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Três jovens poetas goianos conversam com Soares Feitosa

Dos  Leitores

Luiz Paulo Santana

Sent: Thursday, March 24, 2005 1:59 AM
Subject: "Três jovens poetas goianos & Soares Feitosa"


Querido poeta Soares Feitosa; 

Gostei muito da entrevista. Foi uma bela varredura. Conheço-o, agora, um pouco mais, se isto é possível, e àquele tom firme, convicto, grandiloquente, rico em imagens poéticas e proféticas, não somente respostas à entrevista, mas também recriações estilísticas de seu mundo literário, linguagem adequada à interlocução com seus pares, eu dizia, a tudo isto adicione-se um otimismo, um caráter "auroral" a toda e qualquer prova. 

Evidente — isso mais evidente agora — que esse caráter já se refletia em "Salomão", em "Roma", em "Psi, a penúltima", em "A outra margem", para citar alguns dos poemas em que os algozes, as tragédias, as visões de futuro, são reumanizados, ou como advertência a cada um leitor pressuroso e punitivo, são relativizados e colocados na perspectiva da caminhada humana rumo ao século C de Ésquilo, quando então... 

Ironia fina, finíssima, na resposta à indagação de nº. 14, de Carlos Willian, "E Paulo Coelho é literatura?", a par da justificativa muito bem urdida. 

Quanto ao poema de Mayrant, no âmbito da curiosa teoria dos poetas aurorais & crepusculares, talvez você tenha sido um tanto rígido. Faço uma concessão, que também a mim incomoda essa história de conspurcar a vida aqui e ali: não me agradou o último verso, "enquanto você morre." Pareceu-me pura e simplesmente buscar um certo impacto, assustar o leitor, mas, qual, também o entregador de jornais morre a cada instante, e cada um de nós desde que nasce. Exploração do tabu.  

Mas a rigidez a que me refiro é da abordagem. Agrada-me o paralelismo, a simultaneidade construída pelo poema: num mesmo instante, enquanto durmo, algo acontece, o entregador de jornais sai de madrugada a percorrer as ruas, entregar os jornais e isso acontece sem que eu tenha consciência. Lendo o poema posso viver esse paralelismo, essa simultaneidade quase metafísica. Não sei se me faço entender, mas já vivi ou tentei viver isso em poemas. Imaginar a praça em frente ao cinema lá em Caxambu, MG, onde certamente, no mesmo instante em que digito este texto as pessoas passeiam despreocupadamente. Daí estender esse pensamento para as casas ao rés das ruas, as cidades alhures, certa estrada onde caminhei, e lá estão — como se eu não soubesse.  

Por outro lado, não me preocupei com o fato do entregador de jornais estar acordado e trabalhando enquanto eu durmo, ou morro, que morrer, como você escreveu, também é bom, está no contexto. Veja só, à medida que a gente começa a mexer a coisa se complica: Enquanto você dorme, enquanto você morre, enquanto um outro nasce, e uma outra sai do hospital, etc., etc., introduzir isso faz com que o poema perca a força. Enquanto ele se restringe ao leitor, cria um campo de morbidez, um sentimento de culpa, o poema restringe o mundo àquele acontecimento: enquanto você dorme, ou pior ainda, enquanto você morre, o coitado do entregador de jornais... Bem, começo a achar que nem tão inspirado assim é o poema. Tomara que me engane, pois poetas também se enganam. Outra coisa a complicar: de moto ou não, a tensão existencial existe. 

Mas o poeta Soares Feitosa e sua têmpera "auroral" viu na moto uma facilidade a mais. E não foi ele, Soares, quem inventou a moto, foi o próprio Mayrant quem o fez: "É o primeiro e de moto percorre toda cidade." (Grifo meu). Pois, que bom, podemos dormir (ou morrer) em paz.   

Falei demais sobre um pequeno detalhe. Por acaso terá havido ali, (vruuuummm), discreta, finíssima ironia? 

