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Teoria do Cordel

 

Alessandro Allori, 1535-1607, Vênus e Cupido
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Albrecht Dürer, Mãos

 

Uma notícia dos poetas: 

FRANCISCO LINHARES:

Conheci Linhares por apresentação do meu compadre, dentista e advogado, José Wilson Sales, mais ou menos à época da publicação da Antologia Ilustrada dos Cantadores. Estou com o volume em mãos, uma 2ª Edição, Universidade Federal do Ceará, 1982. Acho que havia eu adquirido a primeira edição, de 1976, também pela UFC. Contudo, sou um fino "perdedor" de livros, do que muito me orgulho, aDelaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes espalhá-los com os amigos. (Clique na figura ao lado para conhecer a Biblioteca Cururu, um manifesto anti-estantes). Meu interesse pela literatura era, então, quase nenhum. Mesmo assim conversamos sobre Zé-Limeira (Orlando Tejo), e amenidades gerais. Um velhote muito simpático e distinto, assim me pareceu o Francisco Linhares. Vou digitar aqui no Jornal de Poesia o que dele eu for encontrando. Quem sabe um contacto com a família, e surjam mais coisas. Os leitores bem que podem ajudar: fotos, ensaios, outros escritos. Ele me disse que não era um cantador, um violeiro; pesquisador somente. E que pesquisador!, digo-lhes eu.

 

OTACÍLIO BATISTA

Não conheci pessoalmente. O cabra é dos bons, aliás, ótimo. A batistada inteira, são vários irmãos, todos poetas da melhor estirpe. Clique aqui para a página dele

 

A ANTOLOGIA propriamente dita:

É o livro que eu gostaria de mandar reeditar para distribuir gratuito com os amigos, bibliotecas, faculdades de letras e professoras de literatura da lusofonia. Obra definitiva, quase 500 páginas, abordando o campo teórico do Cordel e trazendo as mais belas e presepeiras cantorias deste sertão Brasil. O pior é nos darmos conta da importância teórica do Cordel, de par com o mais absoluto desconhecimento da maior parte dos versejadores do asfalto. Como não posso publicar a obra inteira, em respeito aos direitos autorais, colocarei aqui apenas a parte teórica:

  • Sextilha

  • Sete linhas ou sete pés 

  • Moirões 

  • Moirão de sete pés

  • Moirão trocado 

  • Moirão que você cai 

  • Moirão voltado 

  • Décima 

  • Martelo agalopado 

  • Galope a beira-mar 

  • Parcela 

  • Quadrões 

  • Quadrão trocado 

  • Gabinete 

  • Toada alagoana 

  • Meia quadra 

  • Dez pés de queixo caído 

  • Gemedeira 

  • Quadra

  • Quadra simples

  • Quadra oposta

  • Quadra cruzada

  • Quadra persa

  • Variante da quadra persa 

  • Ligeira 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Culpa

 

 

 

Velazquez, A forja de Vulcano

 

Tiziano, Mulher ao espelho

 

 

Winterhalter Franz Xavier, Alemanha, Florinda

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Um esboço de Leonardo da Vinci

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Lau Siqueira

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Gêneros da Poesia Popular

[Teoria do Cordel]

in

Antologia Ilustrada dos

 Cantadores

de

Francisco Linhares

&

Otacílio Batista

2ª Ed. UFC, págs. 23/39

 


 

Entre as criações dos poetas clássicos, que vieram a ser usadas pelos nossos cantadores, estão a Quadra, a Décima, a Sextilha em decassílabo com rimas cruzadas, e sua variante. 

     A Sextilha com rimas cruzadas originou-se da Oitava de Ariosto, estilo que Sá de Miranda (irmão de Mem de Sá), introduziu em Portugal, no século XVI, e que possibilitou a Camões realizar sua imortal obra "Os Lusíadas". 

     Contando-se com os gêneros mais usados, com os de pouca utilização, ou com os que se encontram completamente abandonados para o improviso, a "Poesia Popular" possui trinta e seis modalidades, número verdadeiramente espantoso, que vem, através dos tempos, demonstrar o grande poder criativo dos nossos bardos 
matutos. 

     Até à época da famosa peleja de Francisco Romano Caluete com Inácio da Catingueira, o estilo preferido pelos cantadores era a Quadra. Após isso, apareceu a Sextilha, pertencente à família dos setessílabos, modalidade essa usada, não só nos grandes debates, mas, também, na abertura de qualquer programa de viola. "É a Deusa inspiradora dos poetas repentistas". Faremos, a seguir, um estudo dos principais gêneros usados pelos nossos violeiros. 


