Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Dércio Braúna

derciobrauna@bol.com.br


 

Poesia:


Fortuna: 

 



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Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Herbert Draper (British, 1864-1920), A water baby

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Caravagio, Tentação de São Tomé, detalhe

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova, detail

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

 
 

Dércio Braúna
 

 

 

METAFÍSICA PELOS DENTES

[In Metal sem Húmus]

 

 

Arrasto a dentes

esses meus dias pelo mundo.

 

É com eles,

    com sua inabalável verdade,

    que considero a medida de minha fé.

 

Só conheço esse deus

                   (e seu canto calcário);

o resto é essa lúcida alegria

de saber que tudo é inútil

e, ainda assim, seguir gritando

esta necessidade

de humanidade

entre nós

que como lâmina

nos fere

e urra

estrondosamente.*

 

 

         (*) WEBSTON MOURA in Encontros imprecisos: insinuações poéticas)

 

 

 

 

 

PELA CARIDADE DE SUAS MÃOS E DENTES

[In Metal sem Húmus]

 

É o mais certo amor

o que temos pela rudeza das coisas.

 

O bicho que se milagrou homem

(pela caridade de suas mãos e dentes),

que pariu um deus

com gravetos e pedras

(para depois apedrejá-lo):

       

                      esse bicho talha sem descanso

                      dentro da coisa milagrada.

 

 

 

 

 

 

 

OS POETAS ESTÃO MORTOS

[In O Pensador do Jardim dos Ossos]

 

 

Disseram que os poetas estavam mortos.

E estão.

 

Mas há de ter fome

                   tua boca

e no quintal há ervas e fruto-bom;

                            tu comerás.

 

          E quando tua língua

         der a eles um sincero gosto

         e sob o sol

tu fores um operário saciado

              ou um camponês farto

              ou um déspota sentado à mesa

              ou um sexagenário ortopédico

é que já os mortos reviveram.

 

                       E não me digas que não!

      

                       Os poetas podem ser erva

                       e fruto-bom;

                       só não podem ser silêncio –

                       e são um canto dentro dele.

 

 

 


 

 

 


 

OFÍCIO PROFANO

[In O Pensador do Jardim dos Ossos]

 

 

I.

Cabe ao poeta repartir

o poema

entre o prato

e o coração do homem.

 

Cabe a ele fabricar

o poema-libertário do povo (uma multidão)

com as palavras-operárias da língua.

 

Assim como lhe cabe,

de mesma feita,

negar a mísera exuberância

dos intelectuais eunucos,

das academias,

dos estetas unissexuados.

 

Deve o poeta,

na imundície erótica das oficinas,

soldar,

             palavra a palavra,

o poema,

                em espasmos

                espermas

                                  vaginas

                                  virilhas

                                  vigílias.

 

Sua escrita

será seu pão e sua bomba,

será flores num inverno glacial,

e feto

          (esse excreto-educador)

           nos laboratórios de inseminação.

 

Será captada

nos textos do Nobel luso

como um peixe agitando-se,

e que de súbito

se escapa gritando;*

escorrerá pelas costas dos carvoeiros –

há de ser tisna sob suas unhas.

 

O seu povo (uma multidão)

terá a cor que ele quiser,

os deuses que ele quiser.

 

Mas será livre esse povo (essa multidão)?

terá idosos?

morrerá de câncer

ou de desgosto?

haverá bomba?

(atômica ou biológica?)

terá lógica essa bomba?

 

Será uma economia estável?

um Estado independente?

produzirá tanques

esse povo (uma – muitas multidões!)?

cultivará rosas?

                  de que cor?

                  de que metal?

 

Haverá macacos?

cachorros? gatos?

comunistas?

capitalistas?

ambivalentes?

        quem povoará o domingo

    de crianças e parques?

de crentes e dejetos?

 

É senão ao poeta que cabe

eviscerar a língua,

alimentá-la de todas as fomes,

depravá-la,

despudoradamente possuí-la,

tingi-la,

perfumá-la lírica,

enobrecê-la,

fodê-la,

             e se lhe aprouver,

amassá-la,

             jogá-la no cesto de lixo

             junto com o jornal de ontem

      e o preservativo da noite passada.

 

 

II.

E o poeta é este homem que somos,

   a dor e o gozo,

   a substância e a matéria que somos,

                                              mais nada.

 

Ir pela vida a usar de palavras

é que vamos;

outros há a irem no uso do que têm.

 

(*) JOSÉ SARAMAGO in O Evangelho segundo Jesus Cristo)

 

 

 


 

O QUE HEMOS

[In A Selvagem Língua do Coração das Coisas]

 

 

Não nos demoremos na imitação

de um tempo antigo,

cantemos porém o que não

nos é dado,

 

o que a vida leva sua brevidade

em preparar na carne difícil

das coisas e dos homens,

 

inda que a ir já estejamos, pelo pés

                                          que temos,

a pisar do chão

                        senão

                        seu morto rés –

 

eis o que hemos.

 


 

 

 

 
 

 

 

 
Elizabeth Marinheiro

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Edna Menezes

 

 

 

 

 

 

 

 

30.8.2009