Fraterno abraço, 

LPSantana

BH/MG

 

 

 

 

José Inácio Vieira de Melo

Sent: Thursday, March 24, 2005 3:20 AM
Subject: Soares Feitosa entrevistado pela tríade goiana


Cumpade Chico, tu botou quente! Rapaz, nada como o sujeito se mostrar com sinceridade. Uma postura assim traz clareza, e clareza é o que mais precisamos para ter uma convivência tranqüila entre os que aparecem em nossas vidas.

Olhe só, Siarah Feitosa, aquele lá que assumia o lugar de julgar e tirou a vida de um homem, eu é que não quero nunca chegar a situação que lá ele chegou – o fim dum bicho desse é pior do que o de novilho gordo, pois como sabemos (tu açougueiro, eu vaqueiro) o novilho leva só uma do olho do machado e já cai de pé junto, e adispois uma cutelada pra desatar a sangria e aí já era; esse outro bicho – o juiz – deve tá levando gume de machado no juízo o tempo inteiro. A consciência não alisa não.

Sabe, Chico, os ares daqui da cidade da Bahia são de munta, munta mermo, poesia: projeto pra tudo que é lado, revista das boas, um jorná que é literalmente uma Sopa e que é servida pra todo o povo das letras, sobretudo os jovens, aqueles que estão ensaiando os primeiros passos. Uma entrevista como essa tua é muito importante para dá a dimensão do fazer poético e do universo que permeia toda essa tessitura. Gosto muito da leitura que fazes dos poetas – Auroral e Crepuscular –, mas entendo que todo poeta é em alguns momentos Auroral e noutros Crepuscular; claro que uns estão mais propensos aos alvoreceres, assim com outros aos entardeceres rubros, no fim das contas o que importa é aquela poesia que nos arrebata, seja pelo estranhamento ou seja pelo encantamento.

O que há no mundo é panela. O próprio mundo é uma panela que faz parte do cozido do Grande Caldeirão cósmico. Então, meus amigos do Ceará, de Goiás e dos brasis, todos temos, ou queremos ter, a nossa turma, a nossa patota, para discutir e compartilhar as nossas afinidades, para sermos nós mesmos  e nos mostrarmos de corpo inteiro e deixarmos o fogo do espírito revelar nossa luz. O que não pode prevalecer, em hipótese alguma – é a intolerância, há espaço para todos, inclusive para o elefante e os concretistas.

Feitosa, nessa entrevista tu mostrastes que a tua cabeça chata não é só pra carregar lata d’água nem balaio de palma, mostrastes que tens tutano. Por falar em tutano, não deixe de comprar um osso corredor pra fazer um pirão dos bons e celebrar a tua maturidade poética.

Receba o abraço deste poeta alagoano da Bahia

José Inácio Vieira de Melo

 

 

 

 

Lau Siqueira

Sent: Thursday, March 24, 2005 10:24 AM
Subject: RE: Poeta Lau!

 

Meu amigo mestre dos sete mares...

sempre polêmico, contundente, inteligente, erudito... poeta da minha admiração, não sei se sou transgressor, mas estou numa antologiaLau Siqueira que aponta para isso. Nem me preocupo com isso e acho que vc tem razão quando coloca todas essas teorias num único e inconfundível baiaio de gatos. O que importa é a Poesia, não é mesmo? Trangressor ou não, se o cabra for um mau poeta, então não tem santo que salve salve aleluia.

Acho que já me referi ao fato de vc ter começado a escrever aos 50. Te comparo a Rimbaud, que construiu uma obra monumental na juventude e parou de escrever, ou a Castro Alves, que morreu jovem e deixou uma herança fantástica... na verdade, o que ocorre é que a dita cuja musa Poesia é um tanto rebelde, usa os nossos cabelos, nossos olhos, nossas mentes e corações, sem se importar quanto aos sistemas cronológicos. Quanto ao pensar e/ou sentir em relação ao poema, quando leio vc, lembro o que já escreveram sobre Antero de Quental: vc sente o que pensa e pensa o que sente.

Um grande abraço e feliz Páscoa. Desculpe o atraso, ando trabalhando umas 26 horas por dia e quando chego em casa, é tomar uma taça de  vinho e cair na cama...

lau

PS. a rapaziada de Goiás tá ca gota serena, como se diz na Paraíba.