1. - Sextilha: 

    

Talvez, por ser mais fácil, seja o gênero preferido pelos nossos repentistas, principalmente no início das apresentações. A Sextilha é uma estrofe com rimas deslocadas, constituída de seis linhas, seis pés ou de seis versos de sete sílabas, nomes que têm a mesma significação. Na Sextilha, rimam as linhas pares entre si, conservando as demais em versos brancos. Leandro Gomes de Barros, grande escritor da Literatura de Cordel, filho de Pombal, Estado da Paraíba, escreveu: 
 

             Meus versos inda são do tempo 
             Que as coisas eram de graça: 
             Pano medido por vara, 
             Terra medida por braça, 
             E um cabelo da barba 
             Era uma letra na praça. 

     Outro exemplo que daremos é o do ceguinho anônimo, que, após a morte de sua desventurada mãe e guia, chorou, com os olhos d'alma, seu infortúnio: 
 

             Já tive muito prazer, 
             Hoje só tenho agonia! 
             Não sinto porque sou cego, 
             Eu sinto é falta do guia! 
             Quando mamãe era viva, 
             Eu era um cego que via! 

     Ou, ainda, a de Francisco Pequeno, repentista paraibano, nesta inteligente análise: 
 

             Uma morrinha no gado 
             É derrota em fazendeiro, 
             E um cavalo ruim 
             derrota dum vaqueiro! 
             A derrota do país 
             É dever no estrangeiro! 


2. - Sete Linhas ou Sete Pés 

     No início do século atual, o Cantador alagoano Manoel Leopoldino de Mendonça Serrador fez uma adaptação à Sextilha, criando o estilo de sete versos, também chamado de sete linhas ou de sete pés, rimando os versos pares até o quarto, como na Sextilha; o quinto rima com o sexto, e o sétimo com o segundo e o quarto. Exemplifiquemos com o próprio criador do gênero: 
 

             Amigo José Gonçalves, 
             Amanhã cedinho, vá 
             A Coatis, onde reside 
             Compadre João Pirauá; 
             Diga a ele dessa vez, 
             Que amanhã das seis a seis, 
             Deus querendo, eu chego lá! 

     José Duda do Zumbi (Manoel Galdino da Silva Duda), no ocaso da vida, com a experiência da idade, disse para José Miguel, jovem companheiro, com quem duelava: 
 

             Fui moço, hoje estou velho! 
             Pois o tempo tudo muda! 
             Já fui um dos cantadores 
             Chamado Deus nos acuda ... 
             Este que estão vendo aqui 
             Foi Zé Duda do Zumbi! 
             Hoje Zumbi do Zé Duda! 


3. - Moirões


     Dentro da contextura da Poesia Popular, o Moirão tem sido o gênero a sofrer grandes variações ao longo do tempo. "É uma modalidade, onde os cantadores se revezam dentro da mesma estrofe. No século passado, o Moirão em quintilha substituiu o Moirão de seis versos, ambos em desuso. No Moirão de seis linhas, um Cantador fazia dois versos, o outro intercalava com dois, e o iniciante fechava a estrofe. Vejamos um Moirão de seis linhas, cantado por Romano e Inácio: 
 

             I       Seu Romano, estão dizendo 
                     Que nós não cantamos bem! 
             R      Pra cantar igual a nós, 
                     Aqui, não vejo ninguém! 
             I       E o diabo que disse isto 
                     É o pior que aqui tem! 

     No Moirão de cinco versos, que veio depois do de seis, havia um revezamento dos cantadores, nas duas linhas iniciais da estrofe, cabendo ao primeiro os três últimos versos para o fechamento da estância. Do encontro entre os paraibanos Romano Elias da Paz e Francisco Pequeno, colheu-se: 
 

              F.P.    No Mourão não deixo nó! 
              R.E.    O meu eu lavro de enxó! 
              F.P.    Colega, estou pesaroso ... 
                        No recinto primoroso, 
                        Sei que fico a cantar só! 
 


4. Moirão de sete pés


     O Moirão de sete pés é o mais usado atualmente. Formado por uma estrofe de sete linhas, cabendo, ao iniciante, a formação de cinco versos, isto é, os dois primeiros e os três finais; enquanto a cargo do segundo cantador ficam os versos de ordem três e quatro. Os pernambucanos Agostinho Lopes dos Santos e José 
Bernardino de Oliveira assim iniciam um duelo: 
 

              A.L.    Não vã você achar ruim 
                         Este Mourão a doer! 
              J.B.     Eu acredito, Agostinho 
                         Naquilo que posso ver! 
              A.L.    Companheiro, não se gabe, 
                         Que a pessoa que não sabe, 
                         Agrava a Deus sem querer! 

     Esse gênero pode ser cantado por três violeiros. Pedra Azul inicia: 
 

                          Vou dar começo à questão 
                          Pra ver quem ganha no fim! 

     Canhotinho, referindo-se a Severino Pinto, que tomava parte da porfia, foi mais agressivo: 
 

                          Eu morro e não tenho medo 
                          Dum Pinto pelado assim! 

     Pinto, que não perdoa, finalizou violento: 
 

                          Sou pelado, sem canhão, 
                          Por causa de um beliscão 
                          Que tua mãe deu em mim! 



