Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

Diogo Fontenelle

diogofontenelle@uol.com.br

Thomas Colle,  The Return, 1837

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Poesia:

Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna: 


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Ruth, by Francesco Hayez

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), L'Innocence

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!  

Diogo fontenelle
 

 

 

 

 

 

Quixeramobim em fotolembrança

 

 

O nascer da morte

no começo do dia.

Casa de Antonio Conselheiro

Berço do Conselheiro,

Barco do Fausto Nilo,

Casarão de cancioneiro,

Sonho que tamborilo.

 

Museu de Jorge Simão

Vale de mistério, veio de paixão,

Vela do tempo, voz de Jorge Simão.

 

Capela do Cemitério

Nave-cilindro,

Navio celeste,

Doce melindro,

Canção do agreste.

 

Barragem

Barragem de lendas, luar de anil,

Águas verdes, canção de pastoril,

Pedras douradas, sopro de abril.

 

Casa de Câmara Guidinha do poço,

Marica Lessa,

Acorde em festa, viaje sem pressa.

 

Casa da Câmara, teu sonho não cessa.

Prefeitura Sobrado secular,

Solar de nobreza,

Solfeje a paz do sabiá

Em sonho azul-turqueza.

 

Matriz

Dobram os sinos da matriz,

Santo Antônio está em festa,

Descem os anjos em seresta:

Quixeramobim dorme feliz.

 

Estação de trem

Estaçãozinha de cor branca e rosa,

Não aperte meu peito assim,

Não apresse meu coração de querubim,

Faz de mim teu amante em verso e prosa.

 

Hospital do Boqueirão

São Nicolau, nosso guia e pastor,

Vele o hospital no Alto do Boqueirão,

Seja julho ou Natal, sempre o mesmo amor,

Pelos enfermos de qualquer cor e devoção.

 

Quixeramobim Club

Quixeramobim Club do luar de junho,

Das manhãs de maio, das tardes de setembro.

Olhares perdidos, sonho testemunho,

Primeiro beijo, baile de dezembro.

 

 

 

     

 

   
Elizabeth Marinheiro

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Maria Helena Nery Garcez

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

John William Godward (British, 1861-1922), Belleza Pompeiana, detail

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Riviere Briton, 1840-1920, UK, Una e o leão

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Winterhalter Franz Xavier, Alemanha, Florinda

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

 
 

Diogo Fontenelle,

um pequeno bloco de infâncias

 

 

A CUMPLICIDADE POESIA/INFÂNCIA

                                                                           

Na perspectiva de Voltaire, a Poesia é a musica das grandes almas, o que nos remete a conceber a criação poética na dimensão de um fazer literário diferenciado e tecido à luz de uma originalidade ímpar que pressupõe um pacto com o milagre da beleza da forma e a capacidade do poeta em resignificar a vida cotidiana, ao emprestar cores, musicalidades, ritmos, perfumes, sonho e sangue ao exercício do viver.

Neste sentido, torna-se consistente a noção de que o fenômeno poético estabelece-se muito mais comprometido com a esfera emocional do que com a intelectual em sua busca pela recriação da vida em planos profundos e sutis do psiquismo humano, do sensorial e do espiritual. Avançando nesta reflexão, é oportuno observar que o fazer poético parece estar sempre a refletir o pensar e o sentir das civilizações, mediante filosofias, ciências, credos, valores artísticos, imaginários e saberes populares, ao longo do processo histórico da espécie humana. Deste modo, é possível indagar: O que sobrou da Mesopotâmia (Suméria, Babilônia e Assíria), senão a Epopéia de Gilgamesh? O que sobrou do império português dos séculos XV e XVI com seus grandes descobrimentos, senão Os Lusíadas de Camões? O que sobrou do ouro e da cana-de-açúcar do Brasil escravocrata, senão O Navio Negreiro de Castro Alves? 

Portanto, a Poesia - em meio ao seu mistério insondável processado em sua lógica do não lógico – parece associar-se de modo profundo e íntimo à condição infantil do homem que percebe-se frágil e impotente ante o universo dito adulto e apela para a Infância e a Poesia como forma derradeira de sobrevivência às negações de um viver cinzento e mesquinho preso a aparências quase sempre cruéis e desumanas. Resta-me apenas lembrar o poeta alemão Schiller que tão bem percebeu a cumplicidade Poesia/Infância: A Poesia é a Infância que permanece em nós.
 

 

 

 

Bola de gude

 

 

Bila que corre pelos becos,

Luz de vidro que escorre pela vida...


 

 

 

 

Baila balão

 

 

Baila balão de São João

Entre nuvens de junho

E sonhos de algodão!

 


 

 


 

Bumba meu boi 

                                               

Boizinho de fitas e rendas,

Quem teceu tuas doces lendas?

Boizinho de compasso junino,

Quem desfia teu sonho menino?

