Morre o poeta José Lino Grünewald

FOLHA DE SÃO PAULO,
27.07.2000
 

O poeta, tradutor e ensaísta José Lino Grünewald, 69, morreu ontem no Rio em decorrência de uma embolia pulmonar. Seu corpo foi enterrado ontem à tarde no cemitério São João Batista, em Botafogo (zona sul do Rio).
"Grünewald era um apaixonado pela poesia concreta, foi o nosso homem no Rio", disse à Folha o poeta Décio Pignatari.
"Depois da morte de Mário Faustino, nos anos 60, esta é a maior perda literária de minha geração", afirmou outro representante do concretismo, o poeta Augusto de Campos.
O ensaísta estava internado havia dois meses na clínica São Marcelo, no Leblon (zona sul). Sua internação se deveu a uma insuficiência respiratória, que evoluiu depois para uma pneumonia com infecção generalizada, até a ocorrência da embolia pulmonar.
No cemitério, o cortejo foi acompanhado pela mulher, Ecila, pelo filho mais novo, Bernardo, 36, além de parentes e amigos. O filho mais velho do poeta, Rodrigo, não mora no Rio e não pôde comparecer. Grünewald tinha quatro netas.
Bernardo disse que seu pai deixou alguns textos escritos e que a família ainda vai pensar em eventual publicação. Disse também que Grünewald, incentivado pela família, pensava em escrever um romance.
O jornalista Ruy Castro disse que Grünewald foi uma de suas grandes influências profissionais. ""Quando eu o conheci, ele tinha 34 anos, e eu tinha 16. Fui à casa dele e nunca tinha visto tantos livros juntos", afirmou.
Um ano depois, Castro começou a trabalhar no jornal carioca ""Correio da Manhã", onde Grünewald era editorialista. ""Ele foi um intelectual de grande porte. Um grande leitor de filosofia, um apaixonado por cinema e música. Não foi um poeta do verso comum, mas da poesia visual", disse Castro.
Grünewald surgiu como poeta no primeiro núcleo dos concretistas, no final dos anos 50. Era apaixonado pelas obras de Mallarmé e Ezra Pound. A tradução dos ""Cantos" de Pound, publicada pela editora Nova Fronteira, valeu-lhe um Prêmio Jabuti, em 1987.
Pela mesma editora publicou ""Escreviver", ""Gardel, Lufardo e Tango", ""Pedras de Toque da Poesia Brasileira", além de ter organizado várias coletâneas.
O poeta nasceu no Rio de Janeiro e formou-se em direito. Foi procurador federal da extinta Sunamam. Suas paixões, porém, eram o jornalismo e a poesia.
"Grünewald era um carioca requintado, foi dos primeiros críticos a valorizar a obra dos cineastas Godard e Alain Resnais", afirmou Pignatari.


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