5 -  Moirão trocado: 


     A diferença deste gênero para o anterior está exclusivamente no aparecimento de palavras que se alternam nas quatro primeiras linhas da estância. Lourival Batista e Severino Pinto dão uma demonstração deste estilo: 
 

                L.      Eu, da graça, faço o riso, 
                         E, do riso, faço a graça! 
                P.      E da massa, faço o pão, 
                         E do pão, eu faço a massa! 
                L.      Você desgraçou a peça: 
                         Que u'a misturada dessa 
                         Não há padeiro que faça! 


6 - Moirão que você cai: 


     É um gênero muito apreciado, com versos de sete sílabas, como nos demais, onde as estrofes aparecem com doze linhas, havendo quatro versos comuns a elas: terceiro, sexto, nono e décimo segundo. O iniciante é responsável pela formação dos versos: primeiro, segundo, terceiro, sétimo, oitavo, décimo, décimo primeiro e 
décimo segundo. Ficando os demais a cargo do parceiro intercalante. Apreciemos, com Lourival e Otacílio, um Moirão que você cai: 
 

                L.      Meu irmão, a hora é esta, 
                          De travar-se um desafio! 
                          Lá vai uma, duas e três ... 
                O.      Mas, em luta eu não confio 
                          Porque desanima a festa! 
                          Lá vai quatro, cinco e seis ... 
                L.      Meus versos ninguém detesta 
                          Porque desafio distrai! 
                O.      Cuidado que você cai... 
                 L.      Caio tomando sorvete, 
                          Você levando cacete, 
                          Se for por dez pés lá vai! 
 


7 - Moirão voltado: 

    Gênero relativamente novo, com estrofe de treze versos de sete sílabas, em que os preliantes vão se alternando até a oitava linha, para, em seguida, unirem suas vozes, como em coro, neste estribilho: 
 

                 Isso é que é Mourão voltado, 
                 Isso é que é voltar Mourão! 

     Em seguida, repetem a oitava linha com o estribilho acima. Para melhor compreensão, imaginemos os cantadores A e B: 
 

                 A.      Tudo, neste mundo, volta. 
                 B.      Com você, combino eu! 
                 A.      Volta o rico e o plebeu; 
                 B.      Volta quem prende e quem solta ... 
                 A.      Volta a paz e a revolta; 
                 B.      Volta o sim e volta o não! 
                 A.      Volta até Napoleão 
                 B.      Que há tempo está sepultado... 
                 A/B    Isso é que é Mourão voltado, 
                            Isso  é que é voltar Mourão! 
                            Que há tempo está sepultado... 
                            Isso é que é Mourão voltado, 
                            Isso é que é voltar Mourão! 


8 - Décima: 


     Embora de origem clássica, é a Décima um estilo muito apreciado, desde os primórdios da Poesia Popular, principalmente por ser o gênero escolhido para os motes, onde os cantadores fecham cada estrofe com os versos da sentença dada, passando a estância a receber a denominação de glosa. Como o próprio nome diz, Décima é uma estrofe ou estância de dez versos de sete sílabas, assim distribuídos: o primeiro, rima com o quarto e o quinto; o segundo, com o terceiro; o sexto, com o sétimo e o décimo, e o oitavo, com o nono. De Antônio Ugolino Nunes da  Costa (Ugolino do Sabugi), primeiro grande Cantador brasileiro, extraímos duas estrofes, em Décima, de seu famoso poema "As obras da Natureza": 
 

                As obras da Natureza 
                São de tanta perfeição, 
                Que a nossa imaginação 
                Não pinta tanta grandeza! 
                Para imitar a beleza 
                Das nuvens com suas cores, 
                Se desmanchando em louvores 
                De um manto adamascado, 
                O artista, com cuidado, 
                Da arte, aplica os primores. 
 

                Brilham, nos prados, verdumes 
                De um tapete aveludado; 
                Brilha o rochedo escarlado, 
                Das penhas seus altos cumes; 
                Os montes formam tais gumes, 
                Que a gente, os observando, 
                Vê como que se alongando, 
                Sumir-se na imensidade... 
                Nossa visibilidade 
                os perde se está olhando. 

     O mote é uma sentença ou pensamento, formado de um ou dois versos, com que se finalizam as estrofes. Os primeiros motes eram dados em Quadra, ficando o poeta obrigado a improvisar quatro Décimas, contendo cada uma, pela ordem, um verso ou linha da Quadra. Com a evolução, o mote passou de quatro versos para dois, e, mais raramente, usa-se o de um verso. O mote de duas linhas pode-se apresentar de duas maneiras. Na primeira, já em desuso, a quarta linha da estrofe é formada pelo primeiro verso do mote e a décima pelo segundo. Exemplifiquemos com o mote dado pelo Dr. Raimundo Asfora, descendente de árabe, ao companheiro Otacílio Batista: 
 

                   Tenho n'alma as tatuagens 
                   Da minha origem cigana. 