 

 

 

 


                      

O Natal no sertão

 

 

A lua a pratear as terras agrestes,

A estrela guia com seu canto de cordel,

Os meninos a cavalgar sonhos azuis celestes...

É o Natal sem neve nem Noel,

O Natal da oração mais singela,

O Natal rural de luz mais bela!

 


 

 


 

Pastoril

                                                         

Vieram as pastoras em seus cordões,

Tangidas pela noite em nuvens de prata.

Veio a menina feita borboleta em canções,                            

Veio Diana, a loira pastora, em sua fragata,

Veio a Cigana em seu camelo de sonhos e predições,

Veio o Velho cavalgando sua Infância acrobata,

Veio o Menino Jesus remando o mundo com rimas de luz...

Era Natal pelos sertões, o Pastoril tingindo os corações.

 

 

 

 

O camelô das ruas

 

Os cavalinhos do carrossel

Presos por fios de ouro

Descem ao mar e sobem ao céu

Carregando os meninos louros

Vestidos de helenos

E os meninos morenos

Vestidos de mouros.


 

 

 

Bonequinha de pano

                                         

Quem viu Elvira?

Quem ouviu Olívia?

Elvira de seda,

Olívia de sonho.
 

 

 

 

O  patinete

                                      

                              Para Oscar Bezerra Junior

 

 

O menino louro do patinete

Vai pela rua com seus sete anos

E pelo Tibete com seus sete arcanos

Voando como valete, sonhando como grumete.

 


 

 

 

 

Mamulengo

 

O palhacinho que pula pelo cordel do céu

E a girafa que dança pelo cordão do coração

Não são lembranças!

Talvez tranças de um longo carretel...

 

 
 

 

 

O   telefonema

 

Tem um telefonema solto na escuridão!

É a voz da finada criança que morou dentro de mim,

Às vezes ela lembra de me telefonar...

Conta-me que está morando num farol de chocolate,

Que já encontrou o tesouro dos piratas

E que tem muita pena de mim...

 

 
 

 

 

A criança que não foi ao circo 

 

 

Que alguém conte depressa uma história marinha

Para a criança que não foi ao circo.

Que soprem depressa o cântico dos dragões do fundo do mar

Para a criança que não foi ao circo.

Que dancem depressa o borboletar dos cavalos marinhos

Para a criança que não foi ao circo.

Que enviem depressa uma carta do Príncipe das Águas

Para a criança que não foi ao circo.

Que chegue depressa uma carta de alegria para a criança triste!

Antes que o mar desperte

Antes que o circo se cale

Antes que a Infância seque...

 

 

 

 

 

Marrocos menino

                                                         

Infante Andaluz que navegava pela manhã do Islã,

Os minaretes do Sete-Estrelo guiam teu veleiro,

As açucenas da noite velam teus canteiros do Amanhã,

E os sinos do sonho inauguram teu destino marinheiro.

 

 

 

 

 

A  volta do circo

 

O Circo voltará um dia...

Ou talvez numa noite de sono profundo,

Em sonhos de damasco,

Entre os sinos de Belém e as dores do mundo...

O Circo voltará um dia...

Ou talvez numa lembrança perdida de criança,

Em suspiros de triste palhaço,

Entre as ânsias do coração sem espaço...

 

O Circo voltará um dia...

Em tempo de estio e manhã fria,

Sem flores nem tambores...

 

 

 

 

 

Lamento ao vento 

 

 

                             Para Miriam Carlos,

                             A mestra que não esqueceu de ser menina.

 

                                                      

A Infância passou pelos moinhos de sombras dos meus olhos tristonhos

Em rendilhas e arabescos de luz pelos telhados do antigo casarão...

Eu fui à Espanha buscar o meu chapéu azul e branco de sonhos!...

Era uma vez um menino marujo preso numa bolha dourada de sabão,

Era uma vez um soldadinho de chumbo em marcha pelo caderno escolar,

Era uma vez um pequeno flautista a dançar pelos jardins de abril,

Era uma vez um carrossel de lata a voejar pelo céu anil de Calcutá,

Era uma vez uma doce e distante canção de ninar para um órfão febril,

Era uma vez um circo oriental a tilintar por um domingo em prece,

Era uma vez uma Noite de Natal esquecida num livro de poesia,

Era uma vez uma aventura a escorrer por um folhetim de quermesse,

Era uma vez uma tarde bordada por fios de sol numa praia em sinfonia,

Era uma vez um grão-vizir de Alexandria a velejar um barquinho de papel,

Era uma vez o Pirata dos Tempos que roubou a arca da minha Infância...

Ergueu muralhas de solidão pelos marulhos do meu peito menestrel,

E vestiu-me de gente grande a inundar meu coração com infinita ânsia...

 

 

 
 
 

 

 

 
Xenia Antunes

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Edna Menezes