Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

 

 

 

 

 

José Inácio Vieira de Melo



Paisagem centenária

 

 

 

São vários quadros que se somam para compor esta paisagem centenária. Luiz Augusto Feitoza Ferraz soube, como ninguém, redimensionar o olhar para trazer a lume os encantos do seu torrão, desde a sua mais remota infância – quando tudo ainda é novo e mágico – até as perquirições do homem da metrópole em que se tornou.

Assim, Luiz Augusto apresenta sensações de saudades de um tempo que já não mais existe, mas que é acionado nos recônditos da memória, para vir compor o presente e delinear o futuro, como se pode sentir nos eneassílabos do poema “Acalanto”: “no galope do vento manter/ os mistérios de um doce ninar,/ a ouvir um chocalho de paz/ sob nuvens de emas e ovelhas,/ envolto em paredes rendadas,/ incrustadas de risos e estradas”.

Das flores de fogo dos ferros dos patriarcas de Floresta do Navio é que nasce a caligrafia da sua escritura poética. Sem contar que todo esse imaginário está emoldurado pelas lentes sensíveis e argutas do fotógrafo Diogo Carvalho Leal, que mostra detalhes da arquitetura de Floresta do Navio (“hipnose de um instante/ tão pequeno a eternizar-se”), numa verdadeira colcha de retalhos da paisagem geral, como se estivesse desnudando a alma de seus habitantes, o que proporciona a revelação de sua sutileza e bom gosto.
Enfim, Bonito pra chover é, também, bonito de se ver. Faz gosto dedicar a atenção para esta suíte poética, onde duas artes – Poesia e Fotografia – se combinam, numa espécie de amálgama, e através de suas linguagens específicas celebram a história de um povo e a beleza do seu lugar.

Parabéns aos florestanos e à Floresta do Navio. Sua saga secular está devidamente registrada através dos versos de Luiz Augusto Feitoza Ferraz e das fotografias de Diogo Carvalho Leal: uma verdadeira chuva de beleza na paisagem! Agora, é saborear a sombra e o sabor agridoce dos frutos dos tamarindos florestanos, e esperar “até vir novo dezembro/ e outra história contar/ no sussurro dos três pífanos/ espalhados por zabumbas”.
 

 

 

 

 

20.12.2007