     Apreciemos a técnica do valoroso artista, na formação das estrofes: 
 

                   Fui criado entre as miragens, 
                   Na solidão do deserto, 
                   De um povo que andava incerto, 
                   Tenho n'alma as tatuagens: 
                   São abstratas imagens 
                   De Alá, que não se profana; 
                   Dos chefes de caravana, 
                   Me orgulho em ser porta-voz: 
                   Os primitivos heróis 
                   Da minha origem cigana! 
 

                   Os antigos personagens, 
                   Defensores dos escravos; 
                   De uma legião de bravos, 
                   Tenho n'alma as tatuagens! 
                   Fugindo às velhas linhagens 
                   Da imposição duridana, 
                   Por vontade soberana, 
                   Ismael foi peregrino, 
                   O primeiro beduíno 
                   Da minha origem cigana! 

     Na segunda, os versos do mote ficam conjugados, isto é, formam as linhas nove e dez da estrofe. Vejamos a Décima com este final comovente: 
 

                   Ao pé do monte Calvário, 
                   Jesus chorava e gemia! 
 

                   Junto de dois malfeitores, 
                   Via-se um pobre moribundo: 
                   Era o Salvador do mundo, 
                   Senhor de todos senhores! 
                   Refúgio dos pecadores, 
                   De quem sofre nostalgia! 
                   Se quisesse, sairia 
                   Daquele estado precário: 
                   Ao pé do monte Calvário, 
                   Jesus chorava e gemia! 

     O mote de uma linha é raramente usado. Seu único verso fecha a estrofe.  



9 - Martelo agalopado: 

    O Martelo atual, criação do genial violeiro paraibano Silvino Pirauá Lima, é uma estrofe de dez versos, em decassílabos, obedecendo à mesma ordem de rima dos versos da Décima. Todavia, sua denominação não vem do fato de ser empregado como meio de os contadores se martelarem durante suas pugnas. Sua significação está ligada ao nome do diplomata francês Jaime de Martelo, nascido na segunda metade do século XVII, que foi professor de literatura na Universidade de Bolonha, portanto, o criador do primeiro estilo. Jaime de Martelo suprimiu duas linhas finais da Oitava de Ariosto, ou Oitava camoniana, formando o que se denominou de Martelo cruzado, isto é, no Martelo antigo a primeira linha rima com a terceira e a quinta; a segunda, com a quarta e a sexta. O exemplo deste gênero está na estrofe do paraibano José Camelo de Meio Rezende: 
 

             O orgulho nasceu em noite escura, 
             E é filho da triste ignorância, 
             Ao descer o seu corpo à sepultura, 
             Cai-lhe verme por cima, em abundância, 
             E seu todo se torna uma figura, 
             Que nos causa a maior repugnância. 

     Depois, como variante, apareceu o Martelo com rimas destacadas, também denominado de Martelo solto ou de Sextilha em decassílabo. O diplomata brasileiro Francisco Otaviano utilizou-se deste gênero para cantar suas "Ilusões da Vida": 
 

             Quem passou pela vida em branca nuvem, 
             Num plácido repouso, adormeceu; 
             Quem não sentiu o trio da desgraça, 
             Passou pela vida e não sofreu: 
             Foi espectro de homem, não foi homem, 
             Só passou pela vida e não viveu. 

     Feitas essas considerações sobre os Martelos de seis versos, mostraremos o estilo atual, variante da Décima, criação do violeiro Silvino Pirauá Lima, conforme estrofe do poeta lira Flores, citada pelo Dr. Ariano Suassuna, num trabalho sobre os cantadores: 
 

             Quando as tripas da terra mal se agitam, 
             E os metais derretidos se confundem, 
             E os escuros diamantes que se fundem, 
             Da cratera ao ar se precipitam. 
             As vulcânicas ondas que vomitam 
             Grossas bagas de ferro incendiado, 
             Em redor, deixam tudo sepultado 
             Só com o som da viola que me ajuda, 
             Treme o sol, treme a terra, o tempo muda, 
             Eu cantando Martelo agalopado. 

     Esse gênero belo e difícil via crucis dos fracos repentistas, é empregado não só nos grandes debates, mas nos trabalhos escritos, em geral. 

 

 

 

10 - Galope à beira-mar:

 

    Gênero muito apreciado pelos apologistas da Poesia Popular que, juntamente com o Martelo, recebeu a denominação de Décima de versos compridos. O Galope é assim chamado em virtude de ser empregado mais em temas praieiros. È constituído de uma estrofe de dez versos de onze sílabas, com o estribilho cuja palavra final é mar. 

