, anos de seus primeiros poemas, ele ainda não ousava na utilização de tipos e ícones não verbais, mas já avançava na utilização não tradicional da página. “Amoristes” é um poema desta leva que se fragmenta na folha branca. A frase explode e as palavras se espalham, perdendo um ordem direta para ganhar a possibilidade de ser reordenada e ganhar novos sentidos. Com isto, o poeta mostra que ainda estava mais próximo de um Mallarmé que de um Pound, sendo clara a influência de “Um lance de dados”, obra-prima do francês cuja tradução brasileira traz a assinatura dos parceiros concretistas de Zelino.

“Dois” traz o Grünewald poeta concreto, que se mantém fiel a proposta original por quatro décadas. “Sob certos aspectos, Zelino era mais ‘ortodoxo’ do que nós”, revela Augusto de Campos, e, “Zelino vai e vem”, texto escrito por ocasião da morte do amigo.

Aqui, Grünewald trabalha o espacial, a geometria do poema e suas possibilidades sonoras. Ainda assim, o poeta traz elementos da fase anterior. Notadamente, o gosto pelas oposições. O encadeamento de frase de grafia ou sonoridade semelhante, produzindo novas imagens poéticas a partir de seu inusitado contato.

Há ainda que se destacar a carga política de poemas como “Durassolado”, em que fala do “capitalienado gadumano”, e “Carne leite pão”, poema anti-publicitário (tal qual o célebre “Cloaca”, de Pignatari) que dá uma bordoada nos slogans e no apelo ao consumismo.

"Escreviver"
José Lino Crünewald
R$ 56
270 páginas
2008
Perspectiva
 



DELLANO RIOS
Repórter

 

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Alphonsus Guimaraens Filho

 

 

 

 

 

 

 

10.10.2007