 

 

 

 

 

Astrid Cabral

To: Soares
Sent: Friday, April 01, 2005 10:29 PM


 

Meu querido amigo Soares Feitosa,

usufruo do privilégio de receber de Goiânia o suplemento cultural do Opção. Assim pude reler, com o devido vagar e muito prazer, sua brilhante entrevista. Ao receber seu e-mail, li diretamente na telinhaAstrid Cabral porque minha impressora está de greve. Desde que operei de catarata, sinto um certo desconforto ao ler no computador e textos maiores costumo imprimir.

Eu também sou pela valorização do palavrão através do uso em oportunidades raras. Minha educação de raiz nordestina sempre interditou a boca suja, o desrespeito. E mantive esse comportamento ao educar meus cinco rebentos. Lembro-me que há muitas décadas tomei um pito de meu filho Giles, o que faleceu aos 22 anos. Num impulso de raiva não me contive e soltei um M---- e ele tomando-me a mão para me acalmar disse: Mãe, não estou te conhecendo, não suje essa boca tão bonita. Depois disso quem esqueceria a lição?

O abraço afetuoso de sua admiradora Astrid

 

2ª Parte

 

Sent: Friday, April 08, 2005 6:37 AM
Subject: Entrevista

 

Meu querido amigo Feitosa,

 

 acabei de ler a 2ª parte da entrevista. Ler sua prosa é um real prazer. As idéias cintilam, jorram em cachoeira, uma oralidade saborosa e brasileiríssima. Shakespeare fica pertinho da gente rebatizado por você. 

 Depois do que você disse sobre o Paulo Coelho fiquei supercuriosa. Vou fazer mais uma tentativa... Pode haver coisa pior que o cultivo da tristeza? Xô, mazoquismo! Bem que eu queria ser auroral em vez de crepuscular, creia.

 Coincidência, quando menina, nas aulas de História Sagrada no colégio das dorotéias, eu sempre achava extraordinária essa afirmação  da luz ter sido criada antes do sol. 

 O abraço carinhoso da amiga e fã Astrid

 

 

 

 

 

 

Abílio Terra Jr

Sent: Saturday, April 02, 2005 11:37 PM
Subject: Três jovens poetas goianos conversam com Soares Feitosa.
 

Prezado Poeta Soares Feitosa,

Esta sua entrevista se constitui em um périplo cultural de dar inveja a muitos, principalmente àquela parelha de críticos locais que se dedicam a desancá-lo, da mesma forma que outros tantos desancaram “o Menino”, que é a jovial forma com que você se refere ao nosso augusto Castro Alves, e como deixaram ao relento e ao desalento o talentoso Cruz e Souza, até levá-lo à morte. Mas os incansáveis “op-citeiros” não perdoam.

E os “poetas aurorais” aí estão, a deixar a sua mensagem que desponta até mesmo em um poema, com uma aparente forma “crepuscular”.

E os palavrões, uso injustificável, mas defendido pelos que recorrem ao recurso fácil e procuram atender ao gosto do público.
Com uma honestidade intelectual a toda prova, você, Poeta Soares, não titubeia em triturar o conceito de “gerações poéticas”, e nos diz, sabiamente, que “o poeta, se Poeta for, não tem geração; posto que
Abílio Terra Junior gerado de dentro da terra, desde os tempos, gerando o seu próprio tempo”... E faz o mesmo, usando uma sutil ironia, referindo-se ao Leminski, ao Alvim e ao Haroldo Campos. E aqueles seus volteios em relação ao jornaleiro, do poema “Cedo”, de Mayrant Gallo, são magistrais!

E termino concordando inteiramente com você, quando diz: “Escrever um poema para mim é simplesmente impossível, se ele, poema, não vier chegando, assim mesmo, no modo presente.”

Poeta Soares, continue nos brindando com estas brilhantes aulas de poesia, espírito crítico e humanismo!

Receba o meu caloroso abraço,

Abilio Terra Junior