     Foi criado pelo violeiro cearense José Pretinho (não o da peleja do cego Aderaldo), filho de Morada Nova, vaqueiro do "coronel" José Ambrósio, falecido em Lavras da Mangabeira. Contam que José Pretinho, após levar uma surra, em Martelo, de Manoel Vieira Machado, cantador piauiense, veio a Fortaleza e, na Praia de Iracema, observou o mar, cujo movimento das ondas se parecia com o galope dos cavalos da fazenda do "coronel" Ambrósio. Criado o estilo, procurou o adversário para a desforra. Deixou-o aniquilado. Mergulhão de Sousa divulgou o gênero por todo o Nordeste. Dimas Batista, cantando no Teatro Santa Isabel, em Recife, improvisou sob aplausos: 

 

Eu cantando a Galope ninguém me humilha, 
Tudo que existe no mar eu aproveito, 
Na ilha, no cabo, península, estreito, 
Estreito, península, no cabo, na ilha, 
Em navio, em proa, em bússola e milha! 
Medindo a distância para viajar, 
Não quero, da rota, jamais me afastar, 
Porque me afastando o destino saí torto; 
Confio em Deus avistar o meu porto, 
Cantando Galope na beira do mar! 

 

 

José Limeira, Poeta do Absurdo, dá-nos exemplo de tremendo disparate: 
 

Conheço, demais, o rio Paraíba, 
Que nasce sozinho, lá dentro da praia! 
Parece um cambito de pau de "cangaia", 
As suas enchentes têm mel de tubiba; 
Na frente, recebe o rio Furiba, 
passa correndo pra Madagascar; 
Alaga Recife, demora em Dacar, 
No tempo de inverno é seco demais: 
Foi quando "Oliveiro" enfrentou Ferrabrás, 
Que luta pai-d'égua na beira do mar! 

 

O violeiro cearense Simplício Pereira da Silva, residente na vila de Barreiras, município de Redenção, criou um estilo interessante de Galope, que ele denominou de "Galope por dentro do mato". Trata-se de um gênero que cuida, exclusivamente, de temas sertanejos. As estrofes abaixo são de sua autoria: 

 

Companheiro, eu do mar não conheço nada, 
Nunca fui à praia e menos ao banho, 
Pois o mar é um lago pra mim tão estranho, 
Que parece até um mistério de fada ... 
Eu gosto bastante é de uma caçada, 
Lá no meu sertão, muito embora que ingrato! 
Pra você não pensar que estou com boato: 
Uma meia hora vamos pelejar. . 
Pegue lá seu peixe por dentro do mar, 
Que vou caçar peba por dentro do mato. 
 

No sertão, à caçada, eu fui certo dia, 
Num mato fechado, bem desconhecido, 
Mas eu, na caçada, fui meio atrevido; 
Chegando no mato, o sol já pendia ... 
Tinha onça por praga, e eu não sabia; 
Saí pisando devagar no sapato; 
Senti um mau cheiro, pensei que era gato. 
Quando vi a onça e a onça me viu: 
E o corpo tremeu e meu rifle caiu... 
Foi carreira feia por dentro do mato! 

 

 

Luciano Maia

Nota do editor do Jornal de Poesia:

Em matéria de Galope na beira do mar, este, de Luciano Maia, é simples esplendoroso. Clique na figura para ver que perfeição.

 

 

11 - Parcela
 

     A Parcela é uma Décima com versos de quatro ou de cinco sílabas, conhecida também pela denominação de Décima de versos curtos. 

     Há cantadores que ainda usam a Parcela para a "Despedida", que costumeiramente é feita no final das apresentações. Coutinho Filho, em Violas e Repentes, apresenta duas estrofes, com quatro sílabas em cada verso, da peleja de Pedra Azul com Manoel da Luz Ventania: 

    

Eu sou judeu 
Para o duelo! 
Cantar Martelo 
Queria eu! 
O pau bateu, 
Subiu poeira! 
Aqui na feira, 
Não fica gente! 
Queima a semente 
Da bananeira! 

 

 

 

Manoel da Luz Ventania revidou-o pelo ataque a Bananeiras, terra de seu nascimento: 

 

Sou bananeira ... 
Do alagadiço! 
Você diz isso 
Por brincadeira! 
Meto a madeira, 
Quebro a viola! 
Só me consola 
Te ver, um dia, 
De vara e guia, 
Pedindo esmola! 

 

     Da peleja de José Félix com o cego Benjamim Mangabeira, recentemente falecido em Fortaleza, colhemos estas Parcelas de cinco sílabas: 

 

J.F.

Sou velho na vida, 
Sou feito na arte… 
De parte a parte, 
Conheço a batida! 
Na trilha seguida, 
Levanta poeira! 
E, na cachoeira, 
As águas descendo, 
E o povo dizendo: 
"Correu, Mangabeira!" 
 

B.M.

Eu dou, tu apanha(s)! 
Eu vou e tu fica(s)! 
Levando tabica 
Por causa da manha! 
Foi tua campanha, 
Caído no porre… 
Eu vivo, tu morre(s)! 
É no K, é no L! 
Conhece, Zé "Fele", 
Mangaba não corre! 

 

     Da imortal peleja de José Pretinho com o cego Aderaldo, escrita pelo genial poeta piauiense, de Parnaíba, Firmino Teixeira do Amaral, registramos estas Parcelas de cinco sílabas: 

 

Cego Aderaldo:

Negro é raiz 
Que apodreceu! 
Casco de judeu, 
Moleque infeliz! 
Vai pra teu país: 
Senão eu te surro, 
Dou-te até de murro! 
Tiro-te o regalo, 
Cara de cavalo, 
Cabeça de burro! 
 

 

Pretinho:

Fale doutro jeito, 
Com melhor agrado, 
Seja delicado, 
Cante mais perfeito: 
Olhe, eu não aceito 
Tanto desespero... 
Cante mais maneiro, 
Com verso capaz, 
Façamos a paz: 
Reparta o dinheiro. 

 

 

 

12 - Quadrões: 

    Ao longo do tempo, o Quadrão tem sido o gênero a receber o maior número de alterações, não só na sua forma interna, mas, também, na estrutura das estrofes, em geral. O Quadrão antigo é formado por uma estância de oito linhas, pertencente à família dos setessílabos, rimando o primeiro verso com o segundo e o terceiro; o quarto com o oitavo, e o quinto com o sexto e o sétimo, contando, no final, o estribilho de sua denominação. Com Lourival Batista, um Quadrão à antiga: 

 

O Cantador repentista, 
Em todo ponto de vista, 
Precisa ser um artista 
De fina imaginação, 
Para dar capricho à arte, 
E ter nome em toda parte, 
Honrando o grande estandarte 
Dos oito pés de Quadrão! 

 

 

     Posteriormente, o Quadrão em oito apareceu com ligeira modificação na sua forma interna, isto é, o quarto verso que rimava somente com o oitavo passou a rimar também com o quinto. Numa homenagem póstuma ao ilustre mestre Lacerda Furtado, transcrevemos um Quadrão no novo estilo, por ele escrito e oferecido ao grande cordelista paraibano Joaquim Batista de Sena: 

 

Namorando a Salomé, 
Vi a barca de Noé, 
Palestrei com Josué, 
Com Jacó e Salomão; 
Travei luta com Sansão, 
Nadei no delta do Nilo, 
Montado num crocodilo, 
Cantando os oito em Quadrão! 

 

 

 

13 - Quadrão trocado: 

    Com versos de doze sílabas, e conservando a mesma ordem das rimas do estilo anterior, criou-se o Quadrão trocado, gênero que exige muita segurança e desembaraço do repentista; apresentando, a partir da terceira linha, palavras que vão se alternando no verso subseqüente. As duas últimas linhas da estrofe formam o estribilho que se encerra com a palavra Quadrão. O repentista Dimas Batista improvisou esta difícil estrofe: 
 

              É no sangue, é no povo, é no tipo, é na raça, 
              É no riso, é no gozo, é no gosto, é na graça, 
              É no pão, é no doce, é no bolo, é na massa: 
              É na massa, é no bolo, é no doce, é no pão; 
              É cruzado, é vintém, é pataca, é tostão, 
              É tostão, é pataca, é vintém, é cruzado; 
              É Quadrão, é Quadrinha, é Quadrilha, é Quadrado, 
              É Quadrado, é Quadrilha, é Quadrinha, é Quadrão. 

 

     Não só na forma, mas na estrutura, o Quadrão sofreu alterações bem acentuadas. Daí, quatro tipos de Quadrões incluídos na Décima; todos com o estribilho na última linha da estrofe. 

     Coutinho Filho apresenta, de Antônio Batista Guedes, sobrinho de Ugolino do Sabugi, dois tipos de Quadrões. O primeiro diferença-se do segundo por ser este dialogado: 


 

              Longe do mar de Netuno, 
              O cocheiro Faetonte 
              Percorria o horizonte 
              No seu coche de tribuno, 
              De Anfitrite e de Juno, 
              Tinha ele a proteção! 
              Apolo, tendo na mão 
              Um livro de poesia, 
              Me ensinou com galhardia 
              Cantar dez pés em Quadrão! 
 

              A.      Júpiter onipotente, 
              B.      Tendo o trono conquistado, 
              A.      Por ter seu pai expulsado, 
              B.      Do céu traiçoeiramente 
              A.      Porque, de reinar somente, 
              B.      Era a sua pretensão! 
              A.      Da maior constelação, 
              B.      Íris, num carro, desceu, 
              A.      E a inspiração me deu 
              B.      Nestes dez pés a Quadrão! 

    

 

O Quadrão dialogado apresenta-se agora, com uma pequena modificação: o último verso deste novo tipo é cantado pelos dialogantes, e não por um só, como no caso anterior. A estrofe que se segue é de um desafio dos cantadores cearenses Simplício Pereira da Silva e Manoel Furtado, quando dialogavam, fazendo referências a um sapo que penetrava no salão, onde contavam: 
 

S.P.  Colega, lá vem um sapo, 
M.F. Ou por outra, um cururu! 
S.P.  Não vem vestido nem nu, 
M.F. Porém vem batendo o papo! 
S.P.  Eu, nele, dou um sopapo! 
M.F. Boto fora do salão ... 
S.P.  Pego, nele, com a mão; 
M.F. Depois rebolo no mato ... 
S.P.  O guaxinim come o fato, 
S.P. e M.F. Lá se vai dez a Quadrão! 

    

Há pouco, os irmãos Batista criaram este gênero de Quadrão em dez, que se diferença do estilo anterior, apenas por ser constituído de perguntas e respostas, o que vem a exigir grande parcela de esforço e de dom poético: cada pergunta deve ser respondida com inteligência e segurança, para o bom êxito da estrofe. Imaginemos dois cantadores (A e B), num duelo cerrado: 
 

 A. Para que serve a ciência? 
 B. Para evoluir o mundo. 
 A. Para que serve um segundo? 
 B. Para aumentar a existência. 
 A. Para que serve a seqüência? 
 B. Pra dar continuação. 
 A. Pra que serviu Lampião? 
 B. Pra dar trabalho a soldado, 
 A. Naquele tempo passado... 
 A e B. Lá se vai dez a Quadrão! 

 


14 - Gabinete:

 

     Gênero que foi muito apreciado pelo imortal cego Aderaldo, porém de pouco uso atualmente. É cantado em versos de sete sílabas, sem número de linhas determinado, e com estribilhos nas linhas: sete, oito, nove, dez e nas duas últimas. Otacílio Batista exemplifica: 
 

O povo deseja ouvir 
Um Gabinete bonito; 
Poeta, só acredito 
Se você não me mentir. 
Trate de se prevenir 
Para poder cantar bem 
Eu comprei um cartão 
Para viajar no trem: 
Sem cartão ninguém vai, 
Sem cartão ninguém vem! 
Vai e vem, vem e vai, 
Vem e vai, vai e vem. 
Quem não tem o que eu tenho, 
Morre danado e não tem! 
Quem estiver com inveja, 
Se esforce e faça também ... 
Cavalo bom é ginete; 
Quem não canta Gabinete, 
Não é cantor pra ninguém! 

    

 O violeiro cearense, Alberto Porfírio, criou um estilo de Gabinete mais interessante e simplificado: o Cantador faz uma Quadra, em seguida, seis versos de onze sílabas, com rimas que se casam (rimas iguais), desenvolvendo, nestes, o tema da Quadra. Para finalizar, faz três versos de sete sílabas, rimando o primeiro com a  estribilho (Quem não canta Gabinete), e o terceiro com os versos da Sextilha. O exemplo abaixo é do próprio criador do estilo:

 

           Quem é forte não se gaba, 
           Não se altera nem se agita, 
           Mas qualquer homem se acaba 
           Por uma mulher bonita! 
 

           Amei uma jovem que me queria bem, 
           Eu gostava dela mais do que ninguém; 
           Chegou lá um cabra mexendo xerém, 
           Mas eu tendo raiva, não temo a quem vem! 
           De faca e de bala, eu brigo com cem... 
           Quebramos cadeira, víramos um trem! 
 

           Resolvi foi no cacete; 
           Quem não canta Gabinete, 
           Não se diz que canta bem. 
 

 

 

 

15 - Toada alagoana: 

 

     É um gênero pouco usado, porém muito bonito, em virtude das rimas encadeadas e da agradável toada. Sirvo-me de uma estrofe de Otacílio Batista, companheiro de trabalho, para mostrar este gênero: 
 

Vai Otacílio Batista, 
Repentista, 
Neste momento tão forte, 
Num estilo diferente, 
No repente, 
Correndo em busca da sorte... 
Em noite de lua cheia, 
Sou a sereia 
Dos oceanos do norte!

 

Ao lado da toada alagoana, existe o Martelo alagoano, cuja diferença do Martelo agalopado está na toada, que é um pouco mais lenta, bem como no estribilho, que apresenta no final das estrofes com a palavra de sua denominação. 
 

 


16 - Meia quadra: 


     Entre as modalidades mais difíceis da Poesia popular, está a Meia Quadra, estilo que apresenta estrofes com número de versos não determinados, e com quatro linhas iguais na parte final: 
 

Quando eu disser vida e meia, 
Você diga meia vida; 
Quando eu disser ida e meia, 
Você diga meia ida, 
Quando eu disser lida e meia, 
Você diga meia lida. 
Diga coração e meio. 
Se eu disser meio coração; 
Se eu disser meia baleia, 
Você diga meio cação, 
Se eu disser meio cação, 
Você diga meia baleia; 
Quando eu disser Meia Quadra, 
Você diz que é Quadra e Meia, 
Quando eu disser Quadra e Meia, 
Você diz que é Meio Quadrão! 

 

 

 

17 - Dez pés de queixo caído: 


     Este gênero, ainda em voga, está incluído na Décima, apresentando, no final de cada estrofe, este estribilho: "NOS DEZ DE QUEIXO CAÍDO": 
 

É tão grande o meu valor, 
Que o mundo todo o conhece; 
A poesia se oferece... 
Eu, dela, sou professor! 
Eu não temo a Cantador 
Por mais que seja sabido! 
Faz tempo que não divido 
O que tenho com ninguém: 
Assim vou passando bem 
Nos Dez de Queixo Caído! 

 



18 - Gemedeira: 
 

 

     Pela própria denominação do gênero, vemos que serve para temas gracejantes. É a Gemedeira um estilo de poesia, caracterizado pela interposição de verso de quatro, ou, raramente, de duas sílabas, entre a quinta e a sexta linhas da Sextilha, formado pelas interjeições: "ai! e ui! ou ai! e hum!" Após cantar outros estilos com José 
Soares do Nascimento, Severino Pinto mudou para Gemedeira: 
 

Cantei Mourão a Galope, 
Versejando como entendo! 
Vou passar pra Gemedeira, 
Como me pedem, eu atendo! 
Há pouco, cantei me rindo. 
Ai! ai! ui! ui! 
Agora canto gemendo! 

    

 

Com a supressão de "ui! ui!", teremos o sexto verso com duas sílabas, conforme estrofe de José Soares do  Nascimento: 

 

 

Sem querer tirar nem pôr, 
Você chora e eu também! 
Como nos falta dinheiro, 
Tira-se, aqui, de quem tem! 
Choro de Cantador liso... 
Ai! ai! 
Não se oculta de ninguém! 

 

 

Dissemos, no início deste capítulo, que trinta e seis eram os estilos da Poesia Popular. É bem verdade que não descrevemos esse total, pois achamos melhor estudar aqueles ainda em uso, com maior ou menor intensidade. Todavia, considerando seus grandes empregos no passado, faremos um ligeiro estudo sobre a Quadra e sobre a Ligeira. 

 

 

 

19 - Quadra:

 

 

     Definitivamente retirada da área do improviso, a Quadra é constituída de uma estrofe de quatro versos, que podem ser de sete ou de dez sílabas. Todavia, iremos apresentar mais a sete sílabas, por ser a melhor a se enquadrar na temática deste livro.

 

     Quadra simples: Na quadra simples, somente as linhas pares são rimadas, permanecendo as demais em versos brancos.

 

      Doutor Manuelito Eduardo Campos, em sua desabusada obra Cantador, Musa e Viola, traz esta quadra de origem latina (Séc. XIII), mas que ele atribui a José Matos, cearense do Cariri:

 

                    No seio da virgem pura

                    Entrou a Divina Graça

                    Como entrou, assim saiu

                    Qual o sol pela vidraça!

 

 

     Quadra oposta: Tem a denominação acima, em virtude de o primeiro verso rimar com o último. O segundo e o terceiro foram a chamada rima paralela:

 

                     Quem ama moça solteira

                     De Deus, terá perdão:

                     Porque nosso pai Adão

                     Teve sua companheira!

 

       Quadra cruzada: O jovem trovador cearense e jornalista gabaritado, César Coelho é o autor destas belíssimas Quadras, que nos escrevemos com satisfação:

 

                   Coisa linda é madrugada, 
                   Com luar pelo terreiro, 
                   Viola em beira de estrada, 
                   Cantiga de violeiro. 
 

                   Quero a paz do teu carinho, 
                   Mil cantigas de viola, 
                   Quero ouvir um passarinho, 
                   Que não seja na gaiola ... 

 

       Quadra persa: É assim denominada por ser de criação dos poetas persas. Nela, riam-se as linhas 1ª, 2ª e 4ª. A 3ª constituída de um verso branco.

 

        O brilhante a respeitável mestre, Rebouças Macambira, dá-nos este exemplo ao traduzir o poema Rubayat, do imortal Omar Khayan:

 

                    Desperta que a rabugenta madrugada

                    Do céu espanta a noite constelada

                    E sol envolve a torre da mesquita

                    Em feixe de luz avermelhada.

 

 

20 - Ligeira: 

 

    Como a Quadra, a Ligeira está afastada totalmente do terreno do improviso. Sua denominação vem do fato de ser cantada com a maior rapidez possível. O Cantador fazia versos de sete sílabas, com rimas obrigatórias para os de ordem par, e sem número de linhas determinado. 

 

     No capítulo anterior, temos um exemplo de Ligeira, na saudação do poeta Manoel Bandeira aos violeiros do Nordeste. Finalizando o estudo sobre os gêneros principais da Poesia Popular, confessamos que o fizemos com o propósito de prestar, aos amantes da nossa "Poesia Bárbara", certos esclarecimentos que há tempos eram esperados.